Sem espaço físico para abrigar o grande número de corpos recolhidos nos últimos dias nas ruas de São Paulo, o Instituto Médico Legal (IML) da cidade já enfrenta problemas sanitários na conservação dos cadáveres e quer uma autorização especial para liberá-los antes mesmo do prazo legal. Pela lei, os corpos só podem sair do IML depois de 72 horas, caso não seja identificado ou reclamado pela família.
Nessas condições, à espera de reconhecimento, estavam ontem mais de 40 cadáveres nos dois IMLs em funcionamento na capital, sendo que 23 desses corpos ainda não haviam sido reconhecidos até as 16h, segundo o diretor-geral do instituto, o médico Hideaki Kawata.
De acordo com o diretor-geral do instituto, foram liberados 18 cadáveres, 13 deles encaminhados para o Cemitério Dom Bosco, na zona oeste. "É um problema sanitário, de decomposição (dos cadáveres). Não temos mais onde guardar. Os corpos não estão em local refrigerado", revelou Kawata.
Em geral, os corpos permanecem de cinco até dez dias no IML, à espera de reconhecimento. Se não houver reclamação ou identificação, são enterrados sob o rótulo de "desconhecidos" ou "indigentes". A onda de mortes que surgiu do confronto entre o crime organizado e a polícia paulista alterou essa rotina.
"Já pedi autorização para enumerar e liberar, se preciso, antes mesmo das 72 horas. Se a família reclamar (após a liberação), os corpos podem ser exumados depois", afirmou o diretor do IML. "É a primeira vez que vejo uma situação dessas. O que causou o problema foi a grande demanda do início da semana. Agora, o número tem caído um pouco", explicou Kawata.
Há somente 36 vagas na capital, 24 delas no IML de Pinheiros e 12 no IML da Vila Leopoldina, ambos na zona oeste. Os IMLs da zona leste e da zona sul estão em reforma. "Também estamos construindo mais dois (IMLs), um no Mandaqui e outro em Itaquera. Depois disso, vai melhorar", disse o diretor do IML.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, o deputado Ítalo Cardoso (PT) enviou um ofício a Kawata, na última terça-feira, no qual pediu a relação das pessoas que deram entrada no IML nos primeiros dias do confronto do crime organizado com a polícia.
"Até hoje (ontem), não recebi resposta. Quero saber o que aconteceu", disse Cardoso. O diretor do IML garantiu que vai repassar a lista ao deputado. "O IML não tem nada a esconder e vai fornecer a lista. Só preciso de autorização".
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