Um dos pontos de tensão que inquietam militares da reserva com relação à Comissão da Verdade, criada no ano passado pelo governo federal para apurar violações de direitos humanos durante a ditadura militar, é a sua eventual composição. Oficiais das Forças Armadas aposentados - alguns veteranos das ações de repressão à guerrilha e também à oposição desarmada, nas quais oposicionistas morreram, desapareceram ou foram torturados - se preocupam com a possível nomeação apenas de pessoas ligadas ao "outro lado" ou que não sejam neutras em relação aos episódios. Nos últimos dois dias, contudo, dirigentes dos clubes militares, porta-vozes dessas preocupações se movimentaram para tentar acalmar seus associados e se dissociar da radicalização de posições.
"A Comissão já foi aprovada pelo Congresso, o problema é a designação de seus membros, para que haja elementos dos dois lados", disse o presidente do Clube Naval, vice-almirante da reserva Ricardo Antônio da Veiga Cabral. "A verdade não tem de ser só de um lado. O que a gente espera é que haja equilíbrio." Ele afirmou que o movimento dos clubes "não é como a greve do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar da Bahia". "A coisa é um problema mais ético que financeiro", destacou. "É preciso haver um diálogo sem radicalismos. Acho que a situação tende à acomodação."
O militar ressaltou que o Clube Naval não teve participação no manifesto "Alerta à Nação - eles que venham por aqui não passarão", que recebera mais de 230 assinaturas de apoio até hoje e manifestou preocupação com a possibilidade de punição, com advertência, dos seus signatários. "Isso é grave. O sujeito não pode falar o que quer? Está na reserva, não tem mais compromissos na Força. A não ser que fosse algum desrespeito à presidente. O governo se expressou por meio de duas ministras (Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, e Eleonora Menicucci, das Mulheres). O debate é livre. Estamos em uma democracia." Cabral afirmou que a ameaça de punir "só tende a agravar a situação", mas duvidou que a crise atinja oficiais da ativa.
Ex-presidente do Clube Militar, o general da reserva Gilberto Figueiredo ressaltou que não poderia falar em nome da entidade, mas também se mostrou preocupado com a Comissão da Verdade."Depois de nomeados os membros, a gente pode avaliar", declarou. "Imaginamos que seja factual. Na verdade, essa comissão é desnecessária. O que tem de fazer é abrir arquivos para historiadores, que têm de fazer as versões. Uma comissão nomeada por uma única pessoa (a presidente Dilma Rousseff), que é interessada, por que participou (da luta armada)? Essa comissão tem tudo para não apurar nada ou só parte. Tem de ser apurado, mas por quem é profissional do assunto. De repente, pode ser que a presidente nomeie gente isenta. O que preocupa é o possível facciosismo. Tem de apurar o que aconteceu dos dois lados."
Um membro da direção do Clube Militar, sob anonimato, também afirmou que a futura composição da Comissão da Verdade preocupa. O oficial da reserva defendeu a pacificação dos ânimos, mas também defendeu que os membros do organismo, que a presidente Dilma ainda não nomeou, sejam historiadores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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