O empresário Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa (PSDB), iria ficar com os R$ 280 mil que o governo do estado devia para a Providence Auto Center, por serviços que já tinham sido prestados, segundo depoimento do contador J osé Wilson de Souza. O pagamento não chegou a ser feito.
O depoimento de Souza foi prestado no dia 16 de março, quando foram cumpridos os mandados de prisão contra Abi, Ismar Ieger, que aparece como proprietário da empresa, e mais três pessoas, na deflagração da Operação Voldemort. De acordo com as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Abi seria o verdadeiro dono da oficina e Ieger seria um “laranja”.
A Providence ganhou a licitação realizada em dezembro para um contrato emergencial para o conserto dos carros do governo na região. O Ministério Público ofereceu denúncia contra o grupo supostamente liderado por Abi alegando que a licitação foi fraudada.
No depoimento, Souza toca no assunto ao ser questionado pelo promotor Renato Lima Castro sobre uma conversa por telefone que ele manteve com José Carlo Lucca, advogado de Abi e que também é réu no processo – o diálogo foi interceptado com autorização judicial.
Souza diz que “a situação estava ‘complicada’” e afirmava que “o rapaz poderia sair do esquema quando clareasse o negócio”. No depoimento, o contador explicou que “o rapaz” era Ismar Ieger e que a expressão “clarear o negócio” se referia à dívida de R$ 280 mil do governo com a oficina pelos serviços já prestados. “Com a efetivação do pagamento, Luiz Abi pretendia receber integralmente o valor pago”, disse Souza ao MP.
Souza relata ainda que foi contratado por Abi através de Lucca para fazer um relatório sobre “a saúde financeira da Providence”. Segundo o contador, sua contratação “causou constrangimento e desconfiança” em Ieger, que entendeu que Abi estaria desconfiando dele.
Procurado, o advogado Antônio Carlos Coelho Mendes, que defende Abi, não quis se pronunciar, assim como Mauro Martins, advogado de Ieger.
Dinheiro vivo
Ainda de acordo com Souza, foi Abi quem realizou “todos os investimentos e todos os pagamentos da empresa [Providence]”. Segundo ele, os pagamentos eram feitos em dinheiro –o contador disse ter ouvido do advogado José Carlos Lucca que Abi entregaria o dinheiro a Roberto Tsuneda, sócio minoritário da KLM, e este faria os pagamentos. Na ação proposta na semana passada, o Ministério Público afirma que foram R$ 423 mil.