Eles representam 42% da Câmara Federal. Foram os grandes responsáveis pela aprovação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) na Casa. E agora têm ditado decisões importantes para o governo Michel Temer (PMDB). São os 218 deputados do “centrão”, que passaram a comandar a Câmara desde a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a Presidência da Casa. Agora, num passo ainda mais ousado, pretendem eleger o sucessor do peemedebista.
Veja quem são os concorrentes mais fortes do centrão à presidência da Câmara
Arquitetado por Cunha, o bloco é composto por 13 partidos: PP, PR, PSD, PTB, PRB, PSC, Pros, SD, PEN, PTN, PHS, PSL e PTdoB. Hoje, o grupo é a principal força política na Câmara, como ficou demonstrado na votação do impeachment, quando 82% dos seus parlamentares se posicionaram contra Dilma e praticamente definiram a derrota da petista – com quem também negociaram o voto até o último momento.
A postura anti-PT, porém, está longe de representar apoio incondicional a Temer. Antes mesmo da primeira votação na Casa sob a nova gestão, o presidente interino não conseguiu emplacar o líder do governo que gostaria e teve de ceder à pressão do centrão. A contragosto, a vaga ficou com André Moura (PSC-SE), umbilicalmente ligado a Cunha, ao contrário do que queria o Planalto. O grupo ainda conquistou seis cadeiras na Esplanada – entre elas a do paranaense Ricardo Barros (PP) na Saúde − e postos importantes no segundo escalão.
“O centrão se criou como uma espécie de polo de poder para se contrapor às forças majoritárias de PMDB e PSDB. O grupo é a expressão de um conjunto de forças políticas que se organizou em torno de uma agenda de poder”, analisa o cientista político Murillo de Aragão, presidente da consultoria Arko Advice.
União
Além de marcar território na briga por espaço e poder em Brasília, o centrão tem outros dois elos bastante fortes. O primeiro deles é o perfil conservador do grupo, formado majoritariamente pela chamada “bancada BBB” da Câmara: do boi, da Bíblia e da bala. No total, o bloco controla 53% da bancada evangélica, 49% da bancada da segurança pública e 46% da bancada ruralista.
“É uma bancada com uma agenda muito conservadora do ponto de vista social, ligada a valores tradicionais. Isso também ajudou a aglutiná-la em torno da liderança do Cunha, que é um sujeito que defende sem nenhuma reserva sua religião, os valores que profeça”, afirma Antônio Augusto de Queiroz, analista político e diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Outro ponto que une o grupo são os problemas com a Justiça. Segundo o projeto Excelências, da ONG Transparência Brasil, 62% dos deputados do centrão têm pendências no Judiciário e em tribunais de contas. Como comparação, o índice entre os 513 parlamentares federais é de 53%.
Força emergente
Além do poderio numérico no plenário da Câmara, o “centrão” trabalha para eleger o próximo presidente da Casa. Veja quem são os líderes do grupo e nomes mais fortes na disputa.
Rogério Rosso (PSD-DF)
Ex-governador tampão do Distrito Federal, é líder do PSD de Gilberto Kassab, ministro de Ciência e Tecnologia e Comunicações. Logo no primeiro mandato como deputado federal, presidiu a comissão que aprovou o parecer a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Jovair Arantes (PTB-GO)
Líder da bancada do PTB na Câmara, exerce o 6.º mandato consecutivo. Pelas mãos de Eduardo Cunha, foi o relator da comissão do impeachment na Casa. No governo Dilma, controlava a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), tendo indicado todos os presidentes do órgão desde 2011.
André Moura (PSC-SE)
Um dos mais fiéis integrantes da tropa de choque de Cunha, é o líder do governo Temer na Câmara. Dono de uma longa ficha judicial, é investigado na Lava Jato por corrupção passiva, ativa e lavagem de dinheiro em operações envolvendo o banco Schahin. Ainda responde a seis inquéritos no STF, um deles por tentativa de homicídio. Exerce o segundo mandato na Casa.
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB)
Líder do maior partido do centrão, o PP, está no segundo mandato de deputado federal. Foi ministro das Cidades no governo Dilma entre fevereiro de 2012 e março de 2014. É investigado na Lava Jato por suposta formação de quadrilha para prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
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