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O coronel Joviano Conceição Lima, do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque) da Polícia Militar de São Paulo, afirmou neste sábado (28) que não houve falha na estratégia de negociação para tentar evitar que acabasse em morte o caso do comerciante que manteve por mais de 30 horas duas mulheres reféns em Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo.

O comerciante e marceneiro Gilberto Gomes de Lima, 42 anos, matou na manhã deste sábado (28) a amante, Andréia Pereira Santana, 30, com um tiro no pescoço, e se matou. A mulher de Gilberto, Gilvanete da Silva Lima, 37 anos, também foi mantida refém.

Segundo o coronel, a polícia tinha retomado as negociações na manhã de sábado e o filho de Gilberto convencia o pai a entregar a arma. A polícia tentava levantar uma parte da porta da marcenaria para a entrega da arma quando, por volta de 6h30, foram ouvidos os disparos. "Ele já estava praticamente entregando as armas. Sabe-se lá o que ocorreu nesse processo."

Joviano disse que o estado emocional de Gilberto e as condições do local onde ele mantinha as reféns foram os dois fatores responsáveis pela tragédia. Ele afirmou que a estratégia da polícia era esgotar as possibilidades de negociações e vencer o comerciante pelo cansaço.

O pequeno espaço onde ele estava e as dificuldades de acesso ao local impediam uma invasão surpresa por parte do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate). "Nós tinhamos condições desfavoráveis para uma operação com 100% de acerto", afirmou.

Abatido, Joviano disse que, durante as 30 horas de negociações, houve momentos em que era concreta a possibilidade do marceneiro entregar a arma. Por volta das 22 horas de sexta-feira, o marceneiro conversou com a mãe, que fez um apelo. Segundo o coronel, ela teria dito: "meu filho, confie em Deus, confie na sua mãe. Todas as pessoas que estão aqui querem te ajudar. Nós entendemos o que você fez."

Escavadeira

A polícia tinha cerca de 90 homens no local, incluindo atiradores de elite, e chegou a cogitar a possibilidade de usar uma escavadeira para arrombar a porta da marcenaria. Segundo Joviano, a invasão foi evitada porque o marceneiro mantinha uma arma engatilhada, da qual não largava sequer quando cochilava.

A família de Andréia chegou a suspeitar que ela estivesse no local, refém do marceneiro, desde a tarde de quinta-feira (26). Entretanto, a presença só foi confirmada por parentes no princípio da madrugada de sexta-feira (27). Quando tentaram resgatá-la, Gilberto disparou quatro tiros contra a porta do local. Pouco depois, com a chegada dos policiais, houve mais dois disparos.

"Foi neste momento que optou-se pelo isolamento da área", afirma Joviano. Segundo o coronel, a informação de parentes é de que ele portava bastante munição.

A negociação com o Gate começou às 2h46 de sexta-feira. "Ele estava com voz pastosa, cansada, de quem estava bebendo uísque e cerveja", disse o comandante da operação. Em um sinal de que o quadro era de risco, Gilberto fez um disparo acidental por volta das 14 horas de sexta-feira.

De acordo com o policial, o marceneiro esteve na maior parte do tempo com a arma na mão. "Se tivéssemos de entrar, teria que ser uma ação extremamente rápida. A chance de (Gilberto) matar as reféns era iminente", disse o coronel.

Descanso

Na noite de sexta-feira, após falar com a mãe, o marceneiro chegou a dormir por alguns períodos. Mesmo neste momento, coronel Joviano avaliou que uma invasão seria perigosa. Ele afirma que a refém Andréa contou que ele tinha sono leve. "Nós entendemos que deveríamos deixá-lo descansar", disse o comandante da operação.

A possibilidade de usar algum medicamento ou gás tranquilizante foi descartada pela polícia. "Usar um gás sonífero tem efeitos colaterais e não é homologado pela Polícia Militar", disse coronel.

Foram 30 horas de drama. Durante a conversa com os negociadores, Lima não mostrava interesse em fazer a negociação e permanecia irredutível na recusa a soltar as duas mulheres. Durante a madrugada de sábado, ele chegou a exigir uma pizza portuguesa aos agentes do Gate para passar o restante da noite.

Os policiais escutaram Lima falar que estava arrependido e pensava em se entregar durante o dia. Naquele momento, ele fritava três bifes no fogão, provavelmente sua primeira refeição. Na parte da tarde, familiares conversaram com o comerciante, que se mantinha calmo. Mas ele chegou a dizer que só deixaria o local morto.

Estresse emocional

A mulher de Gilberto, Gilvanete, deixou o local do crime andando, mas com o rosto coberto. Ela foi levada com estresse emocional ao Hospital Santa Marcelina, no Itaim Paulista, Zona Leste. A cozinheira Rilma Maria Gomes, irmã de Gilberto, disse ao G1 que o comerciante nunca havia falado em se matar.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, Gilvanete relatou aos funcionários do hospital ter levado um soco do marido no rosto. Ela chegou a ser encaminhada para a avaliação de um médico, mas, no momento em que preenchia a ficha, desistiu do atendimento e foi embora.

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