A sucessão municipal do próximo ano, já percebida pelo comando dos principais partidos como um marco na mudança geracional da política, será estratégica para o lançamento e teste de novos líderes regionais. Muito mais por necessidade - numa constatação pragmática da chamada fadiga de material -, os caciques políticos decidiram aderir à renovação de seus quadros, para tentar segurar seus espaços.
Até então, havia muita resistência dos partidos em ceder espaço para novos quadros políticos. Mas, o risco de esvaziamento diante da insatisfação da sociedade com as práticas e vícios dos políticos tradicionais - a leniência com a corrupção - estão levando seus dirigentes a apostar em nomes ainda desconhecidos do grande público.
- Existe um vazio de nomes entre as gerações na política nacional. Hoje, cerca de 50% do eleitorado está na faixa entre 16 e 35 anos. Temos que renovar para atingir esse eleitor. Essa orientação do PMDB de lançar candidato próprio em todas as grandes cidades e capitais já é uma forma de pressionar a renovação. Muitos líderes novos estão querendo espaço. Com isso, o PMDB está se reoxigenando - afirma o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
Segundo os próprios políticos, essa mudança geracional não se caracteriza apenas por lançamento de candidatos jovens, mas sim de nomes ainda "virgens" ou com pouca visibilidade na política. Mas a tendência majoritária é, sim, de lançamento em massa de candidatos mais jovens nas disputas das principais cidades brasileiras.
'Lula percebeu essa necessidade de mudança geracional'
Isso fica muito claro em São Paulo, o principal colégio eleitoral do país, com o pré-lançamento de três candidaturas: o ministro da Educação, Fernando Haddad, pelo PT, do deputado federal Gabriel Chalita (SP), pelo PMDB, e do secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas, pelo PSDB.
O PMDB foi buscar em Chalita a possibilidade de recuperar espaço em São Paulo. Já o PT tem sido obrigado pelo ex-presidente Lula a apresentar um novo nome para reciclar as opções e sair da armadilha de velhos conhecidos, como a senadora Marta Suplicy e o atual ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia).
- Essa tendência de renovação não vem de São Paulo. Ela chega a São Paulo. É uma necessidade dos partidos. Lula percebeu essa necessidade de mudança geracional, que envolve novos nomes com conhecimento técnico. Ele fez isso no seu governo quando escalou ministros que eram secretários-executivos. Vários quadros técnicos foram alçados para o primeiro escalão. Portanto, isso já acontecia na política nacional - disse ao GLOBO o ministro Fernando Haddad.
Mas o PT tem poucos candidatos com esse perfil pelo país. A dificuldade do PT de reciclar é tamanha que o partido estabeleceu uma mudança estatutária: cria no Estatuto do partido a obrigatoriedade de 20% de filiados entre 17 e 29 anos nos diretórios.
Essa carência do partido da presidente Dilma Rousseff fica demonstrada em cidades estratégicas como Porto Alegre, onde há um movimento do governador Tarso Genro (PT-RS) para apoiar a candidatura da jovem deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS). E também em Curitiba, onde o PT negocia o apoio ao ex-deputado tucano Gustavo Fruet, que foi para o PDT. Embora já conhecido na política, Fruet é considerado um representante das novas gerações.
Encantamento dos jovens é o objetivo
Todos os partidos estão em busca de candidatos que possam encantar os mais jovens. Em Macapá, por exemplo, as legendas de esquerda pressionam o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) - o mais jovem senador da República, com 39 anos - para que seja o candidato a prefeito por uma frente, incluindo PT, PCdoB, e PSB. O estado do Amapá está em crise política há tempos, depois que operações da Polícia Federal chegaram a prender parte expressiva da elite política local.
- O desafio é que essa nova geração não traga os vícios da anterior. Essa é a primeira geração de fato do pós-ditadura. O que ocorre é uma pressão que vem de fora dos partidos para a mudança na política. Isso fica claro com as manifestações contra a corrupção. Essa aversão aos partidos mostra a pressão de fora para dentro - afirma Randolfe.
PMDB faz esforço para repetir modelo que levou à vitória de Eduardo Paes no Rio
O deputado peemedebista Chalita admite que renovação é também uma necessidade do PMDB. Mas reconhece dificuldades. Ele revela que havia resistência dos caciques em abrir espaço para os novos.
- Esse processo de renovação não é fácil. As pessoas estão em busca de novidade, mas com consistência. O PMDB tem incentivado essa renovação. Mas não é apenas uma mudança de idade, mas de conceito. O que existia é que os líderes políticos tinham resistência em formar novos líderes, o que deixou uma lacuna geracional - constata Chalita.
Cientes da necessidade de inovar, o PMDB está lançando o deputado Raul Henry (PMDB-PE) para a disputa em Recife, e deve apostar também em nomes novos em Florianópolis, Porto Velho, Teresina e João Pessoa. O esforço é para repetir o modelo que levou à vitória do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que se filiou ao partido e logo depois venceu a disputa na capital fluminense.
Os escândalos na política e a repetição de práticas e vícios que há anos expõem os partidos e os políticos estão obrigando seus dirigentes e marqueteiros a investir pesado na inovação. A ampla pesquisa do PSDB encomendada ao Ipespe, do sociólogo Antonio Lavareda, mostra claramente que a população anseia por novidades, que o partido precisa fugir dos nomes já muito conhecidos e batidos.
- É bom para o partido mudar. Nossos quadros precisam de renovação - afirma o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.
Além de Bruno Covas ter se colocado para as prévias, em São Paulo, o PSDB deve lançar nomes novos como os deputados Rui Palmeira, em Maceió; Rogério Marinho, em Natal; Daniel Coelho, em Recife; Nelson Marchezan Júnior, em Porto Alegre; e Luiz Fernando Machado, em Jundiaí.
- Não é por vontade própria. Os partidos estão sendo pressionados pela sociedade por essa renovação - reconhece o deputado tucano Luiz Fernando Machado (SP).
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