A presidente Dilma Rousseff coordenou pessoalmente o contra-ataque ao PSDB ao determinar que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reagisse às críticas dos tucanos que acusam o governo de direcionar a investigação do cartel de trens em São Paulo para tentar abafar as prisões do mensalão. Dilma reservou dois dias de sua agenda na semana para discutir a reação.
Ontem, a presidente, o ministro e sua equipe de comunicação conversaram por cerca de uma hora e meia no Palácio do Alvorada sobre o tema. As avaliações foram de que o PSDB estava conseguindo "gritar mais alto", estabelecendo que os tucanos seriam vítimas de uma armação de "aloprados" petistas e, ainda, de quebra, enfraquecendo Cardozo. "Eles estão enlouquecidos. Querem mudar o foco e vir para cima de mim", disse o ministro.
A ordem foi para reagir com veemência, o que levou Cardozo a convocar uma segunda coletiva de imprensa num intervalo de três dias. Ontem, anunciou que vai processar os que o "caluniaram" e "ofenderam".
Reunidos em Brasília na terça-feira, os tucanos, comandados pelo senador Aécio Neves, pré-candidato do partido à Presidência, fizeram duras declarações contra Cardozo, pediram sua demissão e o chamaram de "aloprado", "manipulador", "irresponsável", "farsante", "indigno".
A queixa dos tucanos se deve ao fato de o ministro ter recebido das mãos do deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT) documentos de autoria do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer com acusações contra políticos do PSDB e ter repassado o material para a Polícia Federal.
O jornal O Estado de S. Paulo revelou na semana passada o relatório principal das acusações de Rheinheimer, datado de abril deste ano. O texto cita "um forte esquema de corrupção" nos governos tucanos em São Paulo, caixa 2 do PSDB e do DEM e propina a políticos.
Os tucanos, ao atacarem o ministro da Justiça na terça-feira, utilizaram um outro documento presente no material que chegou à Polícia Federal. Trata-se de uma carta que o ex-diretor da Siemens escreveu à sede da empresa na Alemanha em 2008. Essa carta também versava sobre o cartel. O PSDB apontou diferenças na versão original, em inglês, da versão em português e acusou o PT de manipular as denúncias, incluindo o nome do partido na versão traduzida.
Na mesma terça-feira, o ministro chamou os tucanos de "amigos" e pediu cautela nas investigações para não prejudicá-los. Na quarta-feira, chamou as queixas dos tucanos de "risíveis". Ontem após novo encontro com Dilma, consolidou o discurso de enfrentamento. "É evidente que no Brasil algumas pessoas pretendem desfocar uma investigação séria e rigorosa para uma polêmica eleitoral, uma disputa entre partidos. Querem uma cortina de fumaça. Cada dia inventam uma coisa nova. Querem a investigação do mensageiro ao invés da mensagem", disse Cardozo.
"No dia em que o ministro da Justiça aceita ser chamado de vigarista, membro de quadrilha e não reagir ele não defende seu cargo. Os que representarem contra mim vão ter que provar ou serão processados por calúnia. Acho inaceitável que as pessoas atinjam a honra das outras de forma tão baixa, tão vil."
O porta-voz da presidente, Thomas Traumann, que participou da reunião com Dilma e Cardozo, foi destacado para colaborar com a comunicação do ministro. Na coletiva, Cardozo apresentou um power point, no estilo da presidente, para rebater a acusação de ter manipulado a carta de 2008. Segundo ele, a versão em inglês não é o mesmo documento da versão em português.
O ministro afirmou, mais de uma vez na entrevista, que os documentos que encaminhou à Polícia Federal contêm um conjunto de informações mais amplo sobre as suspeitas de envolvimento de políticos com corrupção do cartel. "Não é só isso. É evidente que não se resume às cartas." (Colaborou Tania Monteiro). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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