Oposição
Acho que em uma cidade com tantos problemas, como Curitiba, uma aprovação tão alta (a de Beto Richa, que aparece nas últimas pesquisas com mais de 80% de aprovação) não reflete a realidade. Quem visita os bairros vê os problemas que a cidade enfrenta. Mas em política há um outro elemento importante: a oposição. É preciso haver organização por parte da oposição para denunciar problemas. E nos últimos anos foi feita uma oposição fraca, devido à fragmentação da esquerda. Não acho que o PSol seja responsável por isso. Agora é o momento de fortalecer e de lançar pautas para Curitiba, pois o que se vê é um marasmo no questionamento político. Quem sai perdendo é a democracia. Precisamos unir a esquerda, o PSol, o PSTU, o PCB. Precisamos fazer uma oposição ao governo Lula, mas diferente da oposição feita pela direita conservadora
Posição política
Temos cinco candidatos a vereador, o que reflete o tamanho do partido. Mas há que se diferenciar os partidos nanicos de partidos pequenos. Os nanicos não têm projetos de longo prazo, servem mais a interesses políticos, muitas vezes são testas de ferro. Já o PSol é um partido pequeno, mas que tem perspectivas de crescimento. Para elegermos um vereador precisamos de cerca de 20 mil votos. Queremos vincular a votação majoritária à proporcional, até porque os que votam no PSol são os militantes, que realmente acreditam na causa. Não nos baseamos em pesquisas, há muitos questionamentos sobre elas, que têm uma baixa amostragem e uma alta margem de erro. Baseamo-nos pela campanha que estamos fazendo. Se elegermos um vereador, pode-se esperar que ele leve à Câmara pautas, como a socialização da riqueza, o planejamento da cidade que sempre foi excludente. O PSol é um fenômeno histórico e não uma idéia que alguém imprimiu e implantou. Surgiu da ruptura com o PT, mas não é uma repetição dele. Temos condições de ir além do PT. O processo eleitoral é mais importante para lançar discussões para as pessoas. Queremos ocupar lugar no parlamento, mas também lançar pautas para discussão. Na Câmara, pretendemos fazer um processo de mobilização popular para que, com a pressão, seja possível aprovar os projetos que defendemos. Mas precisamos mobilizar a sociedade antes, por isso acho que nessas eleições não temos muitas chances de vitória.
Modelo de socialismo
Não questionamos um modelo, não há um modelo. E não acho que a esquerda seja reconhecida como violenta (respondendo ao questionamento sobre o fato de os regimes de esquerdas que existem atualmente estarem ligados ao autoritarismo, como em Cuba e na China). O que há é um aprendizado, que toma como exemplo os bons exemplos. Claro que há maus exemplos e questionamos isso no PSol. Não se pode pensar como no início do século 20, mas é preciso entender que o capitalismo está em crise no mundo. E como se fala em democracia no capitalismo, se ele impõe barreiras aos cidadãos? Quando falamos em catracas, estamos falando nas barreiras que o sistema capitalista impõe, que impede que um pai busque uma escola para o seu filho, as restrições ao acesso à cultura, educação, moradia. Só é possivel liberdade no socialismo.
Desigualdade social
Curitiba é uma das cidades mais ricas do Brasil, tem um dos PIBs mais altos, mas ao mesmo tempo é muito desigual. A população não percebe essa riqueza. Outro problema é a tributação, que incide de forma mais onerosa sobre os mais pobres, é injusta. Curitiba tem o 19º IDH, mesmo sendo a quarta mais rica. Se a riqueza é concentrada, surgem os problemas. O planejamento urbano da cidade é um modelo, sim, mas de exclusão. Todas as cidades querem copiar o modelo de Curitiba, criar uma área central elitizada. Os mais pobres foram excluídos do mapa de desenvolvimento da cidade.
Linha Verde
Apresentei um estudo sobre a Linha Verde em um encontro no Paraguai, no Instituto Lincoln, que fazia críticas severas à obra. Ela estabelece alguns pólos e é inconcebível que uma obra desse tamanho, que custará mais de R$ 130 milhões só a primeira fase, que vai da PUC até o Pinheirinho, não tenha uma previsão de cobrança de contribuição de melhoria. Esse tributo deve ser cobrado quando é feita uma obra que traz valorização aos imóveis do entorno da obra. Sempre que é feita uma benfeitoria na periferia ele é cobrado, mas nesse tipo de obra, que vai beneficiar grandes empresários não se cobra. A lei da Linha Verde não prevê a cobrança. Além disso, existe uma lei que estabelece incentivos fiscais à empresas a serem instaladas no Tecnoparque, com ISS reduzido de 2%, 10 anos de isenção de IPTU. O imposto deve existir para socializar a riqueza, mas não é cobrado de quem pode mais.
Política fiscal
Dizem que a carga tributária no Brasil é alta, mas isso é balela. Como socialista defendo o aumento da carga, mas de forma justa, progressiva. O IPTU (que é de competência municipal) tem uma progressividade muito fraca em Curitiba, deveria ser mais progressivo. A alíquota sobe de acordo com o valor do imóvel, mas a partir de R$ 100 mil é a mesma. Defendo a adoção da progressão por tempo de desuso, para evitar a especulação imobiliária. O IPTU subiria a cada ano, até alcançar o teto de 15%. Duvido que alguém que pague 15% de imposto continue mantendo o imóvel vazio.
Financiamento público de campanhas
Não acho que seja a solução (para a desigualdade entre os partidos). Acho um crime os partidos que se dizem dos trabalhadores gastarem fortunas com campanhas, e se esse dinheiro for público pior ainda. Acredito que deveriam ser impostos limites de gastos, tetos para as campanhas. Nós do PSol não aceitamos doações de empresas, temos um único caso de doação de pessoa jurídica, que é de um companheiro nosso que é advogado e dou pelo seu escritório. Temos como princípio a realização de campanhas modestas. Outro absurdo é o fato de um partido dos trabalhadores colocar pessoas segurando bandeiras nas esquinas. As pessoas estão desempregadas e acabam aceitando. Não queremos reproduzir esse tipo de plástica, a espetacularização despolitiza.
Passe livre
O primeiro passo seria rever as planilhas de custos e submeter as decisões a auditorias populares. O povo precisa ver como são as contas. Os pneus que são descritos nas planilhas, por exemplo, são de uma frota dos anos 80. O prefeito diz que nossa frota é a mais moderna do país, mas os pneus são de 1980. Depois de revistos os custos, o valor poderia ser baixado até ser zerado. O custo para manter o sistema seria de aproximadamente R$ 500 milhões por ano. As pessoas jurídicas, que têm interesse na mobilidade, poderiam financiar uma parte dos custos., e o IPTU progressivo também geraria recursos para garantir a tarifa zero. Entendemos que, assim como educação e saúde, a mobilidade deve ser gratuita e garantida a todos os cidadãos. Hoje as pessoas têm pouca mobilidade, não se desenvolvem os bairros porque as pessoas ficam restritas ao deslocamento obrigatório, para o trabalho e escola, por exemplo. Acreditamos que o direito de ir e vir deve ser garantido pela prefeitura.
Governo Lula
O Lula mudou o discurso antes mesmo de vencer as eleições (respondendo sobre o fato de o presidente ter dito que é fácil falar e até mesmo blefar quando se é oposição). Ele usa o elemento da governabilidade como argumento para o fato de ceder ao poder econômico. Ele cedeu ao poder econômico e esvaziou os movimentos sociais. Seu primeiro ato foi desarticular os movimentos, com a Reforma da Previdência, quando falou aos trabalhadores que eles deveriam aceitá-la.
Governo Requião
O governo Requião tem muitos problemas relacionados ao processo democrático. É muito autoritário, os professores sofrem com isso. Além disso, há muitas contradições. Se por um lado ele se diz sintonizado aos movimentos sociais, por outro é o governo que mais promoveu reintegrações de posse, mantém presos políticos, os integrantes dos movimentos, que têm por trás de suas prisões motivações políticas. Ele é ligado aos barões do agronegócio. O Reinold Stephanes, que é o ministro da agricultura, está do seu lado. Lula, quando lançou o plano para o agronegócio o fez no Paraná. As relações com os movimentos sociais são mais propaganda que ajuda de fato.
Futuro político
Não vejo minha carreira pessoal, na política, mas o crescimento do partido como um todo, existe um espaço político para ser ocupado. O processo eleitoral exige que se escolha um representante, mas a força é de todos.
Ocupações
Não apoiamos a ocupação, mas o fim do despejo. Existe um estudo da ONU que mostra o quão traumática é a desocupação e Curitiba têm muitas, o que demonstra a frágil política de moradia. Os conflitos precisam ser mediados, as pessoas precisam de moradia. Há imóveis vagos em Curitiba, é preciso acabar com a especulação imobiliária. O IPTU progressivo é um forma, mas se não adianta, depois de cinco anos de desuso poderia-se desapropriar o imóvel para transformá-lo em habitação popular. A política de habitação é desumana, constroem-se casas minúsculas. Depois se fala que o capitalismo prega pelo individualismo. É preciso entender que a ocupação é a última saída para quem não tem uma moradia digna. Apoiamos os movimentos dos trabalhadores rurais sem terra, mas a luta do MST é suprapartidária. É um absurdo que não se tenha feito até hoje a reforma agrária no Brasil. A democracia passa pelo acesso à terra.
Sim, é possível
Obama é uma pessoa fascinante, um fenômeno. Ele toca no inconsciente das pessoas, naquilo que têm como modelo de opressão, como nós (respondendo ao questionamento sobre seu slogan ser o mesmo do candidato à presidência norte-americana, Barack Obama).
Mensagem aos eleitores
É preciso melhorar a vida dos trabalhadores e garantir mais igualdade. Esse é o nosso lema, o nosso tema da campanha, por isso que fala-se tanto em catracas. É preciso socializar a riqueza.
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