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Humberto Costa (PE-PT), senador: governo também deseja apurar outras denúncias de irregularidades | Pedro Franca/ Ag. Câmara
Humberto Costa (PE-PT), senador: governo também deseja apurar outras denúncias de irregularidades| Foto: Pedro Franca/ Ag. Câmara

Plano

Comissão que investigará a Petrobras vai mirar políticos e não empresas

Agência Estado

Elaborado com aval do Palácio do Planalto, o plano de trabalho apresentado ontem na CPI mista da Petrobras tem dois objetivos: mirar a oposição, em uma reedição do script seguido pela comissão exclusiva com os senadores; e focar as investigações mais em personagens políticos do que em empresas fornecedoras da estatal.

O cronograma de trabalho, que deve ser votado hoje, se baseia em depoimentos de personagens, como o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef e do também ex-diretor Nestor Cerveró. A proposta do relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), é ouvir a presidente da Petrobras, Graça Foster, e o antecessor, José Sergio Gabrielli, mais adiante. Ambos já depuseram na CPI do Senado e na Comissão Externa na Câmara. "Eles já foram ouvidos exaustivamente e, nesse momento, ouvi-los novamente seria mais do mesmo", destacou Maia. O roteiro só não foi aprovado ontem porque houve um pedido de vista coletivo.

Estratégia

A base quer aproveitar a maioria governista para destacar denúncias de superfaturamento sob a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de elencar irregularidades no Porto de Suape, num ataque a Eduardo Campos (PSB), provável adversário de Dilma Rousseff nas urnas.

As referências à oposição aparecem em três dos quatro eixos de investigação. Em um deles, referente à compra da refinaria de Pasadena, o relator propõe investigar o fato de a Petrobras, em 2001, ter promovido uma troca de ativos com a companhia ibero-argentina Repsol YPF para conseguir o controle da refinaria de Bahia Blanca, no país vizinho. A suspeita é de que a operação tenha causado prejuízo de cerca de US$ 2,5 bilhões à Petrobras. Em relação a Pasadena, ativo que a própria Petrobras reconhece ter perdido US$ 530 milhões com a operação, não há qualquer menção.

Com o objetivo de desgastar o PSDB em ano eleitoral, senadores governistas vão instalar até a semana que vem no Congresso a CPI do Cartel do Metrô de São Paulo. A estratégia do PT será realizar uma investigação rápida, aproveitando a presença dos deputados e senadores em Brasília, antes do recesso parlamentar de julho.

Senadores petistas vão tentar instalar a CPI amanhã. Se não houver tempo, porque o prazo para as indicações dos membros termina hoje, a data máxima para que a comissão de inquérito inicie os seus trabalhos será dia 10 de junho. Se a oposição não indicar os membros, caberá ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), escolhê-los por conta própria.

Líder do PT, o senador Humberto Costa (PE) disse ontem que as investigações devem durar cerca de um mês. Costa admitiu que, com a Copa do Mundo, o Congresso vai estar "esvaziado" em junho. Mas afirmou que, como a oposição insistiu em investigar a Petrobras, o governo também deseja apurar outras denúncias de irregularidades. "Como estamos na investigação, que investiguemos tudo."

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) disse que o PSDB vai indicar os membros para a CPI do Cartel do Metrô e participar das investigações. Mas considera que a disposição do governo em acelerar os trabalhos da comissão de inquérito mostra que ela será "chapa branca". "Sabe-se que há um trabalho do governo para a sua instalação. O PSDB não vai se recusar, não vai se furtar a participar. Mas é evidente que não se investigará recursos repassados pelo governo federal a vários metrôs do país. Esse anúncio do governo já pressupõe uma CPI chapa branca", afirmou.

Ao mesmo tempo

Os governistas não estão dispostos a encerrar os trabalhos da CPI da Petrobras do Senado, que sofre boicote da oposição e tem apenas entre os seus integrantes aliados da presidente Dilma Rousseff. A CPI mista, com deputados e senadores, tem a presença da oposição, mas DEM, PSDB e PPS possuem apenas oito das 32 cadeiras. Costa disse que, mesmo com o funcionamento de duas CPIs da Petrobras, a governista deve ser mantida em obediência à decisão do Supremo Tribunal Federal. "Se a oposição quer que se encerrem os trabalhos, que recorra a STF", disse. Alvaro afirmou que o recurso está "fora de cogitação" e a manutenção de duas CPIs é um "absurdo" e trabalha contra a "eficiência" do Congresso. "O nosso desejo é que ocorra a fusão, que concentremos os trabalhos da CPI mista. Não há desejo que se investigue nada da parte do governo."

"Não posso falar", diz Graça

A presidente da Petrobras, Graça Foster, recusou-se ontem a rebater as declarações do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa à Folha de S. Paulo de que a empresa aprovou a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, com base em "conta de padeiro" alegando que não podia falar do tema. A "conta de padeiro" apontava custo de US$ 3 bilhões no projeto brasileiro. A refinaria deverá ser concluída no próximo ano com um investimento de US$ 18,5 bilhões. "Não é que eu não queira falar. Eu não posso falar", disse Graça.

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