Muitos já sugeriram recentemente a renúncia da presidente Dilma Rousseff como caminho para colocar o país em novo rumo. Difícil dizer se seria um caminho melhor com os políticos que temos, mas certamente seria um caminho diferente, e parece que é disso que precisamos: alguma mudança.
Dentre os que defendem a renúncia está o sociólogo Paulo Delgado, um dos fundadores do PT. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada em 5 de fevereiro, ele defende que o melhor caminho seria Dilma abdicar do poder, já que não tem condições de governabilidade.
Delgado defende o impeachment como ferramenta para revogar um mandato e diz que há elementos políticos, econômicos e culturais que justificariam o impedimento de Dilma, mas avalia que esse não é o melhor caminho. Como petista histórico – foi deputado constituinte (1987-1990) e depois deputado federal por cinco mandatos (1991-2011) –, ele defende uma saída na qual o legado do PT sobreviveria, e isso só parece possível com a renúncia, algo planejado, negociado.
Sim, integrantes do partido cometeram os mais vis atos de corrupção e dilapidação do patrimônio brasileiro, mas há programas e projetos que trouxeram mais equidade social e que precisam ser mantidos.
Aliás, a renúncia de Dilma poderia até render frutos ao PT.
Vamos raciocinar com uma dose de cinismo político.
Com a proposta (necessária) de reforma da Previdência, os deputados do PT poderiam abandonar o barco de Dilma de uma vez, inviabilizando o governo e forçando a renúncia. A avalanche de mudanças decorrentes (nos programas de governo, nos cargos em comissão, na acomodação da base e da oposição), os eventuais escândalos que surgiriam ao se investigar o passado dos novos ministros, etc., etc., etc., tirariam por um tempo o foco do PT, e o partido poderia tentar se reorganizar para as próximas eleições. Com a possibilidade de jogar no colo de Dilma a culpa pelo desemprego e inflação que assolam o país.
Não é moral, mas o que é nas campanhas políticas?
A renúncia de Dilma também facilitaria a defenestração política de Eduardo Cunha.
Vamos raciocinar com um pouco de ingenuidade política.
A despeito de todas as suspeitas e irregularidades cometidas, Cunha se mantém presidente da Câmara dos Deputados. Em parte porque a oposição vê nele o anti-Dilma, e confia no jogo sujo do peemedebista para colocar a presidente para escanteio. Se ela abdicasse e fizesse um discurso contundente contra Cunha, a oposição seria obrigada a criar vergonha na cara, exigindo a renúncia ou batalhando pela cassação do mandato dele.
Outra vantagem da renúncia de Dilma: os governantes do PSDB não poderiam mais usar a desculpa esfarrapada de que as investigações contra eles são “uma maneira de o PT desviar o foco de seus escândalos”.
Vamos raciocinar com um pouco de esperança.
Beto Richa credita ao PT o descontentamento com o pacotaço que tirou direito de servidores públicos e que culminou com o massacre de 29 de abril; usa essa desculpa para tentar explicar o pedido de investigação da Procuradoria-Geral da República sobre os desvios na Receita Estadual, entre outras coisas. É como chutar cachorro morto: ele atribui a culpa ao PT, esse mesmo partido cujos dirigentes estão sendo minuciosamente investigados na Lava Jato, na Operação Zelotes, etc., etc., etc.
Sem Dilma na Presidência, como Richa se justificaria? Recorrendo novamente ao marqueteiro Mário Rosa, como o próprio declarou à revista Piauí de dezembro? Ou contando a verdade? Seria muito bom, para todos os paranaenses e para o governo.
Não sei se um eventual mandato de Michel Temer traria vantagens ao Brasil, mas a renúncia de Dilma definitivamente traria.
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