Ao ser chamada de saudosista por um leitor por causa do texto da semana passada – a respeito do zoneamento de Curitiba --, assumi a defensiva. Na conversa que tivemos por e-mail, reiterei que, no que tange a mudanças urbanas, sou adepta das inovações, desde que bem feitas. Mas, afinal, ser saudosista é um defeito? No que se refere ao urbanismo, não. Pelo menos é o que sugere um estudo da Fundação Nacional para a Preservação da História dos Estados Unidos.

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O assunto já foi abordado pela Gazeta do Povo na edição de 1º de junho. O estudo, intitulado Older, smaller, better (Mais velho, menor, melhor) mostra que "bairros e áreas comerciais que mesclam edifícios antigos e pequenos contribuem para que haja comunidades mais vibrantes, mais convidativas para passeios, com mais negócios, vida noturna e centros comerciais do que os enormes edifícios novos" diz a reportagem.

Essa percepção não é nova; já aparecia em 1961 no livro fundamental Morte e Vida de Grandes Cidades, de Jane Jacobs. Mas a pesquisa Older, smaller, better quis justamente analisar se os preceitos dela ainda eram válidos para o século 21. Para isso, uma equipe analisou as cidades de São Francisco, Seattle e Washington e correlacionou o perfil e idade de todos os prédios, novos e antigos, com cerca de 40 indicadores socioeconômicos.

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Em termos gerais, o estudo conclui que: - Em Seattle e São Francisco, os quarteirões que têm um misto de prédios antigos e menores têm índices de caminhadas e trânsito melhores do que as vizinhanças com edifícios grandes e novos. Esses índices medem o quanto as pessoas precisam caminhar para ter acesso a serviços como cafés e mercearias, além da oferta de transporte público.

- Nas três cidades, a idade média dos moradores dos quarteirões mistos é menor do que nas áreas predominantemente novas.

- A vida noturna é mais ativa nos quarteirões mistos;

- Os imóveis mais antigos e os pequenos são uma oportunidade para empreendedores, além de concentrarem maior índice de atividades criativas;

- As ruas com perfil misto reúnem um maior número de comerciantes locais – isto é, estabelecimentos que não são vinculados a grandes redes – e têm uma grande proporção de empregos em pequenos negócios;

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- A densidade populacional e empresarial é maior nas ruas com perfil misto.

Sugestões

Com base nos achados – o estudo completo tem quase 200 páginas –, a equipe da Fundação Nacional para a Preservação dos EUA faz algumas sugestões para as demais cidades. Resumidamente, são as seguintes:

- Perceba a eficiência de antigos prédios e quarteirões. Ainda que muitos prédios antigos não disponham de vagas de garagem, isso pode se tornar uma vantagem em termos de preço, além de estarem inseridos em um novo modelo de economia compartilhada – usos comuns de bicicletas, carros e as caronas facilitadas pelos aplicativos de celular.

- Reúna o novo e o velho em uma escala humana.

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- Apoie a evolução da comunidade, não a revolução. Os melhores índices são obtidos em regiões onde as mudanças ocorreram gradualmente – alterações bruscas não são indicadas.

- Gerencie o legado da era dos bondes. Mesmo nas cidades que não tiveram bondes, o recado do estudo norte-americano é o seguinte: as vias pioneiras do comércio local são um bom local para fomentar o uso misto de edifícios novos e antigos.

- Abra espaço para as novidades e para a economia local. Muitas start-ups tecnológicas se mudam para escritórios pequenos em prédios antigos, pois não precisam de muito espaço ou não podem arcar com altos custos dos escritórios novos. Isso também é um atrativo para os pequenos comerciantes, o que, por sua vez, traz vantagens adicionais à comunidade: o dinheiro dos negócios vai girar no próprio local, em vez de ser remetido à sede de uma grande empresa.

- Facilite a reutilização de pequenos edifícios. Muitas vezes isso vai exigir mudanças na legislação ou incentivos financeiros, mas é o melhor caminho para evitar prédios subutilizados ou vazios em áreas com grande potencial comercial e residencial.

Com base nesse estudo (disponível em inglês em http://bit.ly/1ooK7QV), não é exagero dizer que o saudosismo bem dosado é apenas bom senso. Claro que, para fechar a equação, precisamos ter ainda a inovação urbanística bem dosada.

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