O sétimo corpo resgatado da cratera da Estação Pinheiros do metrô é o do contínuo Cícero Agostinho da Silva, de 60 anos. O corpo foi localizado por volta das 21h desta quinta-feira, a cinco metros acima de onde estava a van da Transcooper soterrada, onde estavam outras quatro vítimas.
- Nossa expectativa e esperança é que seja a última vítima. Não há mais nenhum boletim de ocorrência sobre desaparecimento no local do acidente - disse o governador José Serra.
De acordo com o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Ronaldo Marzagão, as buscas estão encerradas na cratera de Pinheiros, mas os bombeiros continuarão no local.
- Os bombeiros continuarão na cratera fazendo monitoramento, até porque lá há operários trabalhando. Não há notícias de que qualquer outra pessoa estaja lá, sob os escombros, mas o Corpo de Bombeiros continuará no local - afirmou Marzagão.
A família do contínuo se disse aliviada.
- Tudo o que eu pedi é que devolvessem o corpo, para que ele tivesse um enterro digno - disse a irmã de Cícero, Ivonete da Silva.
- Uma morte assim a gente não espera. A gente agora tem que ser forte o suficiente para dar apoio à nossa família - desabafou Alex Silva, filho do contínuo.
O corpo de Cícero Agostinho da Silva deixou há pouco o Instituto Médico Legal. Ele será velado no Cemitério do Araçá, na zona oeste da capital. Cícero, que estava desaparecido há duas semanas, será enterrado na tarde desta sexta-feira, no mesmo local.
Cícero desapareceu no último dia 12, no mesmo dia do desmoronamento. A família só procurou a polícia para prestar queixa dois dias depois, quando soube por conhecidos que ele estava a caminho da estação de trem de Pinheiros. Na quarta-feira, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa informou que uma testemunha encontrara o contínuo no Edifício Passarelli, próximo à cratera, e lhe entregou um cheque, ainda não descontado.
A escavação foi feita a partir do local onde os cães farejadores perceberam sinais de sangue. Os bombeiros trabalharam o dia todo. Mas a forte chuva do início da tarde desta quinta-feira atrapalhou as buscas. Havia riscos de ocorrer novos desmoronamentos. No fim da noite, as equipes já haviam chegado até o túnel do Metrô, na mesma profundidade em que estava a van soterrada. A tarefa então passou a ser retirar a terra que caiu dentro e ao lado do túnel.
Dois cães farejadores ajudaram nas buscas, mas o trabalho foi prejudicado pela grande quantidade de terra revirada. Os bombeiros temiam que a terra pudesse estar impregnada pelo cheiro dos cadáveres já retirados e isso confundisse os cães.
Polícia reconstitui últimos passos do contínuo no dia 12
A polícia ouviu testemunhas e reconstituiu os últimos passos do contínuo na sexta-feira, dia 12. Segundo Paulo Neto, o contínuo foi visto por um amigo descendo de um ônibus na Avenida Doutor Arnaldo, quase esquina com a Rua Cardeal Arcoverde, e pegando um outro coletivo em direção ao bairro de Pinheiros. Logo depois, às 14h38m, uma ligação de Cícero para uma pessoa que trabalha no Edifício Passarelli, vizinho à cratera das obras do Metrô, foi interceptada. O office-boy ligou para essa pessoa avisando que estaria na porta do prédio em poucos minutos para entregar um cheque.
Houve um breve encontro entre os dois e Cícero seguiu seu caminho com destino à Marginal Pinheiros, onde entraria em uma estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) a alguns metros do local do acidente. Ao voltar para o prédio, essa testemunha notou pessoas assustadas correndo no edifício e na rua por conta do desabamento da obra do Metrô. O cheque dado pela testemunha para pagar Cícero não foi descontado. Segundo os bombeiros, a existência de uma sétima vítima nunca foi descartada. O capitão Mauro Lopes dissera que só sairia do local "quando for retirada a última pá de terra".
- Eles querem, justa e merecida mente, um corpo de volta, e cabe a nós tentar realizar esse desejo da família. Cabe a nós entregar este corpo para que eles possam dar um enterro digno ao senhor Cícero- disse o capitão Mauro Lopes.
Primeiro acordo de indenização foi fechado
Na quarta-feira, foi fechado o primeiro acordo para o pagamento das vítimas soterradas nas obras. Os familiares de Valéria Marmit, advogada de 37 anos, receberão no mês que vem a indenização do consórcio Via Amarela pela morte dela. O secretário de Justiça de São Paulo, Luiz Antônio Marrey, não quis revelar os valores do acordo a pedido da família e dos defensores públicos. O valor da apólice previa um pagamento de até R$ 24 milhões às famílias das vítimas.
- Ficamos satisfeitos com essa solução. Isso não traz de volta a vítima, mas leva a minorar as conseqüências deste trágico fato. Não revelar o valor é o limite de intimidade que cada um tem direito de preservar - disse.
A família da advogada pode ter recebido pelo menos 200 salários mínimos , apenas por danos morais.
Segundo Marrey, a indenização leva em conta os padrões habituais do "direito preferido". Isso quer dizer que a indenização considera a expectativa de vida média da advogada e quanto ela ganharia se estivesse viva. Os filhos devem receber, segundo os defensores públicos adiantaram, uma pensão mensal vitalícia.
A expectativa é que acordos semelhantes sejam fechados pela Defensoria. Vinte e oito famílias que tiveram suas casas interditadas por causa do acidente já procuraram a Defensoria para agilizar o pedido de indenização.
O pagamento será feito pelo Unibanco AIG, seguradora contratada pelo Consórcio Via Amarela, responsável pela obra.
Além de Valéria, outras cinco pessoas morreram no acidente. Os parentes das vítimas que estavam na van que foi soterrada também têm direito de receber indenização da Transcooper, cooperativa proprietária do veículo. A empresa informou, nesta quarta-feira, que ainda não recebeu o pedido dos familiares para o pagamento. A Transcooper tem uma apólice com a Nobre Seguradora, que prevê o pagamento de R$ 300 mil por danos materiais, corporais e morais. Esse valor deverá ser dividido pelo número de passageiros que estavam na lotação. Além de Valéria, estava no veículo o funcionário público Márcio Alambert.