Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradecer pela tranqüilidade nos aeroportos durante o feriadão de Páscoa, controladores de vôo discutem a possibilidade de uma baixa coletiva diante dos problemas do setor aéreo. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), Wellington Rodrigues, um grupo de pelo menos 50 profissionais que atuam no Cindacta-1, em Brasília, já fala em deixar os cargos. A entidade, segundo ele, é contrária a essa decisão.

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Mas fontes presentes a uma assembléia extraordinária realizada na terça-feira em uma chácara nos arredores da capital federal disseram ao GLOBO que, só em Brasília, 123 sargentos estariam dispostos a pedir o desligamento da Força Aérea Brasileira (FAB) - quase a metade dos cerca de 260 controladores do Cindacta-1 - dos quais 40 já estariam decididos.

O número pode crescer, disse um dos líderes do movimento, pois graduados das outras sedes de controle de tráfego aéreo — Curitiba, Recife e Manaus — estão sendo convocados.

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Um processo de desligamento demora cerca de 45 dias e o raciocínio é que os controladores poderão prestar um concurso público no futuro e ingressar numa nova estrutura civil. O problema é que uma medida dessas poderá desfalcar ainda mais o quadro de profissionais e levar a um novo apagão aéreo.

Para se ter uma idéia, só a falta ao trabalho de dois controladores do Cindacta-4 (Manaus) em um turno, na véspera da paralisação de 30 de março, foi sufiente para segurar em solo 25 aviões, inclusive estrangeiros.

Rodrigues se reuniu, nesta terça-feira, com presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, e com o diretor regional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo (SNTPV), Francisco José da Silva Cardoso. Eles discutiram saídas para a crise do setor aéreo e a possibilidade de a OAB intermediar a negociação entre controladores e governo federal.No momento, greves estão descartadas

A assembléia teve também o objetivo de acalmar os ânimos de um grupo de sargentos revoltados pela forma como o governo conduziu o processo, centralizando todas as decisões nas mãos da Aeronáutica. Inclusive a punição dos rebelados.

A avaliação do grupo, contou um líder, é que a categoria tem que continuar unida e traçar novos rumos para pressionar o governo e chamar a atenção da sociedade sobre os problemas do setor.

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Uma nova greve ou o aumento do espaço entre os aviões, por enquanto, estão descartados pelo movimento. Segundo um dos participantes do encontro, há também um entendimento de que é necessário melhorar a imagem do profissional junto à opinião pública e buscar o apoio da sociedade civil organizada.

Problemas estruturais

Wellington Rodrigues disse nesta terça-feira, que novos problemas estruturais podem ocorrer no sistema aéreo brasileiro.

- Temos problemas estruturais que podem sim acontecer, como uma queda de radar, uma queda de freqüência independe de nossa vontade. Problemas com certeza virão, porque, como eu já disse, tudo parte de um problema estrutural e que terá que ser revisto - disse.

Rodrigues garantiu, no entanto, que é seguro viajar de avião, pois os controladores estariam seguindo à risca o que está previsto, mas alerta:

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- É claro que um controlador trabalhando sob tensão não é bom.

O líder dos operadores disse que há uma série de medidas emergenciais que podem ajudar a mudar esse cenário:

- Um controlador desconcentrado é extremamente perigoso. Precisamos, de imediato, reativar as propostas feitas pelo próprio governo no âmbito do grupo de trabalho interministerial e fazer com que essas propostas sejam executadas para que o controle de tráfego aéreo mude a sua estrutura. O que queremos é uma nova estrutura de gerenciamento do controle de tráfego aéreo que existe no mundo todo. Estamos na contramão desse modelo de gestão.

Atrasos

De acordo com o último boletim da Infraero divulgado nesta terça-feira, 127 (8,5%) dos 1492 vôos programados nos principais aeroportos do país, no período de 0h às 19h, tiveram atrasos superiores a uma hora. Em todo o país, 39 foram cancelados.

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No aeroporto de Brasília, 100 vôos estavam previstos, sendo que nove atrasaram e dois foram cancelados. Em Congonhas, dos 270 vôos programados, 16 atrasaram mais de uma hora e não foram registrados cancelamentos, segundo a Infraero.

Em Guarulhos, 15 dos 151 vôos atrasaram e dez foram cancelados. Já no aeroporto Antônio Carlos Jobim (Galeão), oito vôos atrasaram e um foi cancelado, dos 127 programados.