A advogada Janaína Paschoal, uma das três autoras do pedido de impeachment contra a presidente da República Dilma Rousseff, afirmou na tribuna do Senado na manhã desta terça-feira (30) que não há qualquer “conluio” contra a petista. “Eu acho que se tiver alguém fazendo algum tipo de composição nesse processo é Deus. Foi Deus que fez com que várias pessoas, ao mesmo tempo, cada uma na sua competência, percebessem o que estava acontecendo com o nosso país e conferisse a essas pessoas coragem para se levantarem e fazerem alguma coisa a respeito”, disse ela.
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O discurso foi em referência a fatos repetidos pela defesa e que envolvem o deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), membros do Tribunal de Contas da União, políticos da oposição e os autores do pedido de impeachment. “Eles alegam o todo tempo que foram vítimas de vários conluios. Mas, nós, brasileiros, é que somos vítimas de uma fraude”, disse ela, que se manifestou durante cerca de uma hora, no tempo reservado à acusação. Em seguida, o advogado Miguel Reale Júnior, também autor do pedido de impeachment, falou por mais meia hora.
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Leia a matéria completaEmocionada, Janaína Paschoal disse ainda que, mesmo “convicta” de que a presidente Dilma cometeu crime de responsabilidade, ela pede “desculpas” à petista. “Sei que a minha decisão causa sofrimento. E a situação que ela está vivendo não é fácil. Mas eu espero que um dia ela entenda que eu fiz isso pensando nos netos dela”, discursou a advogada.
O advogado Miguel Reale Júnior seguiu linha de argumentação semelhante. “Ela [a presidente Dilma] está de costas para a nação. Atribui o processo a Eduardo Cunha, mas esse processo nasceu das ruas. Esse é o momento de mudança de mentalidade. A herança do lulopetismo é a legitimação da esperteza malandra e é isso que o país não quer mais”, atacou ele.
Miguel Reale Júnior também disse que a presidente Dilma tinha conhecimento “em detalhes” da sua política financeira “irresponsável” e que a petista não conseguiu responder, na segunda-feira (29), as perguntas dos senadores. “As respostas ontem eram as mesmas. Resposta padrão, independente qual fosse a pergunta. Em uma demonstração de desrespeito a quem pergunta”, criticou ele.
O advogado também aproveitou para responder a uma declaração da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que sustenta que os senadores não têm “moral” para julgar a presidente Dilma. A frase, dita na semana passada durante o julgamento, foi rechaçada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e tem repercutido até hoje no plenário. “O Senado tem estatura moral sim para realizar este julgamento e dar um veredicto pela condenação. Esse Senado honra esse país”, disse Miguel Reale Júnior, acrescentando que o Congresso Nacional ao longo dos nove meses do processo de impeachment deu um “exemplo de democracia ao mundo”.
“Deus não tem nada a ver com o golpe”
O tom político da acusação irritou aliados da presidente Dilma. Ao final, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) fez uma questão de ordem “para registrar uma reclamação” contra o que classificou de “discurseira política dos advogados”.
“Achei que a acusação faria uma manifestação baseada em fatos jurídicos e técnicos. O que eles fizeram foi um debate político. Nada contra, mas para fazer debate político é necessário se submeter ao voto nas urnas”, protestou a petista. “Janaína invocou Deus, Deus não tem nada a ver com golpe. Invocou netos, chorou. Não estamos fazendo encenação. Lamentável a qualidade técnica e jurídica da acusação”, afirmou a senadora.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) saiu em defesa dos advogados, cutucando a senadora do Paraná. “Ela vem se especializando em ofender o Senado”, iniciou ele. Aécio Neves elogiou ainda as falas de Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior, “que se manifestaram com consistência, brilhantismo e coragem”. “O que nós assistimos nos encheu de orgulho e tenho certeza que falo por milhões de brasileiros”, afirmou o senador.
O advogado de defesa da presidente Dilma, José Eduardo Cardozo, também tem direito a 1h30 para uma manifestação.
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