Menos de três meses após o impeachment de Dilma Rousseff, grupos responsáveis pelas manifestações de rua ameaçam agora pedir a saída de Michel Temer caso ele sancione um eventual projeto de anistia ao caixa 2. Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Nas Ruas acusam o Planalto de condescendência com parlamentares que tentam descaracterizar o pacote anticorrupção em discussão na Câmara.
Os grupos se reunirão em um protesto pela primeira vez desde a destituição da petista no próximo domingo, 4 de dezembro, na Avenida Paulista, e o tema principal é o combate a uma eventual anistia.
O desgaste de Temer foi ampliado após as denúncias feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que levaram à queda de Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo. Principal articulador político do presidente, Geddel foi acusado de pressionar o colega para liberar a construção de uma obra em Salvador embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“A nossa palavra de ordem vai depender de como Temer agir. Se passar na Câmara a anistia e ela for sancionada, vamos então pedir o Fora, Temer”, disse Carla Zambelli, líder dos Nas Ruas e uma das porta-vozes do Convergência, que reúne 40 movimentos em diferentes Estados.
Após a repercussão negativa da articulação na Câmara, aliados de Temer passaram a divulgar que o presidente vetará qualquer proposta de anistia que chegue ao Palácio do Planalto. Até então, o presidente vinha dizendo que respeita decisões do Congresso e chegou a sinalizar, em entrevista, que sancionaria o texto.
O Vem Pra Rua lançou nas redes sociais a hashtag #vetatemer e se aproximou do PSOL, partido de esquerda que combateu o impeachment de Dilma. “Vamos apoiar fortemente ações como a do deputado Ivan Valente, do PSOL, que está pressionando para que a votação seja nominal. Estamos abertos para conversar com qualquer partido alinhado com a nossa causa. Por isso vamos parabenizá-lo”, disse Rogério Chequer, porta-voz do grupo.
Reduto de políticos tucanos e da antiga oposição, o Vem Pra Rua tem sido enfático. “Não vi o Temer se posicionar contra isso [anistia ao caixa 2]. Gostaria de ouvir. Estamos de olho no Temer e no [deputado] André Moura [PSC-SE, líder do governo na Câmara]. Estamos juntando evidências”, afirmou Chequer.
Segundo o ativista, o presidente terá uma dura decisão nas mãos. “Temer vai ter que escolher se é à favor dos políticos corruptos ou está ao lado da sociedade”.
Além do veto, porém, para não arcar com o ônus o presidente precisará articular sua base para que a decisão não seja derrubada na Câmara posteriormente.
Autores do pedido de impeachment de Dilma, a advogada Janaina Paschoal e o jurista Miguel Reale engrossam a pressão sobre Temer. “Afirmo de maneira categórica que se esse projeto de anistia tiver andamento no Congresso e for sancionado pelo presidente, isso será uma situação inequívoca de quebra de decoro”, disse Janaina. Na semana passada, a advogada usou o Twitter para cobrar a demissão de Geddel.
Reale, por sua vez, avalia que ainda não há fato concreto para que se peça o impeachment de Temer, mas vê condescendência com a articulação pela anistia ao caixa 2. “Há um imenso desgaste. O problema não é só sancionar [a anistia ao caixa 2], mas dar sinal verde para as tratativas. As notícias indicam que ele não vetaria. Até agora, Temer não negou isso”, disse Reale.
Os juristas e os grupos de rua também estão afinados na crítica aos partidos que apoiaram o impeachment, em especial o PSDB. “Alguns líderes do partido estão mudos. Vários membros estão indicados como envolvidos”, disse Reale. “A posição do PSDB é lamentável. Será que querem assumir a Presidência em 2018 depois disso?”, questionou Chequer, ampliando as críticas.
Oposição organiza série de atos por impeachment
Apagada desde a derrota histórica do PT nas eleições municipais de outubro, a bandeira do “Fora, Temer” reascendeu na esquerda com as acusações feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero contra Geddel Vieira Lima, que deixou a Secretaria de Governo, e o presidente Michel Temer.
Grupos como as frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular, a União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), além de movimentos de moradia, organizam uma série de manifestações pedindo o impeachment de Temer. Setores do PT e aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçam as articulações.
A primeira manifestação está marcada para este domingo (27) na Avenida Paulista, convocada pela Frente Povo Sem Medo. Inicialmente, o ato tinha como pauta o repúdio à PEC do Teto e contaria com as participações de Lula, do ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica e do cantor Chico Buarque, mas eles desistiram. Agora, a pauta é o “Fora, Temer”.
“Com os últimos acontecimentos, ganha força a pauta da derrubada do governo. Entendemos que este governo perdeu a condição de continuar”, disse Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e coordenador da Frente Povo Sem Medo.
A Frente Brasil Popular, que havia desistido de participar, agora está revendo sua posição. Representantes da frente vão se reunir com o senador Lindbergh Farias no domingo de manhã. “Vamos avaliar a conjuntura e traçar uma estratégia com relação à possibilidade de impeachment de Temer”, disse Raimundo Bonfim, um dos coordenadores do grupo.
No dia 29, a UNE e a UBES pretendem reunir 25 mil estudantes nas ruas de Brasília. “A pauta central é a PEC do Teto, mas, sem dúvida, o Fora, Temer renasceu”, disse Marianna Dias de Souza, da UNE
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