Na quarta-feira (16), enquanto o deputado estadual Ademar Traiano (PSDB) fazia pose para foto ao lado do governador Beto Richa (PSDB), para registrar a “devolução” de dinheiro da Assembleia Legislativa para os cofres estaduais, o campus Paranaguá da Unespar anunciava o encerramento das atividades do ano por falta de dinheiro. Eles se juntaram aos alunos e funcionários do campus Curitiba II da Unespar (antiga FAP), que pararam pelo mesmo motivo há uma semana. Funcionários terceirizados de limpeza e vigilância estão sem receber e pararam de trabalhar, inviabilizando o uso dos prédios públicos.
É possível que algum desses estudantes ou trabalhadores que não conseguiram cumprir o cronograma já atrasado – houve greve no ano, justamente por conta de atrasos e corte de verbas do governo estadual – tenha ficado em casa nessa quinta-feira (17) e tenha sintonizado a rádio BandNews FM de Curitiba. Se fez isso, teve a chance de ouvir Richa desmerecer, mais uma vez, o protesto popular alvo de massacre em praça pública em 29 de abril.
Traiano e Richa estão padecendo do mesmo mal: repetir diversas vezes uma versão, na expectativa de que convencer a população de que se trata da verdade.
A Assembleia diz que “economizou” R$ 250 milhões ao longo de 2015. Poderia devolver um pouco mais, caso não desperdiçasse dinheiro público com a confecção de um cheque gigante.
Na verdade, a Assembleia não “economizou”. Para ser bem didática: economizar significa cortar despesas. E os dados disponíveis mostram que o Legislativo do Paraná aumentou os gastos. Segundo o Portal Gestão do Dinheiro Público, o órgão gastou R$ 289,7 milhões entre janeiro e novembro de 2014. No mesmo período em 2015, a despesa foi de R$ 295,3 milhões.
Talvez a administração da Assembleia consiga reduzir as despesas em dezembro, para fechar o ano com um pouco menos de despesa do que em 2014. O fato é que propagandear que o Legislativo “economizou” R$ 250 milhões é tão falso como o discurso de muitos deputados quando dizem que se preocupam com a população.
Ato político
Em entrevista à BandNews, o governador Beto Richa voltou a desmerecer o protesto do dia 29 de abril, quando a polícia reprimiu violentamente estudantes, professores e demais pessoas contrárias a mudanças no Paranaprevidência. O tucano ressaltou que o episódio foi “lamentável”, mas diz que tudo foi “arquitetado pela oposição”, com a intenção de causar desgaste político a ele.
Esse é o mesmo governador que, candidamente, havia dito no Facebook que “nada apagará da minha alma a tristeza que sinto com este episódio, lamentável sob todos os lados”. Richa tinha se comprometido em não poupar esforços para “restabelecer o diálogo com os servidores e com a sociedade paranaense”. Coloco no passado pois a mensagem, postada em 8 de maio, foi retirada do Facebook do governador. A Gazeta do Povo reproduziu o texto, para quem tiver curiosidade.
Em entrevista à Gazeta também em 8 de maio, o governador pediu desculpas. Passado o calor do momento e a comoção popular, Richa parece querer reescrever a história e desdizer o que disse. Se ele vai ser bem-sucedido dependerá de quão bem informadas as pessoas estiverem.
Infelizmente, se a Assembleia continuar recebendo um orçamento muito maior do que merece e o governo estadual não destinar dinheiro para a educação, a tendência é que a ignorância predomine.
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