Concursos públicos teriam sido fraudados em todo o país para beneficiar candidatos ligados a políticos, principalmente familiares e assessores. O esquema foi denunciado pelo programa Fantástico, da Rede Globo, na edição do último domingo (17). Representantes de três empresas do Paraná - responsáveis pela organização dos concursos - foram citados pelo Fantástico e teriam participação nos golpes. A investigação da Rede Globo durou dois meses.
As irregularidades citadas pelo Fantástico foram a venda do gabarito, troca dos cartões-resposta das provas para beneficiar os candidatos que participavam das fraudes e cópia de questões de provas aplicadas em outros estados. A reportagem informou que há indícios de irregularidades em provas feitas nos 26 estados e no Distrito Federal, as quais estariam sendo investigadas pelo Ministério Público de cada localidade.
A maior parte das irregularidades foi cometida em concursos municipais. De acordo com o Fantástico, prefeitos e vereadores contratam empresas para organizar as provas e pagam propina para indicar candidatos que devem ser aprovados.
A representante de uma empresa de concursos de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, afirmou que até cinco candidatos poderiam ser aprovados irregularmente por meio do esquema. O contrato para a realização do concurso irregular ficaria no valor de R$ 22,5 mil. Nesse montante já foi calculado o valor de um imposto (R$ 500). Representantes de uma empresa de Curitiba e outra de Maringá revelaram que agiam da mesma forma trocando os cartões-resposta. O resultado seria que o candidato beneficiado teria "acertado" o número de questões suficientes para ser aprovado.
O responsável pela empresa de concursos localizada na capital paranaense disse ainda que os candidatos teriam de ser discretos e sempre deveriam comentar com os conhecidos que estavam confiantes com a aprovação para não levantar suspeita.
As gravações foram feitas pelo Fantástico com câmeras escondidas nos três estados da Região Sul. Todos os envolvidos negaram que havia fraudes quando foram procurados pela reportagem do programa da Rede Globo e tinham conhecimento de que estavam sendo filmados.
A assessoria de imprensa do Ministério Público do Paraná (MP-PR) informou que o procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção ao Patrimônio Público, Arion Rolim Pereira, requisitou oficialmente uma cópia com a gravação da reportagem nesta segunda-feira (17), através de um procedimento administrativo. Com as imagens, será definido o que poderá ser feito por parte da promotoria do Patrimônio Público.
O MP-PR destacou que diversas investigações sobre concursos públicos estão em andamento no Paraná. Não há, porém, um balanço do número exatos de casos e das empresas envolvidas.
Em abril deste ano, por exemplo, o órgão divulgou que a promororia de Justiça de Alto Piquiri ingressou com uma ação civil pública por improbidade administrativa contra o prefeito e o vide de Brasilândia do Sul. Segundo a Promotoria, uma empresa de consultoria teria sido beneficiada em licitação para elaborar um concurso público no município.
Denúncia
A fraude foi denunciada por uma candidata de Novo Barreiro, no Rio Grande do Sul. Ela que participava do esquema, mas não foi aprovada porque as vagas foram "reservadas" a familiares do prefeito. Ela também afirmou à reportagem do Fantástico que as empresas vendem o gabarito antes da prova e que o valor seria descontado na folha de pagamento depois de o candidato assumir a vaga. "Eles justificavam esses descontos como se os funcionários tivessem feito um empréstimo no banco pagos em parcelas." Os bancos negam que esses empréstimos tenham sido feitos. A administração municipal não comentou o caso.
Empresa de Maringá pode ter envolvimento em fraude
A empresa maringaense Cescar, responsável por concursos públicos no interior do Paraná, foi uma das citadas pelo Fantástico como suspeita de envolvimento no suposto sistema de fraudes. Em imagens de câmera escondida, José Roberto Cestari, dono da empresa, aparece negociando a aprovação de candidatos com um repórter do Fantástico, que se apresentou como assessor de uma Prefeitura no interior do estado.
Questionado como seria realizada a fraude, Cestari respondeu "Isso você deixa comigo, que eu sou especialista". Ele explicou ainda que a pessoa que prestaria o concurso deveria fazer a prova normalmente , sem comentar o resultado com ninguém. "Nós trocamos o gabarito depois."
De acordo com informações publicadas no site da Cescar, a empresa realizou concursos públicos para oito Câmaras Municipais e 14 prefeituras como Flórida, Barbosa Ferraz, Fênix, Loanda, Colorado, Nova Londrina, na região Noroeste.
A produção do Fantástico voltou a falar com José Roberto Cestari e o questionou sobre o que ele pensaria de uma empresa que fraudaria concursos públicos. Sabendo que estava sendo gravado ele afirmou: "Eu acho que ela está fazendo uma coisa muito errada", afirmou Cestari.
A reportagem da Gazeta Maringá tentou falar com Cestari na manhã desta segunda-feira (18), mas ele não foi localizado para comentar o caso.