Mencionando mais de 20 políticos, de ministros a parlamentares, as mensagens do celular do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro interceptadas pela Polícia Federal indicam o agendamento de viagens para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citações ao ministro-chefe da Casa Civil Jaques Wagner (PT) e encontros com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A Polícia Federal encaminhou um relatório de cerca de 600 páginas à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre os principais achados nas mensagens telefônicas de Léo Pinheiro, que mantinha proximidade com políticos do alto escalão da República.
Mensagens citando Wagner, o presidente da Petrobras Aldemir Bendine e o prefeito de São Paulo Fernando Haddad foram reveladas nesta quinta-feira (7) pelo jornal O Estado de S. Paulo . A Folha de S.Paulo teve acesso a mensagens citando Lula, Wagner, Renan e o ministro Edinho Silva (Comunicação Social).
Em relação a Lula, citado nas mensagens como “Brahma” segundo a Polícia Federal, Léo Pinheiro conversa com seus funcionários para decidir viagens do ex-presidente ao exterior e cita a ajuda dele em obras. Uma das mensagens do empreiteiro diz que “o Brahma quer fazer a palestra” entre os dias 24 e 26 de novembro de 2013 em Santiago. Já no dia 25 daquele mesmo mês, um funcionário do empreiteiro lhe envia uma mensagem indicando a disponibilização de um avião para Lula ir ao Chile.
“Leo, colocamos o avião à disposição de Lula para sair amanhã ao meio-dia. Seria bom você checar com Paulo Okamotto [presidente do Instituto Lula] se é conveniente irmos no mesmo avião”, diz a mensagem, cujo remetente foi César Uzeda, segundo a PF, que foi executivo da OAS na área internacional.
Ainda sobre o Chile, Léo Pinheiro diz a um funcionário que Lula estava “procurando saber” de obras que a OAS tocava no país, sem explicar o motivo. O ex-presidente da OAS também manda uma mensagem para Uzeda em 7 de janeiro de 2014 afirmando que Lula “poderá ir ao Uruguai agora em janeiro ou início de fevereiro. Veja com Diego quando seria melhor”.
Jaques Wagner
Jaques Wagner diz estar tranquilo diante de denúncia
Leia a matéria completaJá Jaques Wagner, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, trocou mensagens com Léo Pinheiro que indicavam sua atuação a favor da empreiteira OAS. Também há suspeita de negociação de apoio financeiro ao candidato petista à prefeitura de Salvador em 2012, Nelson Pellegrino.
Segundo a publicação, em 2014 Léo Pinheiro pede ajuda a Wagner para falar com o então ministro dos Transportes para “liberar o recurso no valor de R$ 41,760 milhões” referente a um convênio assinado em 2013. “Ok, vou fazê-lo abs domingo vamos ganhar com certeza”, respondeu Jaques Wagner.
A Folha também teve acesso a uma mensagem de Léo Pinheiro na qual, segundo a PF, ele indica “centros de custo” relacionados a Wagner e obras na Bahia. “JW e CD. Centro de Custo. 45% Fonte Nova. 45% Bahia Norte. 10% Via Expressa”, envia Léo Pinheiro a um funcionário.
Renan Calheiros
As mensagens no período entre 2012 e 2014 mostram ainda ao menos seis pedidos para encontros com o presidente do Senado, Renan Calheiros, segundo a PF. Em 13 de setembro de 2013, Léo Pinheiro recebe uma mensagem de seu funcionário dizendo: “Dr. Alexandre Grangeiro agendou uma reunião com dr. Renan na residência dele domingo às 11h”. Em um outro diálogo, o empreiteiro sugere que Renan engavetou um projeto, mas não dá mais detalhes.
Em relação a Edinho Silva, há referências a ele em conversas sobre doações.
Sobre Aldemir Bendine, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ele negociou com a OAS, quando ainda era presidente do Banco do Brasil, a aquisição de debêntures (títulos da dívida) da empreiteira. As mensagens indicam que em outubro de 2014 Bendine esteve com Pinheiro e outro dirigente da OAS para tratar dos títulos.
“O Dida marcou às 18h30. Terei de ir com ‘ACMP’, pois temos a nova debênture, que é vital”, afirmou Pinheiro.
Outro Lado
A assessoria do Instituto Lula disse que não teve acesso a esse relatório da Polícia Federal e não vai se manifestar sobre vazamento seletivo e ilegal de informações.
Em nota divulgada no início da tarde desta quinta, o ministro Jaques Wagner afirmou “estar absolutamente tranquilo quanto a minha atividade política institucional, exclusivamente baseada na defesa dos interesses do Estado da Bahia e do Brasil”.
Wagner se colocou à disposição do Ministério Público e e demais órgãos competentes para quaisquer esclarecimento e criticou vazamentos. “Em tempo, manifesto meu repúdio à reiterada prática de vazamentos de informações preliminares e inconsistentes, que não contribuem para andamento das apurações e do devido processo legal.”
A Folha não obteve retorno da assessoria de Renan. Bendine sustenta em nota que as propostas ao Banco do Brasil tiveram tratamento técnico.
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