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O deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR) faz parte hoje das duas comissões do Congresso Nacional que mais movimentam hoje o Brasil. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios e membro do conselho de ética. Nas duas estão sendo investigadas as denúncias de corrupção envolvendo empresas públicas, governo federal, partidos e deputados. Sua participação destacada gerou uma indicação para uma das sub-relatorias da CPMI dos Correios.

Na visão de quem está no meio desse furacão, não há mais volta nesse processo político que é considerado por Fruet o maior choque nos brasileiros depois da era Collor (citando as denúncias que levaram, em 1992, ao impeachment do primeiro presidente eleito depois da democratização do país).

O resultado de toda essa crise deve ser sentido nas eleições do próximo ano, que, para Fruet têm um resultado imprevisível, mas já vislumbra que o Congresso Nacional deve passar por uma renovação histórica.

Crítico de quem quer ver "sangue-suor e lágrimas" nos trabalhos da CPI, Gustavo diz que não é papel da comissão prender. Defende, sim, uma investigação profunda e um trabalho conjunto com o Tribunal de Contas, Polícia Federal e Ministério Público.

Mesmo sabendo que seu nome já começa a ser lembrado como uma carta na manga do PSDB para a disputa estadual no ano que vem, Gustavo Fruet adianta: "Não caio mais nessa tentação".

– Gazeta do Povo – Como o sr. está se sentindo no olho do furacão?

– Gustavo Fruet – Realmente me sinto no olho do furacão. Não estava acostumado com esse turbilhão. Há hoje uma necessidade diária de fato novo e corremos um risco de cometermos barrigadas. Precisamos inverter essa lógica. Parece gincana essa disputa de quem vai ser o primeiro a saber de uma nova informação. Digo por parte da imprensa e dos deputados também. É preciso qualificar o trabalho. Temos que confirmar se existia ou não um grande sistema de financiamento político partidário e eleitoral. O Marcos Valério é uma peça importantes mas não é a única.

– O sr. acredita que existam outros Marcos Valérios nessa história?

– Talvez. É possível.

– Em que pé está o trabalho na CPI dos Correios?

– Na reunião de hoje (sexta-feira) estruturamos os trabalhos da equipe e discutimos a linha de investigação. O Tribunal de Contas está montando auditorias e vamos aproximar o trabalho da CPI ao do TC, também com a Polícia Federal. Ainda vamos analisar a movimentação financeira, verificando o que temos de dados. Hoje tem muito "diz-que- diz" porque os dados estão incompletos. Vamos fazer o cruzamento com os dados do Prodasem. Já verificamos que os dados do Banco Rural e do Banco do Brasil estão incompletos. Estamos pedindo complementação desses dados e neste fim de semana a equipe técnica da CPI estará fazendo uma analise do que temos para prosseguirmos na segunda-feira.

– O sr. considera que seja um momento positivo ou negativo para o Congresso?

– O que sei é que não tem volta. É preciso aprofundar as denúncias e encontrar algum caminho. Ou saímos com algum caminho, ou todos serão enterrados na vala comum. Claro que é negativo para a imagem do Congresso, mas positivo na possibilidade de busca soluções. Não se imaginava esse grau de envolvimento governo. E não é só entre governo e Congresso. É uma via de mão dupla.

– Da maneira com as investigações estão caminhando, quais resultados são esperados da CPI dos Correios e Comissão de Ética? Cassação de Roberto Jefferson só? Ou outros deputados devem ter os mandatos cassados?

– Será inevitável cassar o mandato de vários deputados. Não quero dar nomes e nem estimativa de quantos. Mas acredito que antes das cassações haverá muitas renúncias de mandato.

– O sr. foi indicado para uma das sub-relatorias da CPI dos Correios. Já está definido qual será seu papel?

– Não há definição de um papel, mas estou ajudando o relator (Osmar Serraglio do PMDB do Paraná) no estudo das movimentações financeiras.

– O sr. está propondo que a comissão atue em conjunto com o Ministério Público Federal. De que forma esse trabalho em conjunto pode agilizar os trabalhos da CPI?

– Agiliza por razão de ordem criminal, que é de competência do Ministério Público. Pedir abertura de processo, prisões.

– Qual é o clima entre os integrantes da CPI? Os convocados para depor estão tomando medidas cautelares na Justiça para não serem presos durante a sessão da CPI. Há tendência de querer prender os investigados?

– Precisamos coibir excessos e não podemos cometer erros cometidos no passado. De forma generalizada, há um preconceito contra a CPI. De outro lado, vemos que muitos desrespeitam a investigação. As pessoas podem ir lá e não falar nada para não se auto-incriminar. Mas o problema é quando agem com cinismo, quando mentem descaradamente, como é o caso de Marcos Valério que disse uma coisa em entrevista para a Globo e outra para a CPI. E fica por isso mesmo. Não concordo com essa visão de que a CPI tem que prender. As pessoas cobram um resultado fruto de pirotecnia. Não estamos aqui para prender. Quem prende é a polícia e a Justiça. As pessoas querem sangue, como se precisássemos matar em praça pública, na fogueira. Acham que se não for assim é porque acabou em ‘pizza’.

– Com esse descrédito dos políticos por parte da população, agravado pelas denúncias de mensalão, o sr. acha que as eleições do ano que vem podem modificar a composição no Congresso. Ou seja, promover uma renovação maior do que o normal?

– A renovacão será natural, mas o resultado das eleições do ano que vem é imprevisível. Sei que temos hoje uma geração mais sofisticada, inclusive na corrupção. Os mecanismos de corrupção estão cada vez mais sofisticados e o controle é ineficiente. Por outro lado, as pessoas estão mais críticas. Não se iludem facilmente com a cultura política, com o jogo interno do partido, com a barganha política para ganhar dinheiro.

– E para o Congresso, que mudanças podem gerar as denúncias de mensalão?

O tempo vai dizer o que virá de positivo e qual o resultado disso tudo. Essa crise pode ser positiva para que melhoremos, passemos para um estágio superior. Mas não me iludo. A corrupção não acaba. A relação política não será moralizada da noite para o dia. O Brasil passou por um choque na era Collor e está passando por outro agora.

– Com a crise política, a Reforma Política voltou à cena. O sr. acha que ela pode resolver parte dos problemas partidários existentes hoje?

– Não resolve. Estão vendendo ilusão. Pode melhorar alguns pontos mas dizer que resolve é fugir do problema. O que resolve é ter caráter.

– Seu nome já está sendo lembrado no Paraná como uma possível carta na manga do PSDB para disputa ao governo. O sr. aceitaria ser candidato se fosse lançado?

– Sou pé no chão. Já passei por isso. Sei que a CPI dá visibilidade, mas não caio mais nessa tentação. Naquele filme "Advogado do Diabo", o próprio Diabo dizia que o pecado maior dele era a vaidade. Sou candidato a deputado federal.

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