Prestes a retomar o papel de oposição depois de 13 anos à frente do governo federal, o PT e os movimentos sociais e sindicais ligados ao partido escolheram o “Fora Temer” como slogan caso o Senado aprove nesta quarta-feira (11) a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A decisão de desgastar o possível governo do vice-presidente, Michel Temer, porém, é considerada insuficiente, mais do mesmo, para manter as mobilizações e a disputa política. O PT, movimentos aliados, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda estão em busca de uma bandeira propositiva, capaz de manter a unidade construída ao longo da resistência ao impeachment e, principalmente, impulsionar uma provável candidatura de Lula à presidência em 2018.
Até a semana passada esta bandeira poderia ser a defesa de um plebiscito pela reforma política e realização de novas eleições. Dilma chegou a escalar ministros para sondar o PT e os movimentos. A resposta foi que não havia unidade e se Dilma decidisse levar a proposta à frente seria por sua própria conta.
“Esperamos que o governo Temer se inviabilize por ele mesmo. Enquanto isso, nestes três ou quatro meses até o julgamento do mérito pelo Senado, vamos decidir o que fazer”, disse João Paulo Rodrigues, do Movimento dos Sem Terra.
Segundo ele, embora já esteja desgastada, a estratégia de não reconhecer o eventual governo do vice é importante. “Não podemos correr o risco de ter setores que reconheçam o Temer ou dialoguem com o governo dele”, disse o líder do MST.
Um dos temores é que os interesses eleitorais prevaleçam em relação à estratégia nacional. No PT, por exemplo, a tendência é não proibir alianças com partidos que apoiaram o impeachment nas eleições municipais de outubro.
“Existem dois PTs. Um é o da vida real, dos militantes que foram às ruas combater o golpe. Outro é o PT institucional, eleitoral, que não participou das lutas por causa de eleições”, disse ele.
Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizem que ele também está em busca de uma bandeira propositiva capaz de servir com o vetor de uma oposição a Temer.
Embora tanto Lula como os movimentos digam que ainda acreditam em uma pouco provável virada a favor de Dilma no julgamento do mérito, alguns grupos defendem que a proposta das novas eleições seja recolocada na mesa já no dia 12, assim que a presidente descer a rampa do Planalto.
“Por enquanto o foco são as mobilizações até o dia 12. Depois vem a segunda etapa na qual vamos debater uma estratégia institucional. Até lá é ‘Fora Temer’“, disse Raimundo Bonfim, coordenador da Frente Brasil Popular.
Partidos que eram oposição ao PT devem controlar R$ 118 bi com Temer
Agência O Globo
Há mais de 13 anos alijados do poder na esfera federal, os partidos de oposição devem ser incorporados ao governo Temer nos próximos dias caso o Senado decida, nesta quarta-feira, afastar a presidente Dilma Rousseff. As negociações para a formação do hipotético Ministério ainda não estão concluídas, mas, a princípio, os oposicionistas devem comandar quatro pastas com orçamento parrudo que, somadas, controlam R$ 118 bilhões para serem gastos este ano.
A que tem maior orçamento e é, portanto, uma das mais cobiçadas, é o Ministério da Educação, com R$ 99,78 bilhões para serem gastos ao longo de 2016. A pasta deverá ser entregue ao deputado Mendonça Filho (DEM-PE), contemplando um dos partidos que mais trabalharam pelo impeachment de Dilma no Congresso.
Em seguida, vem Cidades, com R$ 12,83 bilhões. A pasta deve ficar sob controle do PSDB, com o deputado Bruno Araújo (PE). Além de ter orçamento elevado, a capilaridade desse ministério, responsável por obras de infraestrutura em estados e municípios, e por programas como o Minha Casa Minha Vida, faz dele um dos mais atraentes da Esplanada.
Em 3º lugar no quesito “dinheiro no bolso” para a oposição está o Ministério das Relações Exteriores, que tem R$ 2,98 bilhões nos cofres. A pasta também deve ficar sob comando do PSDB, com o senador José Serra (SP). Além de promover a participação nas negociações de comércio exterior, o ministério pode trazer grande prestígio a quem o controla, já que possibilita a interlocução com representantes de diversos países nos eventos internacionais.
O Ministério da Cultura é o quarto em orçamento para a oposição, com R$ 2,35 bilhões. A pasta deve ficar com o deputado Roberto Freire (PPS-PE), que também é presidente do partido. Um dos atrativos desse ministério é o de decidir quais serão os projetos beneficiados pela Lei Rouanet.
No rol das negociações menos avançadas, há ainda a possibilidade de o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que tem R$ 3 bilhões de orçamento, ser entregue ao senador Tasso Jereissati (CE). Fora os ministérios, outros dois órgãos podem ficar sob o comando de pessoas filiadas ao PSDB: a Advocacia-Geral da União, com R$ 3 bilhões, que pode ficar com Alexandre de Moraes, secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo; e a Controladoria-Geral da União, com orçamento mais minguado, de R$ 880 milhões, que pode ser dado à ex-ministra do Supremo Ellen Gracie.
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