A universidade é um lugar fantástico. Principalmente nas instituições públicas, reúne todo tipo de gente, dos mais pobres aos mais ricos, dos mais hippies às patricinhas, dos mais empenhados aos preguiçosos. É uma espécie de mundo em miniatura, onde estudantes e professores exploram as diferentes áreas do conhecimento, estudando o que já foi feito e propondo novos caminhos para os desafios que se colocam. Essa é uma visão um pouco idealista, mas é o que se espera de um centro irradiador de conhecimento. Por isso as pessoas se chocaram ao saber que o governo estadual cortou pela metade a verba de custeio das universidades estaduais.
O plano de governo de Beto Richa contém 44 menções às universidades. No papel, elas têm uma "grande responsabilidade" no projeto de desenvolvimento para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Para tanto, o governador se propôs a "definir com as universidades estaduais um plano bilateral de objetivos e metas atrelado à contínua promoção da autonomia científica, administrativa e financeira, com ampla prestação de contas a toda a sociedade". Para ter autonomia financeira, as instituições precisam, no mínimo, saber quanto vão receber ao longo do ano. Mas, neste início de 2012, foram surpreendidas com um corte significativo nas verbas repassadas.
Conforme dados do site Gestão do Dinheiro Público, a redução gira em torno de 60%. Foram prejudicadas as universidades estaduais de Londrina (UEL), Maringá (UEM), Ponta Grossa (UEPG), do Oeste do Paraná (Unioeste), do Norte do Paraná (UENP) e do Centro-Oeste (Unicentro). Juntas, elas receberam R$ 124,3 milhões no primeiro bimestre de 2011. Agora, em 2012, o dinheiro repassado caiu para R$ 45,3 milhões.
Os dados mostram que os cortes maiores atingiram a UEL e a UENP, com uma tesourada que chegou a 96%. Mal dá para acreditar. Como seria possível manter qualquer estrutura com uma redução tão drástica como essa? Os dados são todos do site Gestão do Dinheiro Público e têm caráter oficial.
O governo estadual justificou-se dizendo que era preciso fazer ajustes no dinheiro repassado, mas já se comprometeu a normalizar a situação e a retomar os repasses nos patamares dos anos anteriores. Se o governo tem desconfianças sobre o destino da verba, precisa investigar e comunicar as instituições envolvidas. Mas não pode simplesmente fechar a torneira e cortar a verba de um dia para outro. Desse jeito, a tão falada autonomia universitária parece um sonho distante.
Sempre é bom rever repasses de dinheiro e analisar se há desperdício. Mas parece difícil de acreditar que o orçamento das universidades estivesse supervalorizado. Entre janeiro e fevereiro de 2011, a UEL recebeu R$ 28,4 milhões. Como são 17.976 discentes, a proporção foi equivalente a R$ 1.581,67 por aluno o número serve apenas para ilustrar a situação, e não é um cálculo formal de quanto deve ou não ser aplicado. Não parece ser muito, não é?
No mesmo período, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, teve R$ 109,2 milhões em despesas liquidadas, ou uma proporção de R$ 4.299,83 por aluno. Pois bem. Agora, em 2012, a UEL recebeu o equivalente a R$ 66,02 por estudante. A UEM não sofreu um corte tão grande, mas o repasse no primeiro bimestre de 2011 correspondeu a R$ 1.854,23 por aluno. Neste ano, caiu para R$ 972,11.
Repetindo: se há desconfianças, é preciso averiguar. Mas não dá para fazer um corte de despesas desse vulto antes de confirmadas as suspeitas.
Os sindicatos podem ter motivações políticas quando sentam para negociar com determinados governos. Mas, quando o Executivo toma uma atitude tão drástica, dá margem para ser contestado. Ainda mais depois de ter criado expectativas tão grandes, dizendo que as universidades seriam peça-chave no desenvolvimento do Paraná. Mas elas não podem ser protagonistas se tiverem de ficar andando por aí com o pires na mão.