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O governo francês manifestou comoção em relação à morte brutal de três franceses que moravam no Rio de Janeiro e atuavam na Terr'Ativa, uma organização não-governamental que desenvolve projetos para menores carentes, nesta terça-feira. Christian Pierre Doupes, de 38 anos, Delphine Douyère, de 36, e Jérôme Faure, de 42, foram mortos, na manhã da terça-feira, na sede da ONG, em Copacabana, Zona Sul do Rio, pelo mesmo homem que eles ajudaram há dez anos: Társio Wilson Ramirez, de 25 anos, um ex-menor de rua que trabalhava na ONG. O ministro Philippe Douste-Blazy divulgou um comunicado no qual diz ter tomado conhecimento, "com profunda comoção, do assassinato, no Rio de Janeiro, de três compatriotas que trabalhavam para uma organização não governamental." O chanceler se colocou à disposição das autoridades brasileiras para ajudar no que for preciso.

- Nosso trabalho é ajudar no trâmite administrativo, atuar no repatriamento dos corpos e tratar também do caso do filho do casal - disse um representante do consulado francês, em entrevista à GloboNews TV.

Três homens foram presos acusados de matar os estrangeiros, entre eles Társio, que trabalhava na ONG há dez anos coordenando projetos de educação e cultura. Társio teria desviado R$80 mil da organização. Segundo o delegado Marcus Castro, que trabalha no caso, o crime foi premeditado . Os criminosos compraram máscaras de clóvis - fantasia de carnaval -, luvas cirúrgicas, gaze e facas na Rua Uruguaiana, no Centro, na semana passada.

O crime repercutiu na imprensa internacional , que tratou ainda da morte de outros quatro franceses na Arábia Saudita, vítimas de um atentado terrorista. Nas reportagens, o Rio é descrito como "umas das megalópoles mais perigosas do mundo". Já no Brasil, o renomado chef francês Roland Villard ficou bastante abalado. Ele era amigo de Jérôme e esteve com a vítima na noite da segunda-feira. Para Villard, os estrangeiros não são vítimas preferenciais da violência no Rio. O chef credita o estado de coisas ao abismo social do país. Também amigo das vítimas, o advogado Alexandre Novel contou que Delphine veio para o Brasil com Jérôme, para fazer doutorado em sociologia. Sua tese era sobre meninos de rua. Ambos se hospedaram com Novel, que ensinou português a ela. Ele alugou o primeiro apartamento para a francesa e foi responsável pela parte jurídica da abertura da ONG no Brasil.

Para o diretor do Teatro Maison de France, Cédric Gottsmann, as coisas estão piorando. Francês, ele vive há muitos anos no Brasil e diz estar cedendo a hábitos vistos, muitas vezes, como paranóicos:

- Recentemente instalei uma porta blindada no meu apartamento. Penso em comprar um carro blindado, também, uma idéia que jamais havia se passado pela minha cabeça. Amo o Rio, escolhi o Brasil, não vivo com paranóia, mas essa violência toda está começando devagar a mexer com a minha cabeça. Aqui o preço da vida é realmente menor.

'Eu não compreendo isso', diz pai de vítima

Delphine e Christian moravam no nono andar do mesmo prédio da ONG, na Rua Ronald de Carvalho, e tinham um filho de 2 anos. O menino estava com a empregada, quando os pais foram mortos. Aos 68 anos, Joseph Doupes, o pai de Christian, perguntou à repórter do jornal " O Globo" o que havia acontecido, ao ser entrevistado sobre o crime, em Paris, onde mora. Ele recebera um telefonema do Rio. Só sabia uma coisa: o filho estava morto. Ele disse que, apesar de a violência do Rio ser conhecida, nunca imaginou que isso pudesse acontecer em Copacabana.

- Disseram para nós que eles morreram. Mas não sabemos nada do que aconteceu. Não esperávamos por essa... Pois é, vamos ao Rio buscar o corpo e nosso neto, no final da semana.

Christian e sua mulher, Delphine, vieram para a França passar o verão europeu na bela região dos Pirineus, onde moram Joseph e sua mulher. Trouxeram o filho. No domingo, Joseph falou pela última vez com Christian: era a festa de aniversário de 2 anos do neto.

- São pessoas que ajudam as pessoas... Eu não compreendo isso - disse, indignado, o pai de Christian.

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