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Num depoimento contraditório e reticente, e sem proteção de hábeas-corpus, o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira disse nesta quarta-feira, na CPI dos Bingos, que já não sabe mais o que falou na entrevista para o jornal "O Globo", em que fez novas denúncias sobre o valerioduto.

- Não sei mais onde está a verdade nessa entrevista, o que é verdadeiro, o que não é. Acho que o PT, a partir desse episódio, deve mudar a forma de atuar. Podia ser inverossímil, mas era a verdade - disse ele, que, por orientação de seu advogado, recusou-se a assinar o termo de compromisso para falar a verdade na CPI dos Bingos.

- Tem coisas que eu lembro. Tem coisas que eu não lembro. Não sei se me arrependi ou não, não sei. Não quero fazer nenhuma confirmação que seja leviana - afirmou ele, que esquivou-se várias vezes de reafirmar aos senadores as declarações dadas à reporter Soraya Aggege.

Por mais de uma vez, Silvio Pereira disse não ter lido a reportagem, mas caiu em contradição ao dizer em determinado momento que muito do que falou à repórter não foi publicado. O presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PMDB-PB), chamou atenção para a contradição e Silvio Pereira se defendeu dizendo que soube do que foi publicado por amigos.

- Vossa senhoria me permita, está querendo fazer a gente de besta - repreendeu o presidente da CPI.

Silvio reacendeu a crise política ao afirmar na entrevista que o esquema de Marcos Valério pretendia arrecadar R$1 bilhão no governo petista e que quem mandava no PT era presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-deputado e ex-ministro José Dirceu, o então presidente do partido, José Genoino, e o senador Aloizio Mercadanate.

Aos senadores, Silvio Pereira confirmou que eram eles os grandes líderes do PT. Silvinho não disse, no entanto, se eles comandariam o esquema de compra de votos de deputados da base aliada.

- Eles eram a grande liderança dentro do PT. Eu não sentava nesta mesa - disse Silvio Pereira, esclarecendo que, neste momento da entrevista ao jornal "O Globo", ele tentava explicar à jornalista a trajetória do partido.

O ex-dirigente petista negou já ter recebido do presidente Lula qualquer orientação indevida sobre as arrecadações do partido.

- Nem hoje, nem na época em que era o dirigente do PT. Eu nunca recebi dele qualquer orientação indevida - disse.

Sobre a informação de que "nunca foi ouvido pelo PT e que o partido não queria lhe ouvir", Silvinho explicou que ligou para o então secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, que assumira seu cargo, e se colocou à disposição do partido, logo depois que se licenciou:

- Ele disse que eu precisava cuidar da minha vida, me reconstruir. Foi uma conversa por telefone e nunca mais voltei a falar com Berzoini.

O ex-secretário do PT disse que está depondo por determinação judicial, mas que queria estar longe de "qualquer coisa que cheirasse a política".

Silvio também disse não lembrar que tenha dito que iriam matá-lo, após conceder a entrevista.

- Eu não lembro de ter dito que vão me matar. Isso eu não conversei com as pessoas da política. Eu não lembro de ter dito esta palavra.

Ao ser perguntado se teme pela sua vida, sua resposta foi:

- Eu tenho medo de mim mesmo.

Em vários momentos, o ex-dirigente se negou a comentar as informações sobre o empresário Marcos Valério publicadas na reportagem. Ele afirma não querer comentar as informações por não ter certeza do que foi dito e temer envolver pessoas inocentes na história.

- Eu não estava em condições. Eu não posso confirmar porque já não tenho nenhuma certeza. Dei a entrevista e não nego.

Silvio Pereira afirmou também que deve ter cometido erros e que pagará por eles caso sejam confirmados. Silvio Pereira insistiu que não "tem discernimento" para confirmar ou negar acusações feitas por ele.

- Hoje está tudo muito confuso. Evidente que erros eu devo ter cometido e outros devem ter cometido. Nós estamos sendo todos julgados, processados. Se errei, pagarei por isto. Se os outros erraram devem também pagar por isso. Seja qual for o erro: pequeno, grande ou máximo - disse ele à senadora Heloísa Helena, do PSOL, sobre se as declarações feitas ao jornal eram verdadeiras.

Por diversos momentos, Silvio Pereira disse estar passando por problemas psicológicos. O ex-dirigente petista afirmou que nos últimos tempos passou por um período de reclusão, devido à forte emoção provocada pelos escândalos.

Uma junta médica do Senado foi chamada pelo presidente da CPI para ficar à disposição durante o depoimento caso seja necessário, uma vez que a defesa alega que Silvio Pereira está extremamente deprimido. Efraim também pôs uma ambulância à disposição do ex-secretário-geral do PT, caso ele passe mal durante o depoimento.

Como a defesa não apresentou novo pedido ao Supremo Tribunal Federal, como era previsto, Silvinho está depondo sem a proteção de hábeas-corpus. No início do depoimento, porém, o presidente da CPI disse que ele poderia falar o que quisesse e não responder a perguntas dos parlamentares. Como Silvinho não assinou o termo de compromisso de dizer a verdade, ele não poderá ser preso caso a CPI entenda que está mentindo.

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