Contadora diz ter sofrido ameaças de Alberto Youssef
O doleiro Alberto Youssef chegou a ameaçar sua ex-contadora Meire Poza após ela tentar, pela terceira vez, pedir demissão do grupo comandado por ele. A informação foi dada por Poza em depoimento à CPMI da Petrobras: "Youssef perguntou em tom de brincadeira se eu já tinha visto o filme O Poderoso Chefão, ele disse Aqui é como a máfia, quem entra não sai".
A conversa teria ocorrido em setembro de 2013. A primeira tentativa de Meire Poza para se desvincular das empresas de Youssef seria em 2012. "Eu recebi o recado para eu ficar quietinha porque tinha uma filha para criar", disse. Entre as duas tentativas, ela chegou a fazer outro pedido formal de desligamento no início do ano passado, também ignorado pelo grupo.
"Eu comentei com o Enivaldo [Quadrado, sócio de Youssef], que, se um dia acontecesse qualquer problema, eu contaria tudo aquilo que eu soubesse", respondeu Meire Poza ao deputado Afonso Florence (PT-BA) após ser questionada sobre o porquê teria resolvido falar sobre a sua relação com o doleiro.
Renan nega encontro com doleiro
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), divulgou nota na tarde desta quarta-feira em que nega ter se encontrado com o doleiro Alberto Youssef, atualmente preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A contadora Meire Poza havia admitido que seu ex-cliente Alberto Youssef se reuniu com Renan Calheiros para tratar de uma operação milionária de compra de debêntures para a Marsans Viagens e Turismo, uma agência de turismo que tinha Youssef como um dos investidores.
O caso foi revelado no dia 5 de setembro pelo site do Estadão, quando a reportagem revelou a citação do nome do presidente do Senado na delação premiada que estava sendo feita, na ocasião, pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Meire Poza relatou que, no dia 12 de março pela manhã, ela e Youssef tomaram café da manhã juntos, ocasião em que o doleiro disse que, naquela noite, ele iria conversar com Renan Calheiros para tratar do aporte de R$ 25 milhões do Funcef. Segundo ela, a outra parte da operação, também no valor de R$ 25 milhões, já tinha sido acertada com o PT e seria feita por meio da Postalis.
Em nota, Renan Calheiros reitera que "não conhece a pessoa mencionada no noticiário como doleiro Alberto Youssef e que só soube da existência do mesmo após as informações publicadas pelos jornais". "O senador, portanto, reafirma que nunca esteve, agendou conversas e nunca ouviu falar de Alberto Youssef e de sua contadora", afirma o presidente do Senado.
O doleiro Alberto Youssef já teria acertado receber R$ 25 milhões da "ponta do PT" para saldar dívidas de uma empresa dele, a operadora de turismo Marsans, segundo a contadora Meire Poza. Ela presta depoimento neste momento à CPMI da Petrobras, em Brasília. O dinheiro viria do Postalis, o fundo de pensão dos Correios, por meio de acordo entre PT e PMDB. "A pessoa do Postalis [fundo de pensão dos Correios] nomeada pelo PT já havia resolvido e faltava a ponta do PMDB", disse a contadora. Ela disse que a afirmação de Youssef foi feita em março deste ano, pouco antes de ser preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal (PF).
Poza reafirmou o que teria dito à PF, em depoimento, de que Youssef teria vindo a Brasília para negociar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "A ponta do PT já estava acertada e faltava acertar a ponta do PMDB para a Postalis fazer o acerto de R$ 25 milhões."
A empresa de Poza também intermediou o empréstimo de R$ 4 milhões de Youssef com o banco Stock Máxima para pagar salários atrasados de funcionários da Marsans. "Os R$ 4 milhões eram algo urgente", disse Poza. Segundo ela, nem a operadora de turismo pagou o que devia a Poza nem ela quitou a dívida com o banco. A contadora também declarou que não foi acionada pelo banco para quitar suas dívidas.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou em 16 de setembro a falência do Grupo Marsans, operadora de turismo que fechou as portas em junho e deixou cerca de 4.500 clientes na mão. A decisão foi tomada porque a empresa não apresentou o plano de recuperação judicial no prazo previsto. As dívidas da companhia estão estimadas em R$ 57 milhões.
Marcos Valério
A contadora Meire Poza admitiu ter guardado um contrato - apreendido pela Polícia Federal em seu escritório - de um empréstimo de R$ 6 milhões entre a 2 S Participações LTDA, empresa de Marcos Valério, e a Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto, mas disse desconhecer sua utilização por Enivaldo Quadrado. "Eu não tenho conhecimento de que tenha havido nenhum tipo de chantagem. Quando ele me pediu para que eu guardasse esse contrato, em momento algum ele falou para que ele tinha utilizado ou para que ele tinha utilizado. Eu só soube do teor depois da publicação da revista Veja", explicou.
Em depoimento à CPMI da Petrobras, ela disse que ficou encarregada de buscar R$ 15 mil durante três meses com uma pessoa ligada ao diretório nacional petista. Mas ela negou ter conhecimento de que Alberto Youssef operasse um esquema de lavagem de dinheiro com prefeituras do PT. "Uma das coisas que eu deixei claro foi que eu não teria dito que o Beto tinha essa ascendência em prefeituras do PT. Então, voltando a isso, o Beto talvez, o Alberto Youssef, talvez esteja sendo dado a ele um poder, talvez, porque eu não sei, ele está em um processo de delação premiada, mas talvez um poder um pouco maior do que o que ele tenha", disse.
Após a contadora Meire Poza negar ter conhecimento sobre suposto desvio de R$ 6 milhões da Petrobras, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), criticou reportagem publicada pela revista Veja sobre o assunto. Segundo a revista, o ex-sócio da corretora Bônus Banval Enivaldo Quadrado, condenado no julgamento do mensalão, teria chantageado o PT para não fornecer detalhes da suposta operação que envolveria membros do partido. "O depoimento [de Meire Poza] é importante no sentido de sabermos o que é que alguns órgãos de imprensa tentam vender como verdade absoluta, colocando coisas que não foram ditas nas bocas das pessoas", criticou o senador.
Maranhão
A agilização pelo doleiro Alberto Youssef do pagamento de R$ 113 milhões em precatórios, em 24 parcelas, do governo do Maranhão à empresa Constran S/A Construções e Comércio foi confirmada pela contadora Meire Poza, que trabalhou com ele. Poza presta depoimento neste momento à CPMI da Petrobras. "Foi sugerido que o Youssef criasse um mecanismo de fundo de investimento para que o instituto de previdência (do doleiro) colocasse os recursos no fundo para repassar à Constran", afirmou a contadora ao responder questionamento do deputado Domingos Dutra (SD-MA).
A dívida do governo refere-se a serviços de terraplanagem e pavimentação da BR-230 contratados na metade da década de 1980. A propina oferecida ao governo do Maranhão seria de R$ 6 milhões e já teria sido entregue R$ 4,6 milhões, segundo Meire Poza. Youssef foi preso em 17 de março, em São Luís. Ele teria sido detido após entregar R$ 1,4 milhão em espécie a um home que foi ao hotel onde ele estava hospedado.
Contadora diz que deu dinheiro para pagar multa de condenado do mensalão
Em depoimento prestado nesta quarta-feira (8) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga denúncias de irregularidades na Petrobras, a contadora Meire Poza disse que sua empresa emitiu R$ 7 milhões em notas frias para as empresas do doleiro Alberto Youssef, para quem trabalhava. "Emiti R$ 7 milhões em notas frias. Tenho uma empresa de contabilidade e a exceção foram essas notas", disse Poza. Disse também recebeu dinheiro e repassou para Enivaldo Quadrado pagar a multa imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao condenado na Ação Penal 470, o processo do mensalão.
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), reagiu. "Estamos aqui com uma fornecedora de nota fiscal fria. Ela admitiu o que é, uma ré confessa". Ele informou que o PMDB vai pedir a quebra dos sigilos fiscal e bancário da contadora. Em outro momento, Meire Poza admitiu que recebia 7% de comissão sobre as notas frias e que a porcentagem era dividida em partes iguais com Enivaldo Quadrado. Ele foi condenado por lavagem de dinheiro no julgamento do mensalão, e teve de pagar multa de R$ 28,6 mil.
A ex-contadora de Alberto Youssef negou ter informações sobre operações entre ele e funcionários da Petrobras. "Eu trabalhei com o senhor Alberto Youssef. Vi algumas operações feitas no escritório, mas não tenho informações diretas da Petrobras", ressaltou. Ela garantiu que nunca entregou dinheiro na mão de políticos, mas fez pagamentos para parentes de alguns, como do deputado Luiz Argôlo (SDD-BA). O deputado André Vargas (sem partido-PR) e o também deputado e ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP) se beneficiaram do esquema de lavagem de dinheiro. Os dois respondem a processo no Conselho de Ética da Câmara. "Fiz pagamento para o deputado André Vargas para uma viagem ao Nordeste", disse. A contadora enviou dinheiro para outras pessoas que ela não conhece, e não sabe que grau de parentesco têm com os parlamentares, e que a lista com os nomes está com a Polícia Federal.
Aos parlamentares da CPMI, Poza negou ter conhecimento de que Alberto Youssef operasse um esquema de lavagem de dinheiro com prefeituras do PT. "Uma das coisas que eu deixei claro foi que eu não disse que o Beto [Alberto Youssef] tinha essa ascendência em prefeituras do PT". Para ela, nesse caso, talvez estejam dando a Youssef um poder um pouco maior do que o que ele tem.
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