Tal qual a expressão que diz que cada brasileiro é um técnico da seleção de futebol, seria possível dizer que cada morador de Curitiba é um planejador urbano em potencial? É um exagero, mas, se juntarmos todas as ideias que cada um de nós tem para melhorar a mobilidade – geralmente formuladas quando estamos presos no engarrafamento –, teríamos uma enciclopédia.

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Obviamente, muitas das mirabolantes soluções que criamos mentalmente não são viáveis. Mas há algumas propostas simples, que saltam aos olhos de muitos e que, mesmo assim, não são aplicadas pela nossa "Sorbonne do Juvevê" – apelido carinhoso do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).

Aqui vão alguns exemplos de propostas, inspiradas em situações recentes ocorridas na capital paranaense:

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1) As mudanças aplicadas no gerenciamento dos espaços públicos, como o Estacionamento Regulamentado (EstaR) precisam facilitar a vida dos usuários, e nunca dificultar.

Aparentemente, alguns agentes públicos não compreendem o conceito de facilitar a vida do cidadão.

A prefeitura de Curitiba assinou um convênio com a Caixa e passou a concentrar a venda dos talões de EstaR apenas em casas lotéricas. Antes, eles eram vendidos pelos agentes de trânsito, em bancas de revista e outros tipos de comércio. É de se perguntar de onde surgiu a brilhante ideia de restringir os pontos de venda dos talões. Além de haver poucas lotéricas proporcionalmente ao número de vagas de EstaR, esses pontos comerciais geralmente têm muitas filas e, infelizmente, são alvos de assaltos.

2) Qualquer tipo de marcha, parada ou evento com potencial para mobilizar milhões de pessoas só pode ocorrer aos domingos ou sábados à noite.

Seria muito difícil instituir essa regra?

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A Marcha para Jesus, que no sábado passado reuniu cerca de 300 mil pessoas no Centro da cidade, segundo os organizadores, prejudicou a mobilidade de milhares de pessoas. Não é possível compreender como a prefeitura libera a realização de um ato deste porte em plena manhã de sábado, quando todo o comércio está aberto e a movimentação na região central é grande. No entorno da Praça Santos Andrade e nas imediações do Centro Cívico, o congestionamento foi imenso. O acesso aos ônibus ficou prejudicado, e pontos provisórios estavam a quadras de distância.

Vale lembrar que maratonas e corridas de ruas são realizadas sempre aos domingos de manhã (ou de madrugada). A Parada da Diversidade em Curitiba também vem ocorrendo somente aos domingos, pelo menos desde 2007.

3) Sempre que uma rua for recapeada, ou uma calçada, reformada, os bueiros terão de ser nivelados concomitantemente com a obra.

Imaginem que avanço: ruas e calçadas seriam liberadas para o uso somente quando estivessem prontas.

Este é um problema nacional, que, para ser resolvido, parece exigir um esforço sobrenatural dos gestores públicos. Talvez seja realmente complicado para as prefeituras avisarem os concessionários de serviços públicos responsáveis pelos bueiros. Talvez seja muito difícil fazer alguns telefonemas, ou mandar uma notificação por e-mail, e depois multar a empresa que desrespeitar o cronograma da obra. Mais fácil é deixar cada empresa decidir a melhor data. Mais fácil é deixar as coisas como estão, mesmo que o desnivelamento seja um perigo para pedestres, ciclistas e motoristas.

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4) Implantar um sistema de semáforos realmente inteligente

Esse deve ser o projeto mais idealizado pelos motoristas e usuários de ônibus de Curitiba, que passam longos minutos parados nos semáforos, tentando entender qual é a lógica por trás do sistema.

Realmente, criar uma "onda verde" é algo bastante complexo. Mas ela existe em Curitiba, e inclusive é aplicada em algumas ruas da cidade. Como nas avenidas Visconde de Guarapuava e Silva Jardim – que, apesar de congestionadas, são escolhidas pelos motoristas justamente pela sincronização do sinal. É claro que nem todas as vias podem ser beneficiadas no sistema, mas, quando o motorista tem de parar a cada quadra de uma avenida importante como a Mariano Torres somente por causa do sinal fora de sincronia, ele tem tempo para se imaginar em uma sala de controle de tráfego, para realmente – olhem só – controlar e fazer fluir o tráfego.

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