O corte de R$ 55 bilhões do orçamento da União para este ano, anunciado na quarta-feira passada, terá reflexos nos repasses e investimentos federais no Paraná. Como todas as emendas parlamentares foram contingenciadas pela presidente Dilma Rousseff, num total de R$ 20,3 bilhões, o repasse da verba destinada ao estado pelos congressistas paranaenses está ameaçado. São R$ 879,6 milhões (R$ 495 milhões em emendas individuais dos 30 deputados e 3 senadores e R$ 384,6 milhões em emendas da bancada, elaboradas em conjunto pelos parlamentares e o governo estadual).
Congressistas paranaenses da base de Dilma argumentam que a medida de austeridade é adotada todos os anos, por todos os governos. E dizem acreditar que, ao longo do ano, as emendas serão liberadas muito em função das eleições municipais. Mas os oposicionistas criticam o corte. Para eles, as emendas serão liberadas se for de interesse do Planalto principalmente às vésperas de votações importantes para o governo.
Compromisso de voto
O crítico mais ácido foi o deputado tucano Fernando Francischini. "Isso soa como corrupção indireta dentro do Congresso Nacional. Eles bloqueiam todas as emendas e, em cada votação, o governo chama os deputados e senadores e vai liberando as emendas em troca do compromisso do voto", afirma. "Se deixar tudo desbloqueado, o governo perde o cabresto sobre o Congresso."
Para Francischini, o corte no orçamento de ministérios como os da Saúde, Educação e Justiça (responsável pela segurança) diverge do discurso da presidente Dilma durante a campanha eleitoral. "Isso mostra que o PT é só marketing", diz ele. "Estamos esperando a ajuda da União para solucionar o problema das polícias dos estados. A PEC 300 [proposta de emenda constitucional que estabelece um piso nacional para policiais], prometida pela presidente na campanha, foi engavetada. E agora o governador Beto Richa, por exemplo, está tendo que negociar sozinho com os policiais", acrescenta o tucano, citando a ameaça de greve dos policiais paranaenses.
O senador Alvaro Dias, também do PSDB, acusa o governo de priorizar o pagamento dos funcionários comissionados a fazer concursos para as áreas da saúde, segurança e educação. "O governo federal não abre mão do modelo promíscuo de loteamento de cargos públicos. O governo não corta naquilo que deveria cortar; prefere tirar dinheiro da saúde", diz o senador.
Otimismo
Na contramão do discurso da oposição, os congressistas da base mostram otimismo de que as emendas serão liberadas ao longo do ano. O líder da bancada paranaense no Congresso, deputado Fernando Giacobo (PR), disse ser favorável aos cortes, já que eles buscam a manutenção da estabilidade da economia. "Isso [o contingenciamento] abala sempre, mas eu sou otimista. Acredito que ao longo do ano haja o descontingenciamento", diz ele. "A presidente sabe das medidas necessárias para manter a economia estável. Se for necessário cortar as emendas para garantir a estabilidade, tudo bem."
Para o deputado Alex Canziani (PTB), o governo está se precavendo diante de um cenário incerto sobre a crise mundial. "Essa crise pode se agravar. O governo está sendo precavido. Acredito que, se o quadro econômico mundial se mantiver estável ou melhorar, o governo vai executar o orçamento [e pagar as emendas]." Para o deputado Dr. Rosinha (PT), o corte não inviabiliza investimentos. "Ao longo do ano, o governo vai liberando as emendas conforme entram os recursos."
O deputado Osmar Serraglio (PMDB) afirma que o anúncio para conter gastos poderia servir para rever o valor das emendas parlamentares hoje de R$ 15 milhões por deputado e senador, no caso das individuais. "Isso é uma ficção. Em 1999, o valor era dez vezes menor", diz ele. Para o deputado federal Reinhold Stephanes (PSD), a reflexão deveria passar pelo enxugamento administrativo. "São cada vez mais ministérios sem função alguma, que só incham os gastos da máquina pública."
Esquerda tenta reconexão com trabalhador ao propor fim da escala 6×1
Jornada 6×1: o debate sobre o tema na política e nas redes sociais
PT apresenta novo “PL da Censura” para regular redes após crescimento da direita nas urnas
Janjapalooza terá apoio de estatais e “cachês simbólicos” devem somar R$ 900 mil
Deixe sua opinião