Aécio chegou à convenção junto com FHC: ex-presidente não será “escondido” na campanha| Foto: Carla Carniel/Frame/Folhapress

Tucano rediscutirá maioridade penal

Agência O Globo

A simples sinalização de Aécio Neves (PSDB) de que não fugirá de medidas impopulares para reorganizar a economia já deu munição para a "campanha do medo", levada pelo PT aos seus programas de televisão, de que a volta ao passado significará arrocho salarial e recessão econômica. Mas o tucano está disposto a propor outras medidas polêmicas em seu programa de governo, que é coordenado pelo ex-governador de Minas Gerais Antonio Anastasia.

Aécio quer rediscutir a maioridade penal em caso de reincidência e crimes hediondos. A equipe do programa de governo estuda ainda propor que jovens maiores de 16 anos sejam responsabilizados criminalmente quando cometam crimes hediondos como estupros, homicídios e sequestros.

Outro ponto-chave da plataforma de Aécio é a intenção de fazer uma reforma tributária nos primeiros cinco meses de governo. O objetivo é buscar um reequilíbrio de contas entre União, estados e municípios.

O plano de governo tucano também não deverá ter pudores de propor o aprimoramento de políticas que marcam a gestão petista na Presidência. Há estudos para incluir no programa a ampliação e aprimoramento de programas vitrines do governo Dilma Rousseff na área da educação – entre eles Pronatec, Prouni e Fies.

Um dos eixos do programa será a construção de um novo pacto federativo que sustente uma orientação firme de Aécio para as políticas sociais e de combate à pobreza. Ele pretende dar grande relevância ao Bolsa Família – outra vitrine petista. A ideia é integrá-lo com políticas de saúde, educação, segurança e habitação, seguindo diagnósticos e o mapa de carências e renda.

Reconhecimento

"Um grande estadista não tem problema em reconhecer e dar continuidade a um programa, desde que possa ser melhorado e ampliado", diz Rita Camata, que coordena o grupo de políticas de assistência social do plano de Aécio. "O PT é que tem essa cultura perversa de negar que o DNA dos programas sociais vem da estabilização econômica e dos programas de transferência de renda do governo Fernando Henrique."

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Com fortes críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e buscando mostrar união interna, o PSDB realizou ontem sua convenção para oficializar o senador mineiro Aécio Neves como candidato à Presidência. De 451 delegados presentes na convenção, 447 votaram a favor da candidatura do senador.

Aécio deve contar com o apoio de pelo menos outros seis partidos: DEM, Solidariedade, PTdoB, PTC, PSL e PTN. O nome do candidato a vice de Aécio ainda está indefinido. O PSDB pretende usar a vaga na chapa para negociar outras alianças. O principal alvo é o PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

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Simbologia

Em seu discurso, Aécio elogiou a gestão do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso – a quem considerou como responsável por "transformar a realidade brasileira de forma definitiva". Fez ainda críticas pesadas ao governo petista, dizendo que o "legado positivo" de FHC está se esgotando. "O PSDB preocupou-se de fato em governar para as pessoas", disse Aécio. Para, ele o PT "abdicou de um projeto de país para conduzir exclusivamente um projeto de poder".

Com o objetivo de demonstrar a união do partido, o senador também elogiou o ex-governador paulista José Serra, seu principal adversário dentro do partido, por sua atuação como ministro da Saúde durante o governo FHC.

A demonstração de coesão interna, aliás, deu o tom da convenção nos discursos e na simbologia política, que incluiu até a escolha do local: São Paulo. Os tucanos paulistas eram os mais reticentes em relação ao mineiro – especialmente Serra, que lutou até o ano passado por uma terceira candidatura à Presidência. Aécio conseguiu vencer as resistências dos paulistas. E a escolha de São Paulo como local da convenção teve por objetivo mostrar que os tucanos do estado irão apoiar o mineiro. Serra esteve na convenção, discursou e declarou seu apoio ao senador. Disse que Aécio tem "a qualidade de juntar as melhores pessoas para os cargos do seu governo".

Aécio será o primeiro candidato do PSDB à Presidência de fora de São Paulo. Todos os anteriores construíram suas carreiras políticas no estado: Mário Covas, FHC, José Serra e Geraldo Alckmin. Durante a convenção, Alckmin fez referência a esse fato, dizendo que Aécio é "o mais mineiro dos paulistas", e que sua vitória começará por São Paulo.

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A chegada de Aécio à convenção, acompanhado do ex-presidente FHC, também reforçou a imagem de unidade. Nas últimas eleições presidenciais, tanto Alckmin quanto Serra procuraram "esconder" a gestão de Fernando Henrique. Nesta campanha, porém, o partido vai resgatar os feitos do ex-presidente.

Beto Richa

O governador do Paraná, Beto Richa, compareceu à convenção. Também elogiou Aécio e criticou o PT. "Todos estamos cansados de assistir diariamente pela imprensa escândalos, denúncias, corrupção, desvio de condutas, traição da confiança do povo. Os brasileiros estão nas ruas dizendo que não suportam tanta bandalheira", disse Richa. Para ele, Aécio "vai traduzir os anseios legítimos da sociedade brasileira" e será a "mudança segura".