O provável afastamento de Dilma Rousseff (PT) pelo Senado pode resultar em um efeito colateral curioso. Pela primeira vez desde a proclamação da República, o Brasil pode ter um presidente com ascendência árabe.
Apesar de se tratar de uma etnia minoritária no país, a lista de descendentes de sírios e libaneses que fazem e fizeram sucesso na política vai muito além de Michel Temer, e inclui paranaenses como José e Beto Richa e Aníbal Khury.
Desde o fim do regime militar, dois descendentes de árabes ficaram próximos de se tornar presidentes. O primeiro foi Paulo Maluf, que disputou a eleição indireta de 1985 contra Tancredo Neves. O segundo foi Geraldo Alckmin, derrotado na eleição direta de 2006 contra Luiz Inácio Lula da Silva.
Além de Temer, apenas um árabe-brasileiro chegou à vice-presidência, e pela via indireta: José Maria Alkimin, vice de Castelo Branco.
Entretanto, mesmo sem chegar ao Planalto, os árabes-brasileiros têm uma longa trajetória de sucesso na política brasileira. Hoje, o maior estado do país, São Paulo, é governado por um descendente de libaneses – Alckmin. Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, também tem origens levantinas – assim como antecessor Gilberto Kassab. Tanto a cidade quanto o estado, aliás, já foram governadas por Maluf, possivelmente o árabe mais famoso da política brasileira.
No Paraná, não é diferente. A família Richa fez dois governadores, o pai José e o filho Beto – que também foi prefeito de Curitiba. O mais poderoso de todos, entretanto, nunca deixou o Legislativo. Khury nunca foi mais que deputado estadual, mas por 20 anos foi o político mais poderoso do Paraná – enquanto presidiu a Assembleia, às vezes somente de fato e às vezes de direito, o governador pouco fazia sem sua benção, seja ele quem fosse.
Morto em 1999, Khoury deixou ao seu neto Alexandre Curi (PMDB) seu capital político – ainda que não tenha a mesma força do avô, segue como um dos nomes mais influentes no Centro Cívico. Na Assembleia, temos ainda outro árabe: Hussein Bakri (PSC). Luiz Carlos Hauly (PSDB) e Christiane Yared (PR) – esta, por casamento – são a bancada sírio-libanesa do Paraná na Câmara Federal.
Mas nem só no Paraná e em São Paulo, estados de grande população árabe, vêm os políticos árabes. Vários nomes famosos da política nacional têm raízes no Oriente Médio, incluindo o gaúcho Pedro Simon (PMDB), o cearense Tasso Jereissati (PSDB), o paraense Simão Jatene (PSDB) e a carioca Jandira Feghali (PCdoB).
Filhos de imigrantes de outras etnias bem menos populares na política já governaram o Brasil. A começar por Dilma, que é descendente de búlgaros. Juscelino Kubitschek, que tinha ascendência tcheca, é outro exemplo. Outras etnias, com população maior, também já ocuparam o Palácio do Planalto, incluindo alemães – Ernesto Geisel – e italianos – Emílio Garrastazu Médici, também descendente de espanhois, e Ranieri Mazzili.
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Leia a matéria completaTurcos? Nada disso
A vasta maioria dos árabe-brasileiros emigrou para o país entre os séculos XIX e XX da região conhecida como o Levante, no extremo leste do Mar Mediterrâneo – principalmente dos estados modernos do Líbano e da Síria. Na época, esses dois países não existiam. A região era dominada pelo Império Turco Otomano, o que gerou o apelido de “turcos”. Trata-se de um erro histórico. Turcos e árabes são etnias com cultura, língua e origem completamente distintas, apesar de viverem em pontos próximos do planeta.
O Levante é apenas um pequeno pedaço do mundo árabe, que vai desde a antiga Mesopotâmia – hoje, Iraque – até o Marrocos, no norte da África, passando pela península arábica e pelo Egito. Hoje, mais de 20 países independentes são considerados parte da comunidade árabe.
Além da imigração árabe do início do século, pessoas de outros pontos do mundo árabe tem vindo para o Brasil recentemente – além de refugiados da própria Síria, hoje palco de terrível guerra civil. Se no passado os árabes cristãos eram maioria absoluta entre os imigrantes, os novos árabe-brasileiros são, na maioria, muçulmanos.