O juiz federal Sergio Moro autorizou, nesta sexta-feira (24), que sessões da CPI da Petrobras sejam realizadas em Curitiba para ouvir presos da Operação Lava Jato que estão na capital paranaense –11 parlamentares que integram a comissão vieram à cidade especialmente para obter a liberação.
Deputado diz que deixa CPI se provarem que ele recebeu doações ilegais
Em visita a Curitiba junto com a comitiva da CPI da Petrobras, o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou que não vê problemas em investigar a corrupção na estatal e, ao mesmo tempo, ter recebido R$ 380 mil de empresas investigas na operação em sua última campanha eleitoral. “Eu quero ouvir os empreiteiros justamente para saber se as doações foram de recursos lícitos ou ilícitos. Se houver algum constrangimento, sou o primeiro a sair da CPI”, disse. Em seguida, o deputado afirmou que outros membros da comissão, incluindo o presidente Hugo Motta (PMDB-PB), também receberam recursos das empreiteiras. “Quero ver se eles estão dispostos a fazer a mesma coisa que eu”, provocou. Segundo levantamento da revista Exame, 13 dos 27 integrantes originais da CPI da Petrobras receberam doações de empresas investigadas na Lava Jato. Delgado recebeu doações da Andrade Gutierrez (R$ 200 mil), Queiroz Galvão (R$ 100 mil) e Odebrechet (R$ 80 mil).
Os presos devem ser ouvidos na primeira quinzena de maio, provavelmente na Assembleia Legislativa do Paraná. O local será definido na próxima semana. As sessões devem ser abertas para a imprensa, mas os deputados ainda não definiram como se dará a transmissão ao vivo.
A comissão ouvirá pelo menos 19 presos da operação encarcerados no Paraná. Novos requerimentos devem ser apresentados nos próximos dias para ouvir quem foi preso recentemente, como do ex-deputado André Vargas (ex-PT).
Segundo o vice-presidente da CPI, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), as sessões em Curitiba devem ser concentradas em apenas três ou quatro dias, o que resultaria em pelo menos quatro depoimentos diferentes por dia. Atualmente, cada depoimento realizado na Câmara Federal dura em torno de oito horas.
Outro integrante da CPI, o deputado federal Ivan Valente (PSol-SP) reclamou da opção da maioria da comissão de fazer os depoimentos em Curitiba. “Tem uma divergência que ainda teremos que conversar. É que a maioria quer assim, e o [presidente da Câmara] Eduardo Cunha também quer”, afirmou.
Valente afirmou também que o trabalho da CPI seria mais eficiente se ocorresse após a próxima leva de depoimentos que serão prestados à Justiça Federal, que deve ocorrer até dia 11 de maio. Ele pretende negociar a mudança com os demais integrantes.
Blindagem
A opção por fazer depoimentos em Curitiba desagradou também a oposição, que vê uma tentativa de blindar parlamentares do PMDB. Segundo a Gazeta do Povo apurou, integrantes do PMDB estão preocupados porque os depoimentos englobam duas peças-chave que podem implicar o partido com os desvios da Petrobras.
Preso em Curitiba, Fernando Soares, o Fernando Baiano, é apontado como o operador dos pagamentos de propina a parlamentares do partido. E o ex-diretor da área de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, segundo as investigações, atuaria como representante do PMDB.
Pelo menos 10 peemedebistas estão sendo investigados na Lava Jato, incluindo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.
A expectativa é que os depoimentos em Curitiba tenham menos repercussão que os de Brasília.
Para Imbassahy, a opção pela vinda da comissão ao Paraná é porque isso seria menos trabalhoso do que a transferência dos detentos para a capital federal. “O translado de cada preso é uma logística muito complicada, precisa de aeronave, escolta. Entendemos que a vinda para cá seria mais eficiente. Se fizer na ponta do lápis e no desempenho do trabalho, ganhamos em agilidade”, disse. “Se fôssemos levar todos para Brasília, iria demorar seis meses”, completou o deputado Julio Delgado (PSB-MG).
Atualmente, um ato interno da Câmara proíbe que detentos sejam levados para as dependências da Casa. O ato, porém, foi suspenso temporariamente em março, para que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que seria ligado ao PT, pudesse ser ouvido. Duque permaneceu em silêncio.
Delações
Os deputados também solicitaram informações que estavam sob sigilo para Moro, que acatou o pedido. Não houve detalhamento sobre quais documentos estão em posse da CPI, mas Imbassahy afirma que foi respeitado o sigilo de alguns dados que poderiam “prejudicar as investigações”. O principal objetivo dos deputados era obter a íntegra das delações premiadas.
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