Favorito para o Ministério da Saúde no troca-troca de cadeiras da presidente Dilma Rousseff para escapar do impeachment, o deputado federal Ricardo Barros (PP) desconversa sobre o assunto com outro compromisso. “Minha agenda para o dia 2 de junho é no Paraná, assumir a Secretaria de Planejamento.” A explicação reforça o traço que marca a trajetória política do maringaense ao longo das duas últimas décadas – a onipresença.
Barros trafega pelos corredores do poder de Brasília e Curitiba com a mesma desenvoltura, imune à briga de torcida entre petistas e tucanos. Foi vice-líder na Câmara dos Deputados dos últimos três presidentes – Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula e Dilma (ambos do PT).
No Paraná, secretário de Indústria e Comércio no primeiro mandato de Beto Richa (PSDB) e, no segundo, emplacou a mulher Cida Borghetti (PP) como vice-governadora.
Que habilidade permite a Barros se equilibrar entre uma canoa petista e outra tucana? “Não é nem que ele é bom de bastidor, a questão é que entende de orçamento como poucos”, relata um colega da bancada federal paranaense. O deputado é membro de carteirinha da Comissão Mista de Orçamento desde os anos 1990, relator-geral do Orçamento da União de 2016 e tem até livro sobre o assunto – De Olho no Dinheiro do Brasil, publicado em 2007.
Conhecer os atalhos de um tema árido como a peça orçamentária é uma ponte fundamental para ligar os interesses entre um governo em busca de votos no Congresso e deputados atrás de dinheiro para suas bases eleitorais (ainda mais em tempos de impeachment).
Brasil sofre epidemia de intolerância
Leia a matéria completaBarros sabe disso e costuma se vangloriar dos recursos federais que levantou, por exemplo, para o Contorno de Maringá – empreendimento de R$ 412 milhões, erguido entre 2008 e 2014. “Ouvi demandas de quase todos os colegas para fazer o orçamento deste ano. Não vou negar que isso ‘cacifaria’ o governo neste momento.”
Sobre aceitar o ministério, Barros entrou no fim de semana com a versão de que nem foi procurado para tratar do assunto. E que qualquer decisão só ocorreria após a direção nacional do partido se posicionar sobre o impeachment. Deixou escapar, no entanto, que o PP continuará na base aliada de qualquer governo que existir ao fim do processo – seja com o PT de Dilma ou com o PMDB de Michel Temer.
Um outro deputado paranaense próximo a Barros aposta que, se o convite realmente existir, o maringaense vai aceitar. “Ele é tão esperto que aceita a oferta e, mesmo se a Dilma cair, mexe os pauzinhos para continuar no governo Temer.”
Marido da Cida
Se tiver vida longa na Esplanada, Barros deve conviver, como ministro, com a mulher Cida Borghetti no Palácio Iguaçu – ela assume o cargo em 2018, caso Richa se desincompatibilize do governo para concorrer ao Senado. Num cenário ainda mais otimista, seria, além de marido de governadora, pai e irmão de prefeitos de duas das cidades mais importantes do estado.
A deputada estadual Maria Victoria (PP) é pré-candidata à prefeitura de Curitiba. O atual secretário do Planejamento, Silvio Barros, vai concorrer em Maringá. Na negociação com Richa, Ricardo assume a vaga do irmão a partir de 2 de junho, quando Silvio precisa se desincompatibilizar do cargo para disputar a eleição.
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