Brasília (Folhapress) Rejeitando acordo proposto pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, a CPI dos Correios marcou para a próxima terça-feira o depoimento de sua mulher, Renilda Santiago Fernandes de Souza, e para a semana seguinte o de Simone Vasconcelos, diretora financeira de uma de suas empresas.
O advogado de Valério, Marcelo Leonardo, chegou a propor ao presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que seu cliente daria informações sobre as operações financeiras realizadas com o PT e, em troca, seria abandonada a idéia de convocação de Renilda e Simone.
A preocupação do publicitário é que as duas mulheres não agüentem a pressão dos parlamentares e revelem detalhes do esquema. De acordo com integrantes da CPI, o estado emocional das duas não é bom desde que o envolvimento de Valério surgiu.
As duas principais agências de publicidade de Valério a SMP&B e a DNA estão no nome de Renilda. Já Simone é a responsável pelo maior volume de saques, cerca de R$ 6 milhões, das contas de Valério. Caberia a ela a distribuição de dinheiro a parlamentares e a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Marcos Valério é acusado de lavar dinheiro para um suposto caixa 2 do PT. Esse dinheiro também seria usado para pagar o mensalão (mesada a parlamentares da base aliada, para votarem de acordo com o interesse do governo). O publicitário já prestou depoimento à comissão parlamentar de inquérito mas não colaborou com as investigações e chegou a mentir para os parlamentares.
Ontem Delcídio expôs aos integrantes da CPI, em sessão realizada a portas fechadas, o acordo proposto pelo publicitário. "O acordo com Marcos Valério foi rechaçado porque seria interpretado como algo espúrio. Também não teríamos certeza de que seria cumprido. Ele contaria apenas 10% a mais do que já disse", afirmou o senador Jefferson Péres (PDT-AM).
Parlamentares da oposição também apostam na pressão causada pelo agendamento dos depoimentos das duas.
Para eles, Marcos Valério pode fornecer mais informações nos próximos dias, na iminência do depoimento de Renilda.
A comissão também vai ouvir, na primeira semana de agosto, o policial civil David Rodrigues Alves, que aparece sacando R$ 5 milhões das contas da DNA Propaganda e da SMP&B Comunicação na agência do Banco Rural, em Belo Horizonte.
Delcídio e o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), devem se encontrar hoje com o presidente do STF, Nelson Jobim, para pegar esse inquérito. Eles também estão sendo pressionados por membros da comissão para falarem com Jobim sobre a concessão de habeas-corpus para os convocados, o que permite que eles não respondam às perguntas.
Serraglio, no entanto, afirma que isso seria inócuo, já que haveria coerência na fundamentação dos habeas-corpus.
"A partir do momento que quebramos os sigilos bancário, fiscal e telefônicos dos convocados eles vêm depor automaticamente na condição de investigados, então, mesmo sem habeas-corpus, eles não podem ser obrigados a assinar termo de compromisso para falar a verdade, porque não são testemunhas", disse o relator.
A CPI aprovou ainda a formação de uma comissão de sindicância para apurar o sumiço de documentos sigilosos, que apareceram depois na imprensa.
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