As gravações de políticos da alta cúpula do PMDB feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado acenderam o sinal vermelho no Planalto e na nova base aliada. O presidente interino Michel Temer teme que novos áudios, que fazem parte da delação premiada de Machado, venham à tona e comprometam sua sustentação no Congresso. Além de peemedebistas, as conversas sugerem a implicação de líderes do PSDB e do DEM no escândalo da Lava Jato. Diante do risco de o novo governo “derreter”, a palavra de ordem é: antecipar o impeachment definitivo da presidente Dilma Rousseff. O afastamento tem de ser votado pelo Senado até novembro. A base quer encerrar o assunto em agosto.
O temor no Planalto é que a crise política atinja de forma irreversível o governo Temer e que o PT consiga reverter no Senado alguns votos, assegurando o retorno de Dilma à Presidência – veja a estratégia dos petistas. O PV, um dos partidos que fazia parte da base de Temer, por exemplo, já anunciou que terá posição de independência em relação ao Planalto.
Duas medidas
À medida que os áudios de Machado se tornam públicos, mais políticos são citados. Do DEM, por exemplo, apareceram os nomes do novo ministro da Educação, Mendonça Filho, e do deputado Pauderney Avelino (AM) – um dos maiores defensores do impeachment. No PSDB, o principal envolvido até agora é o senador e presidente nacional da sigla , Aécio Neves.
Agora na base aliada, representantes dos dois partidos que faziam parte da oposição ao PT correram para desqualificar a delação de Machado – algo que não faziam quando o delator implicava aliados do governo petista.
“O Sérgio Machado é um ser desprezível. Não sou da turma dele e essas declarações são fruto de um total desespero. Vou interpelá-lo judicialmente”, disse Pauderney – chamado de “corrupto” pelo ex-presidente da Transpetro.
Em nota, o PSDB informou que vai processar Machado, que já foi filiado ao partido. “Fica cada vez mais clara a tentativa deliberada e criminosa do senhor Sérgio Machado de envolver em suspeições o PSDB e o nome do senador Aécio Neves, em especial, sem apontar um único fato que as justifique”, diz a nota.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou a criticar na quinta-feira (26) o ex-presidente da Transpetro, dizendo que ele está “desesperado”. Renan também afirmou que a Lava Jato é “intocável”. “Renan Calheiros reitera que não (...) fez gestões para dificultar ou obstruir as investigações da operação Lava Jato, até porque elas são intocáveis”, diz nota enviada à imprensa por sua assessoria.
Estratégia do PT é dizer que Dilma vai defender nova eleição se voltar à Presidência
- brasília
- Das agências
Para reverter o impeachment, o PT aposta que a crise política comprometerá o governo Temer e que a população também vai querer vê-lo fora da Presidência – como ocorreu com Dilma Rousseff. A estratégia petista é retomar o discurso de que, se ela voltar ao Planalto, vai propor a convocação novas eleições presidenciais. Assim, petistas dizem que será mais fácil fazer com que alguns senadores que votaram pela abertura do processo de impeachment mudem de voto na fase final do julgamento.
Para que a presidente seja definitivamente afastada, são necessários 54 votos. Na sessão de admissibilidade do processo, 55 senadores votaram pela abertura do processo. O PT calcula entre dez e 13 senadores considerados “potenciais” para mudar de voto. Os nomes favoritos dos petistas para reverter a votação são os senadores do Distrito Federal: Cristovam Buarque (PPS-DF), Antônio Reguffe (sem partido) e Hélio José (PMDB-DF). O entendimento é que várias medidas de Temer – cortes no serviço público, concursos e reforma da Previdência– são impopulares entre os eleitores brasilienses de classe média e que eles irão pressionar os senadores.
Mais polêmica
Veja algumas revelações de áudios gravados por Sérgio Machado que foram divulgados na quinta-feira:
Ditadura da Justiça
O ex-presidente e ex-senador José Sarney e Machado criticam as nomeações feitas pelo governo de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. Sarney diz que Moro instituiu uma “ditadura da Justiça”, pois ninguém questiona suas decisões.
Aécio vulnerável
“Aécio[Neves] é o cara mais vulnerável do mundo”, afirma Machado em conversa com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Mau caráter
Renan e Machado chamam o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de “mau caráter”.
Dicas a Delcídio
As gravações mostram que Renan orientou um suposto representante do senador cassado Delcídio do Amaral, identificado como Wanderberg, sobre como o ex-líder do governo deveria fazer sua defesa na época em que enfrentava um processo no Conselho de Ética.
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