Esboço do projeto da “Cidade X”| Foto: Reprodução/jaimelerner.com

O arquiteto e urbanista Jaime Lerner projetou um município inteiro para o empresário Eike Batista, preso em um desdobramento da Operação Lava Jato. A “Cidade X” – como seria chamada – se localizaria junto a São João da Barra, no litoral norte do Rio de Janeiro, mas não chegou a sair do papel. O complexo corresponderia à parte imobiliária do Superporto Açu, um megaprojeto que começou a ser realizado pelo grupo de Eike, antes de ser repassado a outra empresa.

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O escritório de Lerner não atendeu ao pedido de entrevista nem respondeu os questionamentos enviados pela Gazeta do Povo. Em seu site, no entanto, o projeto consta entre o portfólio do arquiteto, datado do ano de 2011. O texto descreve que se trata da revisão do plano diretor de São João da Barra, com proposições relacionadas ao desenvolvimento urbano, “visando fazer frente ao crescimento urbano e a transformação prevista nos próximos anos”.

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Segundo a prefeitura de São João da Barra, Lerner foi contratado por meio de um convênio firmado entre o município e a REX (empresa de desenvolvimento imobiliário, ligada ao Grupo EBX, de Eike Batista). Em 2012, o arquiteto chegou a participar de um evento na cidade fluminense, em que apresentou seu projeto com as propostas de revisão do plano diretor.

Demonstrou que o projeto contemplava todos os eixos de desenvolvimento do município, além de prever áreas de proteção ambiental, corredores de extensão urbanas, áreas para expansão agrícola, zonas de implantação de empreendimentos comerciais e de serviços. Além disso, Lerner vislumbrou todo um sistema de transporte coletivo e gabaritos para prédios. Na ocasião, o arquiteto destacou a integração que o projeto proporcionava.

“A cidade é uma estrutura viva, de trabalho e de movimento. Quando as coisas são separadas, seja por classe social, idade ou qualquer outra coisa, não costuma dar certo. Existe a necessidade de uma cidade para todos e eu não trabalharia em um projeto que não tivesse essa missão”, explicou, em matéria publicada pela prefeitura de São João da Barra, em 2012.

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O projeto vinha ao encontro do que visionava Eike: que o Superporto se consolidasse como o maior empreendimento logístico da América Latina e que a “Cidade X” tivesse vida própria, abrigando 50 mil pessoas – além das quase 35 mil que, hoje, moram em São João da Barra. Segundo a prefeitura de São João da Barra, Lerner havia sido contratado pelo Grupo EBX para conceber também o projeto de um novo bairro no município.

Na ocasião, no entanto, o projeto recebeu críticas, principalmente, pelo fato de Lerner ter sido pago pelo grupo de Eike. Havia questionamentos se, por este motivo, as propostas sobreporiam os interesses privados sobre o interesse público.

O Superporto Açu

O Superporto Açu foi inaugurado em junho de 2016. Após o colapso financeiro do grupo de Eike Batista, o empreendimento logístico foi concluído pela Prumo Logística. Considerado o maior porto da América Latina, a estrutura está avaliada em R$ 3,7 bilhões. O complexo industrial – que tem mais de 25 quilômetros de docas e píeres – é do tamanho da ilha de Manhattan, nos Estados Unidos.

A derrocada

Além de não ver seu sonho construído e testemunhar o colapso de seu grupo de empresas, Eike Batista foi preso na segunda-feira (30), acusado de pagar propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), por meio de operações financeiras no Panamá.

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