Discurso x prática
A presidente Dilma Rousseff (PT) conseguiu vencer a eleição mais difícil desde a redemocratização do país. A disputa acirrada fez com que a petista intensificasse as críticas aos opositores e também maquiasse a crise que batia à porta do governo. Segundo o professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, a tática foi vitoriosa, mas trouxe problemas posteriores à presidente. “Depois de eleita, todas as medidas anunciadas foram contrárias ao que ela falou em campanha e, inclusive, alinhadas com os opositores”, avalia. Ele cita como exemplos o aumento nos custos de energia elétrica e da gasolina, mudanças em regras trabalhistas (com a restrição de acesso ao seguro-desemprego, abono salarial e auxílio-doença), e modificações nas normas de pensões.
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Reformas ministeriais
O temido ajuste fiscal para combater os efeitos da crise econômica atingiu em cheio o primeiro escalão do governo federal nos primeiros dias de segundo mandato, com a entrada do ministro Joaquim Levy no lugar de Guido Mantega na Fazenda. O nome de Levy desagradou à esquerda. A posterior saída dos ministros da Educação, Cid Gomes, e da Comunicação Social, Thomas Traumann, também abalou o Planalto. No lugar deles foram anunciados o filósofo e professor Renato Janine Ribeiro e o ex-deputado Edinho Silva, respectivamente, numa demonstração de afago à militância petista. Diante das recentes crises com o Congresso, Dilma também se viu obrigada a escalar seu vice, Michel Temer (PMDB), na articulação política.
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Escândalo
As denúncias de corrupção na Petrobras com a Operação Lava Jato alcançaram um patamar ainda maior quando da divulgação da lista de políticos supostamente envolvidos no esquema, no mês passado – a maior parte deles, da base aliada do governo. “No ano passado já se olhava para isso como uma fonte de instabilidade política e agora houve uma fragilização ainda maior da credibilidade do governo federal”, diz o cientista político do Grupo Uninter Helio Godoy. O avanço das investigações e das denúncias também mostra, segundo o cientista político Doacir Quadros, a necessidade de maior transparência dos atos governamentais.
Relação com o Legislativo
A mudança de discurso pós-eleição, as reformas impopulares e as denúncias de corrupção fizeram a popularidade da presidente Dilma Rousseff cair entre os brasileiros e afetaram a relação do governo com o Congresso. “Tudo isso está refletindo no comportamento dos parlamentares, dificultando a margem de negociação e tornando o Legislativo mais hostil”, afirma o cientista político do Grupo Uniter Doacir Quadros. A recente aprovação do texto-base do projeto que regulamenta a terceirização no país, sobre o qual o governo se posiciona contrário, é um dos exemplos dessa fragilidade.
Protestos
A instabilidade política e econômica dos primeiros cem dias de mandato é sentida literalmente nas ruas do Brasil: a desaprovação de Dilma Rousseff é de 62%, segundo pesquisa Datafolha divulgada no mês passado. A insatisfação levou parte da população a protestar em todo país – alguns, inclusive, pediram a saída da presidente do cargo. Nova manifestação está marcada para o próximo domingo (12). Para o professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, a atitude inicial do governo diante da reação popular provocou uma revolta ainda maior. “Houve um discurso de defesa, de que a presidente estaria sofrendo preconceito, mas isso não se mostrou na prática.”
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