Parte do corte de R$ 10 bilhões no orçamento, anunciado nesta segunda-feira (22) pelo governo, é mero adiamento de gastos, suspeitam analistas. Isso se aplica aos R$ 2,5 bilhões de redução em despesas com subsídios e subvenções e aos R$ 4,4 bilhões que o governo pretende gastar a menos com pagamentos do Tesouro Nacional ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), para cobrir as perdas decorrentes da desoneração da folha salarial de diversos setores da economia.

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Os gastos com subsídios e subvenções vêm, pelo menos desde 2011, sendo utilizados como uma forma de calibrar as despesas e o saldo fiscal. Essa despesa surge, por exemplo, quando o governo autoriza o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a conceder empréstimos a juros abaixo dos de mercado. Ou quando faz um programa como o Minha Casa Minha Vida, que financia habitações populares a juros baixos e com uma parcela bancada pelo governo. Toda a "bondade" é bancada pelo Tesouro, mas ele tem atrasado o repasse desses valores aos órgãos responsáveis pelos programas.

O maior corte anunciado hoje, de R$ 4,4 bilhões de pagamentos do Tesouro ao BNDES, também é adiamento. "O programa não foi revisto, portanto não teria por que a despesa cair", observou o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências. "Parece que é postergação."

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O quadro é ainda mais grave, na avaliação do economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero. Ele acha que se trata de um adiamento de despesas para o ano que vem. Porém, se a despesa do Tesouro fica R$ 4,4 bilhões menor, a receita do INSS deveria ter caído na mesma magnitude. Não é o que se vê. O governo cortou a previsão de arrecadação previdenciária em R$ 3 bilhões.

"No empurra-empurra, o conjunto ficou R$ 1,4 bilhão melhor", comentou. Isso faria sentido se a arrecadação previdenciária estivesse bem, ao ponto de uma redução de R$ 4,4 bilhões no repasse do Tesouro ter um impacto de R$ 3 bilhões nas receitas previdenciárias. "Mas não é o que está acontecendo", afirmou.

De janeiro a maio deste ano, os gastos da previdência avançaram 14,3%, enquanto as receitas cresceram a um ritmo menor: 11%. No período, o saldo ficou R$ 6 bilhões pior do que em igual período de 2012. Para as contas fecharem como o previsto pelo governo, seria necessário que houvesse uma reviravolta nos dois itens: as receitas precisariam crescer 15% e as despesas, desacelerar para 7,8%. "Isso não tem nenhum lastro na realidade."

O corte de R$ 4,4 bilhões em despesa discricionárias tampouco convenceu. "Não faço ideia de como farão isso", comentou. Viagens, diárias, aluguéis e itens desse tipo comportam reduções menores, em prazos maiores. "São gastos para cortar R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões em um ano", disse.