Os professores da rede estadual do Paraná não gostaram da nova distribuição de aulas. Para fechar a carga horária e ter uma renda razoável, alguns terão que se desdobrar para lecionar em cinco colégios diferentes. Quanta reclamação! Onde eles acham que estão? Na Europa?
Fato 1: o Brasil é o país com pior desempenho no ranking de exclusividade de docentes no ensino fundamental. Apenas 40% trabalham em uma única escola, segundo a Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizado (Talis, na sigla em inglês) da OCDE.
Fato 2: ao se desdobrar em mais de uma escola, o docente tem perda de produtividade e não consegue lecionar com a mesma qualidade do que aquele com dedicação exclusiva.
O Paraná muitas vezes se gabou de ofertar educação de melhor qualidade do que no resto do país. Agora, com um software poderoso sabe-tudo, que divide a carga horária dos professores com base em uma burrice artificial, o Paraná se prepara para derrubar de vez os índices de aprendizado na rede estadual.
A Talis foi publicada em 2013 e mostra que, na média mundial, 82% dos professores têm dedicação exclusiva no ensino fundamental. O dobro do que no Brasil!
Essa diferença pode ser observada a cada vez que é publicado o resultado de um teste internacional, como o Pisa. Há uma série de fatores que prejudicam o ensino no Brasil (baixa remuneração, por exemplo), mas a questão da dedicação do professor é fundamental.
Quando o Talis foi divulgado, a gerente da área técnica do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, declarou ao jornal O Globo: “Seria infinitamente melhor se [o professor] pudesse receber um bom salário para atuar em apenas uma escola. Teria mais tempo para planejar atividades e vínculos ainda mais fortes com os alunos”.
Gabriela Moriconi, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, analisou os dados da OCDE e investigou soluções adotadas por outros países para lidar com indisciplina escolar. Constatou que há mais ordem quando há dedicação exclusiva dos professores. “Quanto mais os profissionais convivem, mais se fortalecem”, declarou, segundo reportagem da Carta Educação.
As pesquisas acadêmicas sobre o tema costumam todas apontar para este caminho. Há uma interessante analisando algumas escolas de destaque no Ceará. O Ceará é o estado que mais rápido superou as próprias metas do Ideb, e tem muita coisa a ensinar. Não que o Ideb reflita fielmente a qualidade do ensino, mas o resultado é estarrecedor: as 24 melhores escolas do ensino fundamental do Brasil estão no Ceará.
O estado também é destaque no ensino médio. O artigo “Dez escolas, dois padrões de qualidade. Uma pesquisa em dez escolas públicas de ensino médio do estado do Ceará” analisou instituições de acordo com o desempenho no Enem. Nas escolas com maior nota, a maioria dos professores têm dedicação exclusiva.
“E isso em tempo integral, o que traz uma série de consequências, desde o tempo de dedicação ao ensino, o tempo de planejamento e preparo das aulas, o conhecimento e o entrosamento com os alunos e, surpreendentemente, um acúmulo de trabalho e um aumento da responsabilidade”, diz o artigo. Sim, acúmulo de trabalho, o que resulta em sucesso de aprendizagem.
É assim: os mesmos professores estão juntos o tempo todo com os alunos, fazem refeições junto, trocam conhecimento em vários momentos, não só em sala de aula. Os professores se sentem mais responsáveis pelos alunos e estes, mais próximos dos tutores.
Punição
Não sei qual o índice de dedicação exclusiva do Paraná, mas o ideal é que o governo perseguisse a meta de 100%, em vez de ficar punindo os professores. Recentemente, a Agência Estadual de Notícias divulgou outro texto de desrespeito total aos educadores: “Professores da rede pública têm mais benefícios do que os da rede particular”. O governo poderia publicar também um texto dizendo: “Copeiros da rede pública têm mais benefícios”; “Motoristas da rede pública têm mais benefícios”; e por assim vai. Com a observação de que educação é obrigação do Estado, e há a lei do piso nacional que tenta evitar a desmoralização total do salário do professor.
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