Em seu quarto depoimento a CPIs no Congresso, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, chamou de “hipocrisia” as doações de empresas a campanhas eleitorais e afirmou que o governo federal “arrebentou” com a estatal ao segurar o preço da gasolina.
Cerveró diz que Lula e Dilma o convidaram para Petrobras e nega ligação com o PMDB
Ex-diretor da área Internacional da Petrobras negou qualquer indicação política do PMDB e se disse ter uma ligação com o PT
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, afirmou, em depoimento à Justiça Federal na tarde desta terça-feira, que foi convidado para o cargo pelo então presidente Lula e a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Ele negou qualquer indicação política do PMDB e se disse mais próximo ao PT. Até o momento, os investigadores da força tarefa da Operação Lava Jato afirmam que o ex-diretor atuou como o braço do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras. É a primeira vez que Cerveró fala sobre como chegou a direção da estatal em 2003.
“Senhor Paulo Costa que foi ouvido no processo mencionou que ele assumiu a Diretoria de Abastecimento numa indicação política do Partido Progressista. Afirmou também que o senhor Renato Duque seria uma indicação política do Partido dos Trabalhadores e mencionou que o senhor seria uma indicação política do PMDB”, afirmou Moro sendo interrompido por Cerveró. “Não sou uma indicação política do PMDB”, retrucou.
Moro então questiona:
— O senhor pode me esclarecer como que o senhor assumiu o cargo de diretor?
“Eu assumi o cargo de diretor atendendo um convite do presidente Lula e da ministra Dilma de Minas e Energia”, afirmou ele dizendo que foi indicado pelo seu conhecimento acumulado na estatal.
O juiz voltou a questionar se o PMDB tinha ou não alguma influência política na sua escolha. Cerveró negou afirmando que havia uma ligação mais próxima ao Partido dos Trabalhadores.
Cerveró assumiu a direção da Petrobras em 2003 e ficou no cargo até março de 2008. O ex-diretor é acusado de ter recebido vantagem indevida de milhões de dólares para favorecer a contratação, em 2006 e em 2007, da empresa Samsung Heavy Industries Co para fornecimento de navios sondas de perfuração de águas profundas. Ele também é suspeito de ter lavado dinheiro com a compra de um apartamento em Ipanema e de um carro de luxo.
Costa fez críticas à “gestão política” da estatal e calculou que o “rombo” provocado ao segurar os preços dos combustíveis foi dez vezes o prejuízo causado pelo esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato.
“O maior problema da Petrobras, que arrebentou a Petrobras, é a defasagem dos preços dos derivados, que o governo segurou. O governo segurou o preço do diesel, o preço da gasolina, e esses valores possivelmente deram rombo de R$ 60, R$ 80 bilhões. Vamos imaginar que seja R$ 60 [bilhões]. A Lava Jato, com R$ 6 bilhões, dá 10% do rombo da Petrobras”.
Das quatro vezes em que esteve em CPIs, o depoimento desta terça-feira (5) à CPI da Petrobras na Câmara foi o que Costa mais falou. Isso porque toda sua delação premiada já veio a público, o que o permitiu se pronunciar sobre todos os assuntos que tratou junto ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal. A sessão da comissão começou por volta das 14h40 e ainda estava em andamento até as 20h desta terça.
Assim como já havia feito nas delações, Costa criticou as doações de empresas privadas às campanhas eleitorais. Disse que os empresários lhe relatavam que faziam as doações para receber algum retorno.
“Por que uma empresa vai doar R$ 20 milhões pra uma campanha se ela não tiver algum motivo na frente pra cobrar isso?”, declarou Costa.
Questionado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) se é favorável ao fim das doações privadas, o ex-diretor disse: “Eu acho que pra passar esse país a limpo, sim”.
Ainda perguntado por Valente, Costa confirmou os nomes dos políticos que denunciou em sua delação premiada, dando combustível a críticas do deputado ao fato de que até hoje a CPI não convocou nenhum desses políticos para prestarem depoimento.
Costa citou PP, PMDB e PT como os principais beneficiários, mas citou também o caso da propina ao então senador do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014, para enterrar uma CPI sobre a Petrobras.
PISCINA
Um dos momentos tensos foi quando o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) questionou a Costa sobre os motivos de ter aterrado uma piscina. O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo, que relatou suspeita da Polícia Federal de que a piscina serviu para esconder dinheiro.
O ex-diretor disse que o aterramento foi para solucionar um problema de vazamento de água da piscina e que sua esposa reclamava do valor da conta, mas chamou de “folclore” a suspeita da PF.
Marun respondeu que “folclore” era acreditar que ele não teria dinheiro para pagar a conta de água. Eles discutiram e Costa pediu “respeito”.
Em um desabafo no início da sessão, Costa se disse arrependido de ter participado do esquema e culpou os “maus políticos” como a origem da corrupção na estatal.
“Se essa contribuição [minha] não for profundamente avaliada em todos os níveis, talvez não tenha valido a pena esse sofrimento que eu estou tendo”, afirmou.
Na sessão, o deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS) anunciou ter entrado com um requerimento para convocar o ex-presidente Lula, para explicar as suspeitas de tráfico de influência junto ao BNDES, investigadas pelo Ministério Público Federal no Distrito Federal.
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