Justiça nega acareação entre Youssef e funcionário laranja
O juiz federal Sérgio Moro negou o pedido de acareação feito pelas defesas de Alberto Youssef e Leonardo Meirelles, apontado pela investigação da operação Lava Jato como testa de ferro do doleiro. A decisão, desta quarta-feira (29), diz que o procedimento é "normalmente infrutífero" e que no fundo não faria diferença para o andamento do processo no âmbito da Justiça Federal.
Em depoimento prestado à Justiça, Meirelles afirmou que o doleiro tinha ligação com o ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e também com outro tucano descrito como "padrinho político do passado" e "conterrâneo de Youssef", que é de Londrina.
O diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, afirmou nesta quarta-feira, 29, em depoimento à CPI mista da estatal, que "nunca ouviu falar" de um esquema de desvio de recursos da companhia petrolífera para atender a interesses de partidos políticos. Ele também disse desconhecer, nos 38 anos como funcionário da Petrobras, a existência de um esquema de pagamento de 3% de propina sobre contratos de um cartel de empreiteiras.
Cosenza disse que só conheceu Paulo Roberto Costa no momento em que foi convidado para ocupar a Gerência de Refino da estatal, em 2008. Costa, a quem sucedeu na Diretoria de Abastecimento em 2012, participou de um acordo de delação premiada no qual confessou ter feito parte de um esquema de desvio de recursos e pagamento de propina a políticos. O ex-diretor é investigado junto com o doleiro Alberto Youssef. Ambos são suspeitos de superfaturarem contratos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e repassar parte do dinheiro para mais de 30 políticos, além de três partidos: PT, PMDB e PP. As suspeitas desse caso são investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) no Paraná através da operação Lava Jato, deflagrada em março desse ano.
O diretor afirmou que jamais teve conhecimento de irregularidades na estatal nem acerto entre as empreiteiras para fraudar contratos na estatal, conforme admitiu Costa. "Nós temos várias comissões internas de averiguação, além disso, a Petrobras está muito próxima dos órgãos públicos, então não existe uma conclusão até o momento", afirmou.
Questionado pelo relator da CPI, deputado Rubens Bueno (PPS-PR), se sabia de "conluio" em contratos da Petrobras, Cosenza respondeu: "É o objetivo dessas comissões internas (de investigação da Petrobras), se tiver ocorrido, chegar a essas conclusões." O diretor comentou a reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em que é descrita que a Polícia Federal interceptou, no curso da Operação Lava Jato, uma troca de mensagens entre o doleiro Alberto Youssef e o deputado Luiz Ârgolo (SD-BA), em que ambos faziam menção a Cosenza. Segundo a matéria, os dois planejavam um encontro entre o atual diretor e Youssef. A matéria ressalva que a PF não imputa "atos ilícitos" a Cosenza, embora o nome dele conste do relatório da polícia feito para a operação.
Cosenza exalta sua gestão
O diretor salientou, no início de seu depoimento, que durante sua gestão no cargo a companhia petrolífera obteve resultados "bastante alvissareiros". Ele destacou que a entrada em operação de várias plantas melhoraram a qualidade do óleo e gasolina produzido, "com qualidade internacional".
O atual diretor disse que, em junho de 2008, assumiu a gerência executiva de Refino, uma das seis que estão sob o guarda-chuva da Diretoria de Abastecimento. Cosenza afirmou que, entre 2008 e 2014, foi reduzida a importação de derivados em 340 mil barris por dia. "Isso foi conseguido com pouquíssimo investimento", afirmou.
Cosenza disse que assumiu a Diretoria Executiva em junho de 2012. Ele sucedeu o ex-diretor Paulo Roberto Costa, que realizou um acordo de delação premiada. "Esse período de Diretoria de Abastecimento tem sido muito profícuo, na amplitude maior do que eu tinha como gerente de refino", afirmou ele, que tem 63 anos, dos quais 38 na empresa.
A fala de Cosenza à CPI estava marcada para a semana passada, dia 22, mas foi adiada depois de ele ter apresentado um atestado médico para não comparecer. A oposição quer saber se o esquema de corrupção e pagamento de propina confessado por Paulo Roberto Costa, que deixou a diretoria da Petrobras em 2012, continuou no atual mandato de Cosenza. Recentemente, após admitir ter cometido crimes, Costa homologou seu acordo de delação premiada com a Justiça Federal do Paraná, o que lhe permitiu deixar a prisão e cumprir pena em regime domiciliar.
Atual diretor admite conversas com Paulo Roberto
O atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, afirmou em depoimento à CPI que conversou com o ex-titular do cargo Paulo Roberto Costa por cinco vezes depois que Costa deixou a estatal, em 2012. Cosenza disse ter se reunido duas vezes com o ex-diretor e falado ao telefone em outras três ocasiões.
Cosenza disse que a primeira reunião ocorreu logo após ter assumido a Diretoria de Abastecimento, substituindo Costa. Segundo o atual diretor, a conversa girou em torno da "passagem de serviços". O segundo encontro ocorreu um tempo depois (Cosenza não precisou a data), para tratar de projetos de minirrefinarias. Ele negou que o ex-diretor tenha trazido as propostas pessoalmente. "Ele trouxe para a Petrobras, não para mim", afirmou.
Inicialmente, o diretor disse ao relator da CPI mista, deputado Marco Maia (PT-RS), não ter tido qualquer contato com Costa logo após ele ter deixado o cargo. Rubens Bueno ironizou a mudança de posição de Cosenza, que agora admite as conversas. "Ele foi alertado que está sob juramento", disse, ao lembrar que mentir em um depoimento numa CPI pode levá-lo a ser processado por crime de falso testemunho.
O atual diretor disse que nunca trocou e-mails com o ex-titular da área de abastecimento. Reafirmou que jamais se reuniu com o doleiro Alberto Youssef ou com o deputado Luiz Argôlo (SD-BA). "Deputado, me desculpe, eu nunca vi esta pessoa na minha frente (Luiz Argôlo), nem com o Alberto Youssef. Não tive com ele", respondeu Cosenza ao questionamento de Rubens Bueno.
O diretor disse que não conhece o atual tesoureiro do PT, João Vaccari. Há três semanas, Youssef e Costa prestaram depoimentos públicos à Justiça paranaense nos quais acusaram o tesoureiro do PT, João Vaccari, de ser o responsável por cobrar propinas de empreiteiras sob contratos da estatal. Em nota, Vaccari negou as acusações.
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