São Paulo (AE) A consagração do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quem diria, veio no governo Lula. Criada em 1998 pelo ex-ministro Paulo Renato Souza, a prova surgiu como uma auto-avaliação não obrigatória para os adolescentes que estavam terminando a escola. Desacreditada e criticada, correu risco de ser extinta pelo PT. Hoje, no entanto, um número recorde de estudantes quase 3 milhões em todo o país participa do exame, que começa às 13 horas. E a razão é simples: para conseguir bolsa no ensino superior particular, pelo novo programa Universidade para Todos (ProUni), é preciso ter a nota do Enem.
Este ano, o primeiro em que funcionou o sistema de bolsas instituído pelo Ministério da Educação (MEC), não foi preciso nem vestibular. Além das duas exigências principais demonstrar carência e ter cursado o ensino médio em escola pública , uma média acima de 45 pontos no Enem garantiu lugar na universidade para cerca de 100 mil brasileiros. Sobraram vagas, inclusive. O governo prorrogou várias vezes o período de inscrição para cobrir a quantidade de bolsas oferecidas pelas 1.142 instituições que aderiram ao ProUni.
"Com essa nova perspectiva, o Enem agora se consolidou", disse o ministro da Educação, Fernando Haddad. Idealizador do ProUni já na gestão de Tarso Genro, ele comemora a explosão de inscrições para o exame. No MEC de Cristovam Buarque, porém, dirigentes declaravam que o Enem em nada ajudava os jovens pobres a ingressar na universidade pública e precisava ser revisto. O ministro agora acredita que a participação maciça na prova, que segue parâmetros educacionais modernos, sem divisão por disciplinas e com avaliação de competências e habilidades, pode fazer com que as escolas mudem também.
Com essa mesma expectativa, o governo anterior promoveu acordos, a partir de 2000, para que a nota do exame passasse a ser parte dos vestibulares públicos e particulares. A adesão principalmente da Fuvest, em que a nota vale 20% da primeira fase, ajudou no primeiro boom de inscritos. O total cresceu de 157 mil, em 1998, para 1,8 milhão, no último ano de Paulo Renato no MEC.
"A prova do Enem agora é mais importante que a Fuvest para mim", diz Daiane Bezerra Neves, de 18 anos. Estudante de escola pública, ela acredita que suas chances de cursar uma faculdade gratuita estão mais no ProUni que na universidade pública. Já escolheu as instituições particulares em que vai pedir a bolsa para o curso de Ciência Biológicas e passou o ano estudando para a prova de hoje. "O Enem é mais humano que o vestibular, então li muito jornal para me preparar. Vou tentar gabaritar", conta.
Competências
Além das 63 questões interdisciplinares medindo competências como domínio de linguagens, compreensão de fenômenos, argumentação e situações-problema, o exame tem também uma redação. No último Enem, o tema era a liberdade de informação e os abusos cometidos pela imprensa. Na época, se discutia no país a polêmica criação de um Conselho Federal de Jornalismo. Para conseguir a bolsa no ProUni, os alunos precisam ter uma média satisfatória que leva em conta a prova objetiva e a redação. A renda familiar per capita exigida é inferior a um salário mínimo e meio.
Mariana Dias Arantes, de 18 anos, conseguiu no começo deste ano desconto de 100% na mensalidade do curso de Hotelaria das Faculdades Senac pelo ProUni. "Ninguém acredita que eu não pago nada", brinca. Seus colegas desembolsam R$ 907 por mês pelo curso. Apesar disso, ela reclama de ter de pagar R$ 200 pelo transporte que a leva do câmpus, na zona sul da capital, para a Penha, zona leste, onde mora.
Ela e outros bolsistas do ProUni ainda aguardam a prometida bolsa de R$ 300, que ajudaria nas despesas com alimentação, material, transporte, entre outras.Documentação
Os candidatos não podem esquecer de levar para a prova um documento de identidade com foto e lápis, caneta esferográfica preta e borracha. Apesar de o exame começar às 13h, é preciso chegar com cerca de uma hora de antecedência. Às 12h55, os portões serão fechados.
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