Após colher depoimentos de militares que atuaram durante a ditadura militar brasileira, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) fez nesta sexta-feira (1º) um balanço das atividades da semana - dos 38 depoentes convocados, 23 compareceram, no Rio e em Brasília - e seu coordenador, Pedro Dallari, traçou um paralelo entre o Brasil atual e do período do regime militar, que durou 21 anos.
"A tortura persiste como uma política sistemática na segurança do país. Ela ainda é vista como algo comum e corriqueiro", disse Dallari.
O coordenador também afirmou que o caso do pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha, detido na comunidade por policiais militares em 14 de julho de 2013, levado à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), torturado e morto, cujo corpo foi desaparecido, remete ao caso Rubens Paiva, dado como desaparecido durante o regime militar.
Engenheiro civil e político brasileiro, Rubens Beyrodt Paiva nasceu em Santos em 1929. Ativista com atuação no Rio de Janeiro, teve sua morte confirmada mais de 40 anos depois, após depoimentos de ex-militares envolvidos no caso. Ele foi torturado e assassinado nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971. "O caso Amarildo é o caso Rubens Paiva", afirmou Dallari.
"No país ainda se usa mecanismos criados desde a época de Getúlio Vargas", afirmou a advogada Rosa Cardoso, integrante da comissão. "Temos que desmontar esses aparelhos de terror", disse, referindo-se à tortura e coerção de presos.
Outro membro da CNV, o professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro, afirmou que o recente monitoramento de movimentos sociais por parte do Exército é um escândalo. Ele disse que a democracia brasileira ainda está se consolidando, mas descartou a possibilidade de um levante militarista aos moldes do regime.
Nesta sexta, a comissão ouviu mais três pessoas no Rio: Celso Lauria, que atuou no Doi-Codi (Destacamento de Operações de Defesa Interna), Zilson Luiz Pereira da Cunha, que supostamente participou de violações de direitos humanos ocorridos no Estádio Nacional do Chile, e o sargento da Aeronáutica Luciano José Marinho de Melo, que supostamente transportou presos políticos. Nenhum deles trouxe novidades sobre as questões levantadas.
A Comissão Nacional da Verdade, instituída para colher depoimentos e levantar fatos históricos do Brasil durante a ditadura (1964-1985), está em fase de conclusão dos trabalhos e entregará seu relatório à presidência da República e demais órgãos de governo em 10 de dezembro, quando se comemora o Dia Mundial dos Direitos Humanos.
STF decide sobre atuação da polícia de São Paulo e interfere na gestão de Tarcísio
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Deixe sua opinião