A Comissão Nacional da Verdade vai investigar empresas públicas e privadas que teriam colaborado com órgãos de repressão na ditadura. Se houver indícios de perseguições ou violações de direitos humanos, o grupo buscará caminhos jurídicos para que elas sejam responsabilizadas e paguem indenizações aos trabalhadores prejudicados.
A nova frente de atuação do grupo, criado para investigar a violação de direitos humanos no Brasil entre 1946 e 1988, foi anunciada nesta terça-feira por Rosa Cardoso, coordenadora da comissão, e por representantes de dez entidades sindicais, entre elas CUT e Força Sindical. Em reunião na sede da Presidência da República em São Paulo foi anunciada a criação do Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, que será coordenado por sindicalistas.
"Temos documentos que mostram que empresas como Monark, Petrobras, CSN, Volkswagen, Ford, Correios e Embraer colaboravam com os organismos de repressão. Elas entregavam fichas de empregados ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Vamos apresentar tudo isso no dia 22 em um ato que marcará os 30 anos da Greve Geral de 1983", disse Luiz Carlos Prates, o Mancha secretário nacional da Conlutas. O Dops era uma espécie de central de repressão da ditadura militar.
Segundo Rosa Cardoso, a comissão está estudando o caso de outros países que seguiram esse caminho. "Vamos fazer um levantamento das empresas a que se pode pedir reparação." O colegiado vai estudar comissões de anistia da Argentina e Alemanha, onde empresas foram responsabilizadas por perseguir trabalhadores durante a ditadura e o regime nazista.
Indenizações
O colegiado ainda estuda sugerir ao governo que altere os critérios de pagamento de indenizações da Comissão da Anistia a vítimas da ditadura. Os sindicalistas alegam que os trabalhadores de fábricas recebem valores bem menores do que outras categorias, como jornalistas e políticos. Rosa Cardoso reconhece que a indenização para algumas categorias tem sido "irrisórias".
Os sindicatos também farão levantamento de entidades que sofreram invasões. "Trezentos e cinquenta sindicatos foram invadidos no dia golpe e outros 600 ao longo da ditadura. Mais de 5 mil trabalhadores estão desaparecidos", disse Expedito Solaney, secretário de Políticas Sociais da CUT.
Rosa Cardoso afirmou que concorda com as reclamações dos familiares de perseguidos pela ditadura que enviaram carta ao colegiado pedindo transparência e celeridade na atuação da comissão, além da substituição imediata de Gilson Dipp, que deixou o grupo por motivos de saúde. "O número (de integrantes) é pequeno para atender às tarefas nacionais da comissão. A reposição de seus sete membros é uma demanda absurdamente justa e que não pode mais ser postergada." Ela também criticou as Forças Armadas. "As Forças Armadas dizem que os arquivos foram queimados. Não acredito nisso. Imagino que eles foram microfilmados. Se não foram, isso fugiria ao procedimento normal de qualquer instituição."
Em nota, os Correios informaram que estão "à disposição da comissão para contribuir para o resgate da memória e pelo fortalecimento da democracia." A CSN disse que não iria se manifestar sobre o caso. O Grupo Estado tentou entrar em contato com as outras cinco empresas citadas, mas não obteve resposta até o início da noite desta terça-feira.