Uma capela azul, na periferia de João Pessoa, na Paraíba. Esse é o centro da devoção e da esperança das empregadas domésticas que chegam todas as manhãs. Elas são como peregrinas atrás de uma benção muito esperada: querem um emprego. As orações são dirigidas à santa protetora, venerada naquele lugar simples, mas cheio de fé.
"Estou precisando muito. Se ela me concedesse esse emprego, seria um milagre para mim", diz a doméstica desempregada Rosineide Ramos dos Santos.
Ela não está entre os santos mais conhecidos dos brasileiros e pouca gente sabe que é graças a essa santa que 27 de abril passou a ser o Dia Nacional das Empregadas Domésticas. A comemoração acontece no dia em que ela morreu, ainda no século XIII, na Itália. Desde menina, Santa Zita trabalhou como empregada. Teve uma vida marcada pelas virtudes, a compaixão e a dedicação aos mais necessitados, fama que a tornou padroeira das empregadas domésticas.
Quem procura ajuda é levada ao encontro da santa. Irmã Ana César Bonfim, uma religiosa de 76 anos, faz as apresentações: "Quem veio pela primeira vez e não conhece Santa Zita, ela é a santa doméstica. Então, vamos pedir com fé a essa nossa protetora para arranjar um trabalho".
Não importa a religião, irmã Ana pede à santa em nome de todas as domésticas desempregadas. E já são 30 anos invocando os poderes de Santa Zita. Missão que lhe garante um cargo especial: "Secretária de Santa Zita", conta.
A secretária de Santa Zita promove o encontro entre quem procura emprego e as patroas que precisam de empregadas. Cuidadosa, faz o cadastro das trabalhadoras, pede documentos, referências e ensina sobre os direitos. "Não aceitem menos que um salário. E a carteira deve ser assinada. Pelo menos quando estiverem velhinhas vão receber o salário de vocês sem precisar de ninguém".
Irmã Ana também dá conselhos e puxões de orelha: "As domésticas gostam de fofocar. Eu reclamo muito para que as domésticas não transmitam para outras quando virem qualquer coisa nas casas".
Entre um sermão e outro da irmã Ana, as empregadas esperam. Muitas vezes, os minutos parecem se arrastar enquanto o telefone não toca.
Pelo telefone ou pessoalmente, as patroas procuram a Casa de Santa Zita. A enfermeira Ana Cristina Cruz, casada, mãe de duas filhas, diz o tipo de profissional que procura: "É para ela cuidar de tudo lá em casa, porque eu trabalho em dois expedientes". A folga é quinzenal. Apenas Josileide Alexandre da Silva se interessa pela oferta
"Faz um mês que eu estou parada. Mas, graças a Deus, apareceu", comemora.
"Estou apostando e esperando que dê certo", diz Ana Cristina.
Irmã Ana sela o acordo. Ana Cristina e Josileide vão tentar uma parceria que dá certo para mais da metade das patroas e empregadas que procuram a Casa de Santa Zita. Só no ano passado, das 700 domésticas que foram até lá, 450 conseguiram trabalho.
Raimunda Maria de Aguiar, de 40 anos, mãe de dois filhos, conseguiu emprego através da Casa de Santa Zita. Devota da santa, dona Olga, sugeriu à filha que procurasse a auxiliar com a irmã Ana.
A psicóloga Lúcia de Fátima Nascimento acredita no poder de Santa Zita, que, segundo ela, protege também as patroas. "Ela jamais levaria alguma empregada que fosse prejudicar a patroa".
Raimunda Maria também se apegou à Santa Zita. Sem estudo, ela encontrou no trabalho doméstico o único jeito de sustentar os dois filhos. Mas não vê futuro na profissão. "A gente sabe que tem que ser doméstica toda a vida, porque a gente não estudou e não tem outro serviço para ser oferecido", diz.
Raimunda Maria lamenta não ter tido a chance de estudar para tentar outras oportunidades. "Não é toda casa que acolhe a gente. Às vezes a gente quer fazer as coisas direito e encontra casas que são ruins", desabafa.
Nos momentos de desespero e de aflição, Raimunda Maria e todas as domésticas podem contar com Santa Zita, a protetora de quem ganha a vida com um trabalho digno.