Casa alugada

Veja os locais com maior e menor número de moradores com residência alugada:

Bairro - %

Centro - 44,1Rebouças - 38,0São Francisco - 37,4Prado Velho - 29,5Centro Cívico - 29,1Jardim das Américas - 13,0Santo Inácio - 12,9Hugo Lange - 11,8Caximba - 10,7Jardim Social - 8,3

Fonte: Censo 2010/IBGE.

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O Centro tem duas faces. Durante o dia, muitas pessoas, carros, ônibus. À noite, grande parte se recolhe para seus bairros ou outras cidades, deixando a região quase desabitada. Um ambiente desses é prato cheio para pichadores, que sujam prédios e fachadas sem pudor.

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A maioria das cidades brasileiras padece desse mal. As regiões centrais costumam ser as mais antigas, e a ocupação inicial não foi feita com o planejamento necessário para suportar esse futuro que estamos vivendo agora. Exemplo disso é o grande número de edifícios construídos sem garagem, uma insanidade para os padrões atuais.

O grande fluxo de pessoas também gera uma sujeira e barulho que desagradam a muitos. O conforto e o sossego foram buscados em bairros mais distantes. Mas o centro também poderia ser um local muito mais agradável.

Iniciativas pontuais aparecem aqui e ali. Há poucos anos, a prefeitura de Curitiba revitalizou a Rua Riachuelo, local de interesse histórico que havia sido tomado por mercadores de drogas, sexo e outras ilicitudes. Mas é quase impossível revitalizar um local só com fachadas novas, iluminação e calçamento. Falta o mais importante: pessoas.

Em uma época em que é cada vez mais difícil enfrentar o trânsito – seja em automóvel próprio, transporte público ou bicicleta –, a possibilidade de morar perto do trabalho ou do local de estudo significa um ganho imenso de qualidade de vida. Mas isso envolve muito mais do que achar uma residência disponível. Isso exige um forte comprometimento do poder público em parceria com a iniciativa privada.

Chega a ser uma incongruência ver tantos prédios abandonados no centro ao mesmo tempo em que vemos ônibus chegarem lotados das cidades metropolitanas – algumas viagens levam mais de uma hora e meia. Se esses edifícios vazios dessem lugar a prédios residenciais (com faixas de valores variáveis, desde populares aos mais sofisticados), e mais pessoas vivessem na região central, seria possível minimizar os transtornos do trânsito e o problema de regiões desabitadas.

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Na verdade, o Centro de Curitiba não pode ser considerado desabitado. São 37,2 mil moradores, segundo o Censo de 2010, espremidos em uma área relativamente pequena, o que dá uma densidade de 106 habitantes por hectare, a segunda mais alta da cidade, atrás apenas do bairro Água Verde.

Mas a maioria dos moradores do Centro não desenvolve um sentimento de posse, de pertencimento ao local. Ainda segundo o Censo de 2010, 44,1% dos moradores do bairro paga aluguel. É um índice bem mais alto do que a média da cidade – 21,2%. Em todo o Brasil, o porcentual de pessoas que vivem de aluguel é de 18,3%.

O que quer dizer isso? Não posso dizer com certeza, mas dá para ver suas consequências: sem ser proprietário do imóvel que mora, sem ter ligação direta com o local onde vive, o morador do Centro não cria um vínculo que seria necessário para manter (e exigir) limpeza, manutenção e melhorias. Há exceções, claro, e muita gente pode optar pelo aluguel e criar vínculos fortes.

O que é importante é a necessidade de o poder público e a iniciativa privada atuarem juntos para desenvolver melhor as localidades. O Banco Mundial publicou recentemente o estudo Planejando, Conectando e Financiando Cidades – Agora, no qual lista algumas iniciativas bem-sucedidas (e outras nem tanto, mas que podem ensinar ainda mais) de políticas públicas de urbanização. Há exemplos de cidades que leiloaram áreas públicas ou antigos terminais, arrecadando dinheiro para investir em diversas ações, enquanto as construtoras conseguiram terrenos bem localizados para seus projetos.

Planejando bem essas ações – com estudos de impacto de vizinhança e algumas exigências que garantam atrativos aos empreendimentos, como um tamanho mínimo de área verde – todos os elos sairiam ganhando. Poder público, empresários e cidadãos.

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O Centro suportaria novos moradores – essas pessoas já estão por lá, mas hoje transitam apenas de dia e à noite vão embora. Com uma nova modelagem, ficariam por ali ininterruptamente, criando vínculos e cuidando de um cenário que é de todos.