A declaração de um dos executores já condenados pela morte da missionária Dorothy Stang revoltou a promotoria no primeiro dia do julgamento do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o "Bida", acusado de ser um dos mandantes do assassinato.
Rayfran das Neves, condenado a 27 anos por ter efetuado os disparos que mataram a religiosa, mudou a versão dos 12 depoimentos que havia feito à Justiça - e também em seu julgamento - e inocentou "Bida" como um dos mandantes do crime.
Na segunda-feira (14), por duas horas e meia, Rayfran negou a participação do fazendeiro no crime. Nos depoimentos anteriores e em seu julgamento, ele havia afirmado que recebeu R$ 50 mil dos mandantes, incluindo "Bida". A contradição revoltou a promotoria.
Durante a manhã, em seu interrogatório, "Bida" negou três vezes qualquer envolvimento na morte da missionária. Ele afirmou que não conhecia a freira e que não deu ordem para matá-la, mas confirmou que encontrou com os dois executores após o crime. Os advogados do fazendeiro alegam inocência.
O júri foi suspenso por volta das 22h30 de segunda-feira, após sessão que durou mais de 14 horas, e será retomado às 8h desta terça-feira (15) com os debates entre acusação e defesa. Segundo autoridades, a previsão é que o julgamento termine ainda nesta terça.
Durante a madrugada, trabalhadores rurais e ativistas de movimentos sociais realizaram vigília acampando em frente ao fórum. Dois irmãos da missionária também estão em Belém, acompanhando o julgamento do acusado de ser um dos mandantes do crime.
O primeiro dia do julgamento
A primeira testemunha ouvida nesta segunda-feira foi o delegado da Polícia Federal Ualame Filho. A intenção da defesa era mostrar que o nome de "Bida" apareceu mediante confissão obtida ilegalmente. O policial disse que todos os depoimentos foram acompanhados por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O delegado da Polícia Civil Waldir Freire também disse ao júri que a OAB estava em todos os interrogatórios.
A missionária Roberta Lee, da mesma congregação da vítima, contou que Dorothy recebeu título de "persona non grata" da Câmara de Anapu, mas que não ficou abalada. Roberta disse, ainda, que a irmã forneceu comida para invasores de uma fazenda, mas não fazia parte de qualquer quadrilha.
O crime
Dorothy Stang, então com 73 anos, foi assassinada em 12 fevereiro de 2005 em Anapu, no Sudoeste do Pará, com seis tiros à queima-roupa efetuados por dois pistoleiros.
Segundo a promotoria, a missionária foi morta porque defendia a implantação de assentamentos para trabalhadores rurais em terras públicas que eram reivindicadas por fazendeiros e madeireiros da região.
Dorothy trabalhou durante 30 anos em pequenas comunidades da Amazônia pelo direito à terra e à exploração sustentável da floresta.
Os acusados
"Bida" é o quarto acusado de envolvimento no crime a ser julgado. Em dezembro de 2005, Rayfran das Neves Sales, o "Fogoió", e Clodoaldo Carlos Batista, o "Eduardo", foram condenados como executores do crime a 27 e 17 anos de reclusão, respectivamente, por homicídio duplamente qualificado, com promessa de recompensa, motivo torpe e uso de meios que impossibilitaram a defesa da vítima.
Amair Feijoli da Cunha, o "Tato", foi condenado a 27 anos de prisão como intermediário do crime, mas foi beneficiado com a redução de um terço da sentença, devido ao recurso de delação premiada.
Regivaldo Pereira Galvão, o "Taradão", também acusado de ser mandante do crime chegou a ser preso, mas conseguiu habeas corpus e aguarda o julgamento em liberdade.
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