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Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró durante a acareação na CPMI da Petrobras | Jefferson Rudy / Agência Senado
Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró durante a acareação na CPMI da Petrobras| Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado

Costa nega que teve conversa em particular com Dilma

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou nesta terça-feira que não teve uma conversa "em particular" com a presidente Dilma Rousseff para falar sobre irregularidades dentro da estatal. Ele disse que jamais teve contato com ela ou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar das supostas denúncias sobre as quais disse nessa terça-feira (2) estar "enojado".

"Nunca tivemos uma reunião em particular com a presidente Dilma nem com o presidente Lula, por mim, não. Nunca pudemos conversar sobre esse tema de forma clara", disse Costa, durante acareação feita à CPI mista da Petrobras. Ele disse não ter revelado as irregularidades que o "enojavam" por considerar que era uma questão de "fundo pessoal meu", de "fundo íntimo".

O ex-diretor afirmou ter tentado colocar pequenas empresas para "quebrar" o cartel das grandes. "Mas não conseguimos", afirmou. Costa disse que chegou a conversar internamente na Petrobras, dentro do Conselho de Administração, das dificuldades para conseguir preços corretos. Ele exemplificou o caso da refinaria de Abreu e Lima, que, segundo ele, estava em uma contratação com o preço "exaustivamente alto".

CPMI suspende acareação para votar em plenário

O presidente em exercício da CPI mista da Petrobras, senador Gim Argello (PTB-DF), decidiu na tarde desta terça-feira suspender a acareação entre os ex-diretores Paulo Roberto Costa, de Abastecimento, e Nestor Cerveró, da Área Internacional, para que os parlamentares possam votar projetos nos plenários da Câmara e do Senado. A decisão de Gim foi resultado de protestos da oposição, que estava receosa com o encerramento "abrupto" da acareação.

Os oposicionistas estavam exaltados com a acareação, uma vez que desde a abertura da CPI, em maio deste ano, nunca tinham ouvido declarações tão contundentes como as de Paulo Roberto Costa. Ele disse que confirmava "tudo" o que foi relatado em delação premiada. Inicialmente, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que presidia a sessão antes de Gim, anunciou o encerramento da sessão por conta do início da chamada "ordem do dia" - o momento reservado para que os deputados e senadores votem matérias no plenário.

Logo após o anúncio de Faria de Sá, a oposição protestou. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou que a sessão não poderia ser encerrada de forma "abrupta". Invocando o regimento interno do Congresso, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse que as CPIs poderiam, sim, continuar a ouvir depoimentos, mesmo com o início da ordem do dia. "Isso foi feito por inúmeras CPMIs. Não estamos fazendo isso para o bem das nossas biografias, a eleição já passou. Isso aqui é um ato patriótico, não é uma comissão menor que tem que ser encerrada porque vai ter uma votação qualquer", defendeu Onyx Lorenzoni, ao lembrar que, na CPI dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão, a tradição era continuar os depoimentos mesmo com votações em plenário. Pressionado, Gim Argello, que voltou a presidir a comissão, decidiu suspender os trabalhos por 15 minutos.

Tinha que sair maior do que entrou, diz advogado de Costa sobre acareação

Advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, afirmou que o objetivo de seu cliente na sessão da CPI mista desta terça-feira (2) era "sair maior do que entrou"."Teve que falar, sem comprometer a delação. Por isso, falou o que podia falar: que estava arrependido, que ficou enojado em dado momento", justificou Mestieri.

O advogado havia anunciado publicamente durante o fim de semana que Costa ficaria em silencio durante a acareação com Nestor Cerveró, ex-diretor Internacional da companhia."Quando, durante a sessão, vimos que os parlamentares poderiam fazer acusações, criticá-lo, decidimos que ele deveria fazer aquela explanação", contou.

Costa recebeu elogios dos parlamentares por ter aceitado fazer a delação premiada, entregando nomes de participantes do esquema de corrupção na Petrobras, inclusive de políticos.

  • Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró comparecem à CPMI no Congresso para acareação
  • Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras
  • Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras
  • Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró durante a acareação na CPMI da Petrobras

A acareação entre os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras, que investiga denúncias de corrupção na petroleira, terminou por volta das 18h e os dois entraram em contradição. O primeiro assunto a ser colocado pelos parlamentares para esclarecimento entre os dois foi sobre o pagamento de propina no contrato da compra da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos. Na condição do diretor responsável, à época, pela compra da refinaria de Pasadena, Cerveró negou que tenha havido pagamento de propina nos contratos referentes a essa transação e em outros da Petrobras. "Eu desconhecia. Pelo fato de desconhecer, para mim não havia [pagamento de propina]", voltou a afirmar Cerveró. Em seguida, questionado sobre uma carta escrita por ele que propiciou a compra da refinaria, ele disse que não recebeu propina por isso. "Eu não recebi nada, eu fiz um procedimento normal. Eu não recebi nada por essa carta", disse.

Sobre o assunto, Paulo Roberto Costa se limitou a dizer que reitera o que já disse ao juiz Sérgio Moro, nos depoimentos que prestou em Curitiba dentro da operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF). Em setembro, o Jornal Nacional divulgou com exclusividade que Costa havia admitido ao juiz que recebeu, ele próprio, R$ 1,5 milhão de propina pelo contrato da refinaria de Pasadena.

No início da acareação, Costa foi o primeiro a falar e começou dizendo que tudo o que já disse nos depoimentos de delação tem comprovação. "Não tem nada da delação que eu falei que eu não confirme. Porque a delação é um instrumento extremamente sério, não pode ser usado de artifício, não pode ser mentira, de coisas que não possam depois se confirmar", disse. E completou: "Falei de fatos, falei de dados, falei de pessoas. Na época oportuna, essas pessoas serão conhecidas".

Paulo Roberto é apontado pela Polícia Federal como uma das pessoas no topo de uma organização que intermediava o pagamento de propina de empreiteiras a partidos políticos e agentes públicos para conseguir contratos com a Petrobras. Na condição de diretor de abastecimento da empresa, ele admitiu à Justiça – em depoimento aberto, fora da delação premiada – que era responsável por receber o dinheiro de propina que posteriormente seria repassado aos partidos PP, PT e PMDB.

No início de seu depoimento à CPMI, ele se disse arrependido do que fez e até mesmo de ter aceitado uma indicação política para chegar ao cargo de diretor da Petrobras. Segundo ele, foi essa indicação que o levou à condição de réu atualmente. "Mas em todos os governos, desde o governo Sarney, o governo Collor, o governo Itamar, o governo Fernando Henrique, o governo Lula e o governo Dilma, em todos os governos só se chega ao cargo de diretor da Petrobras se tiver um indicação política. E eu aceitei essa indicação, da qual me arrependo amargamente, porque agora estou aqui", disse. Costa disse ainda que o mesmo esquema que acontece na Petrobras se repete em todos os outros contratos públicos do país, incluindo ferrovias, portos, aeroportos, entre outros.

Logo em seguida, foi a vez de Cerveró falar. Ele contou que sua defesa está sendo paga pela Petrobras por meio de um seguro que é feito pela companhia para custear a defesa de seus funcionários em processos que estejam relacionados à gestão. "Esse seguro só cobre a defesa. No caso de condenação ou dolo comprovado o seguro tem que ser ressarcido pelo responsável", esclareceu em seguida.

Nestor Cerveró começou a acareação comunicando aos parlamentares que não irá responder perguntas formuladas com base em vazamento de informações do processo à imprensa. "Não vou responder a perguntas que sejam extraídas de possíveis vazamentos ou ilações da mídia. Não vou responder perguntas que eu desconheço e que os senhores também desconhecem", disse.

CPMI

Os parlamentares convocaram a sessão para esclarecer as divergências em depoimentos anteriores feitos pelos executivos. Quando depôs à Polícia Federal, Costa, que era diretor de Abastecimento, teria dito que Cerveró, então diretor da Área Internacional, recebeu propinas em contratos da Petrobras. No dia 10 de setembro, durante esclarecimentos na CPI, Cerveró negou que teria se beneficiado em contratos da estatal.

As irregularidades que estão sendo investigadas pela Polícia Federal na Petrobras, através da operação Lava Jato, acontecem em outras áreas do Brasil, como portos, aeroportos, rodovias e hidrelétricas, afirmou logo no início da acareação o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Segundo Costa, desde o governo de José Sarney diretores da petroleira somente assumiram cargos de direção por influência política. Apesar de não ter dado detalhes de seu depoimento à Justiça, ele disse à CPMI que confirma as suas denúncias.

Apesar de não ter dado detalhes de seu depoimento à Justiça, ele disse à CPMI que confirma as suas denúncias. "Não tem nada na delação que eu falei que eu não confirme", afirmou o ex-diretor. Costa ressaltou que entrou na Petrobras em 1977 e assumiu a diretoria de Abastecimento 27 anos depois, e que em todas as posições anteriores, assumiu sem necessidade de apoio político. Costa frisou se arrepender "amargamente" por ter aceitado o cargo e que tudo que está acontecendo faz sua família sofrer. "Infelizmente aceitei uma indicação política para assumir a diretoria de Abastecimento, infelizmente, estou extremamente arrependido de ter feito isso", afirmou. "Aceitei esse cargo e esse cargo me deixou e nos deixou aqui onde estou hoje."

Cerveró nega

O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró rebateu Paulo Roberto Costa e negou que tenha recebido propina para aprovar a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Durante acareação à CPI mista da Petrobras, Cerveró reafirmou o que havia dito em setembro à própria comissão: que desconhecia se havia um esquema ilícito para a aquisição da refinaria. "Desconheço, e também desconheço qualquer esquema de propina", afirmou Cerveró, ao ressaltar que, se Paulo Roberto Costa disse isso, está mentindo. Ele disse que a avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU) de que o prejuízo para a Petrobras com o negócio chegou a US$ 792 milhões é errada e que isso é "inexistente".

Sentado na frente de Cerveró e confrontado com as declarações, Paulo Roberto disse simplesmente que reafirmava o que havia dito na delação premiada. "O que eu disse para o juiz Sérgio Moro, eu confirmo", afirmou.

Base tenta blindar Dilma durante acareação

Parlamentares da base tentaram, sem sucesso, blindar a presidente Dilma Rousseff (PT) durante a acareação entre os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na CPI mista da Petrobras. Quando o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) perguntou a Cerveró sobre a responsabilidade de Dilma na compra da refinaria Pasadena, nos Estados Unidos, o deputado Sibá Machado (PT-AC) interrompeu a resposta do ex-diretor pedindo uma questão de ordem e afirmando que os líderes inscritos não poderiam fazer perguntas durante a sessão.

A reação gerou um pequeno tumulto, mas, por fim, Cerveró conseguiu responder à pergunta. O ex-diretor voltou a afirmar que fazia parte das responsabilidades do Conselho de Administração da Petrobras, na época presidido por Dilma, autorizar a compra da refinaria.

Em seguida, sem interromper o debate, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) pediu a palavra e também argumentou que, de acordo com o regimento, líderes não poderiam fazer perguntas aos ex-diretores. Essa prerrogativa caberia somente aos membros da CPI. O senador Gim Argello (PTB-DF), que presidiu a sessão da CPI desta terça, reconheceu o erro da mesa, mas disse que o equívoco foi levado adiante pela importância de que os ex-diretores falassem sobre o assunto.

Acareação na CPMI

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