Grupo de Cachoeira queria recriar loteria no PR
Em e-mails interceptados pela PF, empresário ligado ao bicheiro fala sobre um suposto encontro com Beto Richa para tratar da volta do serviço de jogos estadual
Eleições
Delta fez doações a políticos de forma indireta, diz jornal
Da Redação, com Agência O Globo
Investigação da Polícia Federal revela que a construtora Delta repassou dinheiro a Alberto e Pantoja Construções e Transportes, empresa de fachada do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que por sua vez transferiu recursos a outras empresas que fizeram doações de campanha. Entre os políticos que receberam recursos repassados por estas empresas estão o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, praticamente todo o dinheiro que a Alberto e Pantoja criada em maio de 2010 movimentou teve a Delta como origem. Foram R$ 26,5 milhões até abril de 2011. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, a construtora de fachada registrou operações atípicas no período eleitoral, num total de R$ 17,8 milhões. À Folha de S.Paulo, políticos que supostamente receberam recursos repassados por Cachoeira disseram que não há irregularidades nas contribuições.
"Mal entendido"
O empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, negou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que tenha oferecido propinas para conseguir contratos de obras públicas. Cavendish foi pego em uma gravação dando a entender que se desse R$ 30 milhões a políticos conseguiria vencer licitações, mas ele afirmou que isso foi um mal-entendido. Cavendish disse ainda que faz doações a campanhas eleitorais para estar "bem posicionado", mas nega que isso seja um "toma lá, dá cá". "Se apoio projetos, faço doações, não é que depois vá ganhar [licitações para obras]. Mas posso estar pelo menos bem representado, tenho a oportunidade de ter informação dos futuros investimentos, das prioridades políticas." Ele negou que haja "sócios ocultos na empresa".
Temendo uma queima de arquivo, o Conselho de Ética do Senado decidiu enviar ofício ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, comunicando a preocupação com o fato de o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, estar dividindo uma cela com 22 presos, na Penitenciária da Papuda, em Brasília.
"Tem tanta coisa envolvida, tanta gente com medo do senhor Cachoeira! Colocá-lo em uma cela com não sei mais quantos presos, daqui a pouco ele aparece morto. A União é responsável pela vida do senhor Cachoeira", afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS), fazendo uma comparação com a morte de Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e peça-chave no suposto esquema de corrupção montado no governo à época.
Cachoeira é peça fundamental na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada ontem pelo Congresso. A Secretaria Geral da Mesa do Senado, que faz a conferência das assinaturas para a criação da CPI mista, confirmou o apoio de 72 senadores e 337 deputados. O bicheiro está preso desde 28 de fevereiro pela Operação Monte Carlo, acusado de explorar jogos ilegais de azar e comandar um grande esquema de corrupção. Ele ficou quase todo o tempo no presídio de Mossoró (Rio Grande do Norte), e na quarta-feira foi transferido para Brasília.
A CPMI terá duração de seis meses, podendo ser prorrogada. Dos 30 integrantes da comissão, 18 já foram definidos pelos partidos. Até ontem à noite, apenas PT e PP não haviam divulgado os nomes dos indicados. Os petistas indicarão o relator, e o PMDB definiu o senador Vital do Rêgo (PB) como presidente.
Ontem, o Conselho de Ética do Senado decidiu pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso ao inquérito a que responde o senador Demóstenes Torres para instruir o processo de quebra de decoro contra o parlamentar. O pedido de envio dos autos foi aprovado, por unanimidade, um dia depois de uma comitiva de quatro senadores ter se reunido com o ministro Ricardo Lewandowski, relator da investigação no Supremo. O presidente do conselho, Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), afirmou que, no encontro de ontem, Lewandowski não deu certeza de que enviará ao conselho os autos, que correm sob segredo de Justiça.
ParanáRequião quer que CPMI convoque Beto Richa
A partir da informação de que o grupo de Cachoeira teria se encontrado com o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), para reativar o serviço de loterias do estado, o senador Roberto Requião (PMDB) sugeriu que a CPMI chame o tucano para esclarecer o fato. "O grupo que está no governo hoje, depois da moralização que fizemos no nosso governo, é o mesmo grupo que liberou o bicho." A CPMI começará os trabalhos na quarta-feira.
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