Indicado pelo PP, ex-diretor da Petrobras diz que, para se manter no cargo a partir de 2007, teve de abrir espaço para o PMDB no esquema. As duas siglas então “dividiram” obras.| Foto: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Em audiência na manhã da terça-feira (10) na sede da Justiça Federal em Curitiba, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa detalhou como ocorreu a transição da operação do pagamento de propina da estatal do PP para o PMDB. Ele afirmou que, a partir de 2007, o esquema na diretoria de Abastecimento da Petrobras, então coordenado pelo PP, teve que abrir espaço também para o PMDB para que Costa fosse mantido no cargo.

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“O PP abriu uma parte do que lhe competia para o PMDB, houve uma repartição de valores porque o PP não teria condição de me manter na diretoria”, afirmou Costa durante o interrogatório coordenado pelo juiz Sergio Moro. O ex-diretor da Petrobras disse ainda não saber de detalhes da negociação entre os partidos, mas afirmou que teve conhecimento do acordo por meio do ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010, e que operava o esquema até então.

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Conforme Costa, a mudança também teria ocorrido porque Janene estava tendo dificuldades em receber o porcentual dos contratos devido pela empreiteira Andrade Gutierrez. Assim, Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, começou a operar para os partidos, já que teria mais proximidade com a cúpula da empreiteira e, ao mesmo tempo, mantinha bom relacionamento com o PMDB.

“Tudo leva a crer que ele tinha uma relação mais que social com essas pessoas [do PMDB]”, disse o ex-diretor, que detalhou que, na época, Baiano afirmava participar de diversas reuniões com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). As declarações constam do depoimento de Paulo Roberto no processo que trata da suposta participação da Andrade Gutierrez no esquema investigado pela Operação Lava Jato.

Costa não soube confirmar, porém, se Baiano fazia repasses para ambas as legendas ou apenas para uma delas. O ex-diretor disse ainda que, conforme Baiano afirmou em acareação na semana passada, a negociação para a entrada do PMDB no esquema foi feita por intermédio do deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE). Teria ficado acertado que propinas provenientes de obras em andamento seriam destinadas ao PP e, dos novos contratos, ficariam com o PMDB.

Gomes e Calheiros são investigados da Lava Jato, mas negam qualquer participação no caso.

Contradições

Durante o depoimento, advogados de defesa de réus no processo envolvendo a Andrade Gutierrez apontaram várias supostas contradições entre a delação premiada e declarações firmadas pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa.

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Um dos questionamentos envolveu a suposta participação do ex-presidente da área de Engenharia da empreiteira, Paulo Dalmaso, no repasse de propina. Uma das advogadas relatou que Costa se contradisse entre os depoimentos prestados em regime de colaboração, na acareação ocorrida na semana passada com o operador Fernando Baiano, e no interrogatório desta terça-feira na Justiça Federal – nos dois primeiros, ele teria dito que nunca tratou de propinas com Dalmaso e, depois, teria voltado atrás.

“O senhor presta dois depoimentos dizendo a mesma coisa e vem para a interrogatório e diz outra”, alegou a defesa. Paulo Roberto esclareceu então que sabia que Dalmaso tinha participação no repasse de dinheiro porque sempre cobrava que o ex-presidente para que “honrasse com os compromissos” [pagamento de propina], mas que quem fazia a cobrança era Fernando Soares.