O vice-presidente Michel Temer, novo articulador político do governo Dilma, reúne na tarde desta quarta-feira deputados, senadores e presidentes dos partidos da base aliada com a intenção de aprovar uma carta-compromisso a favor do pacote de medidas de ajuste fiscal. Para ajudá-lo na relação com o Congresso, Temer convidou o ex-secretário-geral da Câmara, Mozart Vianna. O cargo ainda não está definido, mas Mozart deverá ocupar uma espécie de secretaria-executiva de Relações Institucionais, sendo braço direito de Temer na articulação. Mozart se aposentou no mês passado, depois de ser o principal auxiliar de 12 presidentes da Câmara, sendo três vezes secretário de Temer, que presidiu a Câmara duas vezes no governo Fernando Henrique Cardoso e uma vez no governo Lula.
Renan atribui ida de Temer para articulação política a desejo de Dilma de mudança
“Antes de qualquer coisa, denota que ela está querendo dar uma virada”, disse o presidente do Senado
Leia a matéria completaDesde que o Palácio do Planalto começou a negociar com o Congresso projetos de cortes de despesas e de benefícios previdenciários e trabalhistas, a relação entre Executivo e Legislativo desandou. Com a missão de recompor a base, Temer tentará um acordo básico nesta tarde, prevendo flexibilizações em medidas consideradas mais duras pelos parlamentares, como a ampliação de seis para 18 meses no emprego para obtenção do seguro-desemprego. Esse pedido de compromisso começou a ser costurado ainda ontem na reunião da presidente Dilma Rousseff com a base aliada.
Na noite de terça-feira, Temer teve uma reunião com Dilma no Palácio da Alvorada para fazerem uma análise do momento político. Na conversa, relatada por auxiliares presidenciais ao GLOBO, Dilma disse confiar na capacidade de articulação do vice e que está preocupada com a crise institucional que considerou muito profunda.
A habilidade de Temer como articulador político é uma unanimidade em Brasília. Discreto e extremamente calmo, o vice-presidente não gosta de conflitos e não entra em brigas públicas - mas nas poucas vezes em que faz questão de que seu entendimento prevaleça, manobra de forma dura. Na sua última gestão como presidente da Câmara, de 2009 a 2010, garantiu o maior período de estabilidade nas relações políticas entre o governo Lula e o Congresso, com o apoio de José Sarney, que no mesmo período presidiu o Senado.
Num dos únicos momentos de tensão com o Planalto, Temer mudou a forma de tramitação das medidas provisórias, impedindo que trancassem a pauta de votações de emendas constitucionais e leis complementares. Por meses, pediu a Lula que reduzisse o envio de MPs ao Congresso, porque dificultava a relação com os parlamentares. Sem ser atendido, tomou a decisão unilateralmente. Já como vice-presidente de Dilma, reagiu de forma categórica quando a presidente, sem consultá-lo, propôs a realização de uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política, como forma de responder aos protestos de junho de 2013.
Deputado federal desde 1987, nestes anos teve raros momentos de destempero que se tornaram públicos. Um deles, em 2005, quando rompeu com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Com a saída de Severino Cavalcanti da presidência da Câmara, Renan prometeu a Temer que levaria a Lula sua indicação. No entanto, o senador apresentou ao então presidente a ideia de lançar Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Temer fez um discurso chamando Renan de “sacripanta”. Brincou com aliador que Renan correu ao dicionário para saber o significado: indivíduo desprezível. Depois deste episódio, Renan e Sarney, que estavam próximos a Lula contra a vontade de Temer, presidente do PMDB, trabalharam para tirá-lo do cargo. Temer, no entanto, manteve-se na presidência do partido.
Outro momento foi no começo do primeiro mandato de Dilma, quando o recém-empossado ministro da Casa Civil Antonio Palocci telefonou a Temer determinado que ele demitisse o ministro Wagner Rossi da Agricultura. Temer não gostou do tom do petista e teve uma conversa áspera com o hoje ex-presidente.