Preocupado com o “fogo amigo” de aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB) desde que passou a ser apontado como possível candidato à Presidência da República em 2018, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), vai agir para evitar a “contaminação” da relação com o padrinho político.
Após determinar uma “lei do silêncio” entre seus auxiliares sobre as eleições do ano que vem, o prefeito intensificará as agendas conjuntas entre as duas administrações.
Com o objetivo de demonstrar que prefeito e governador continuam próximos e afinados, secretários estaduais e municipais vão inaugurar, na segunda-feira, duas parcerias simultâneas: a retomada do projeto Córrego Limpo, de despoluição, e o programa Redenção, na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.
O ponto alto, porém, será uma reunião no dia 10, quando a gestão Doria completa 100 dias, com a presença do prefeito, governador e todos os secretários municipais e estaduais. Amanhã, Doria, Alckmin e o presidente Michel Temer jantarão no Palácio dos Bandeirantes com a rainha Sílvia, da Suécia.
Interlocutores do prefeito reconhecem que o hábito de Doria de nacionalizar o discurso e as especulações sobre uma aproximação com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) geraram “desconforto” na relação. Em caráter reservado, Alckmin diz confiar na lealdade de Doria, mas aliados do governador com trânsito no Palácio dos Bandeirantes já não escondem a preocupação com os movimentos do prefeito.
“Se Doria se aliar com Aécio para ser candidato à Presidência será uma traição. Sem o governador Geraldo Alckmin ele jamais teria sido eleito prefeito”, disse o deputado estadual Campos Machado, presidente estadual do PTB e secretário nacional da legenda.
Ele, que já declarou apoio do seu partido a uma eventual candidatura Alckmin, pretende marcar uma audiência com o governador para levar a preocupação com os movimentos políticos do prefeito. “Ninguém entraria na aventura de apoiar Doria sem o apoio do Geraldo Alckmin”, conclui Machado.
Secretário-geral do PSDB nacional e aliado do governador, o deputado federal Silvio Torres descarta a hipótese de os tucanos se alinharem a uma eventual candidatura Doria. “Não existe nenhum movimento no PSDB para lançar Doria presidente. É prematuro colocar o prefeito à frente de todo o planejamento partidário.”
Para o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP), que é alinhado com o governador, há um movimento para dividir o grupo deles. “Existe um jogo de fora para dentro, uma tentativa de dividir Alckmin e Doria. Quem apostar nisso vai quebrar a cara.”
Outra tese. Há ainda uma terceira tese circulando entre tucanos: o jogo entre Doria e Alckmin seria combinado, por enquanto. A ideia seria projetar Doria como uma alternativa segura em São Paulo para Alckmin sair candidato a presidente e o PSDB manter o governo do Estado.
Nesse cenário, a ideia de o PSDB apoiar o vice-governador Márcio França (PSB) ou o senador José Serra (PSDB) para o Bandeirantes em 2018 perderia força diante da popularidade do prefeito. Alckmin disse a pelo menos dois aliados que Doria sofreria menos resistência dos eleitores se deixasse a Prefeitura para disputar a eleição estadual.
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