O combate ao crime organizado é também o combate à corrupção, diz o promotor José Reinaldo Carneiro, do Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção ao Crime Organizado (Gaerco) do Ministério Público em São Paulo. Na avaliação dele, o que permite que facções implantem sistemas de contribuições mensais dos presos e a entrada de drogas, armas e celulares nos presídios é um sistema penitenciário falido, que coloca em risco a sociedade.

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- O Estado foi sacudido e tem de se convencer de que, em algum ponto, é corruptível, Já sabíamos da atuação do crime organizado, mas a articulação e o tamanho da tragédia surpreende-diz Carneiro.

O Gaerco e a Secretaria de Administração Penitenciária, em parceria, estudam medidas emergenciais a serem adotadas nos presídios paulistas, que não podem ser reveladas sob risco de se tornarem inócuas. Mas Carneiro já adianta que a mudança deve ser ampla e complexa. Ele cita o exemplo do rapaz que matou o bombeiro. De 22 anos, só tinha passagem pela polícia por roubo, nada que pudesse dar a dimensão de sua integração ao crime organizado.

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- Ele foi cooptado pela organização criminosa. Para o criminoso e o preso, ser parte da organização tem que ser um prejuízo, não um ganho-exemplifica.

O promotor afirma que algumas mudanças são básicas para ajudar a combater o crime dentro das penitenciárias, como tornar crime o porte de arma dentro das celas. 'Pelo Superior Tribunal de Justiça, usar o celular não era considerado nem mesmo falta grave', assinala.

Na avaliação do jurista João José Sady, coordenador da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo, o crime organizado é resultado da política do Estado, que sempre se preocupou em trancafiar as pessoas e não se preocupa de fato com o que ocorre lá dentro.

'O crime organizado é a evolução do chefe de cela ou sultão do passado. O preso sempre ficou à mercê do bandido mais forte, mais poderoso, mas agora essa relação evoluiu para algo mais perigoso e saiu das prisões-diz ele.

Sady lembra que três organizações criminosas dividem o poder nos presídios paulistas. Segundo ele, na quarta-feira passada, quando uma nova onda de boatos tomou conta da cidade de São Paulo, a mãe de um dos integrantes do crime organizado havia sido morta, mas por uma facção rival, não pela polícia.

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Segundo Sady, existe dentro dos presídios um acordo informal com os detentos, já que a quantidade de agentes penitenciários não dá ao Estado controle efetivo dos estabelecimentos.

- É preciso que o Estado retome o que chamamos de controle de pátio. Mal e porcamente ele consegue manter o criminoso preso-critica.

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